Vidas Passadas
Na semana passada fui ao cinema ver o filme Vidas Passadas que está nomeado para os Óscares na categoria de melhor filme. Sem muito perceber desta sétima arte, e sem querer revelar muito da história a quem não a viu, queria só deixar aqui registada a minha (humilde) opinião.
O filme foca-se, essencialmente, no reencontro de um amor de criança anos mais tarde numa diferente cidade. Bem sei, isto podia ser o resumo de outros mil filmes de amor, mas este consegue distinguir-se de todas as comédias românticas (que tanto gosto de ver, como já partilhei em diversas ocasiões) por vários motivos.
Vidas passadas não é um filme previsível, com final feliz e uma mensagem de esperança típica de um amor que vem e salva tudo. É, sem dúvida, uma história de amor: mas uma história que mostra um amor cru e vulnerável. Em vez do cliché há realidade, em vez do melodrama há humanidade e isso deixa-nos presos ao ecrã por razões diferentes daquelas a que, se calhar, estamos habituados. De facto, trata-se de um filme em que todas as cenas são bastante calmas e onde não existem as típicas discussões de tremer a terra, dramas e desafios agitados a que nos acostumaram os filmes mais comerciais. Aqui, as cenas são calmas e tranquilas, mas isso nunca põe em causa a intensidade e rapidez da ação e dos sentimentos.
A par do amor desenvolve-se um outro tema mais profundo: uma questão de identidade entre as duas nacionalidades da personagem principal, e a realização de que teria vivido vidas muito diferentes se agisse com base em cada uma delas.
Do pouco que percebo, achei que a realização do filme estava genial: com cortes e posições de câmara muito bem conseguidos para acentuar algumas ideias e figurantes em 2º plano que não tendo uma história própria dão mais vida ao enredo principal.
É um filme simples, no melhor sentido que podemos atribuir à palavra. Não tem reviravoltas, grandes gestos românticos nem acidentes do destino. Há muitos silêncios e diálogos que ficam a meio, e mesmo assim a história conseguiu acertar em cheio. Gira um pouco à volta da possibilidade do e se...? e responde a essa questão com uma maturidade e complexidade muito bonita de se ver.
A cena final está carregada de uma verdade, sensibilidade e delicadeza enorme, deixando-nos a pensar que não poderia haver outro final que não aquele.
Não foi, de todo, difícil perceber como e porque é que Vidas Passadas está agora nomeado para um Óscar. Mas vejam o filme e tirem as vossas conclusões ;)
M