Viajar no Tempo
Quando pensamos em viajar no tempo, se calhar imaginamos uma grande máquina ou um robô que fala e gira, mas se pensarmos melhor vemos que há outras (e mais simples) maneiras de regressar ao passado.
A papinha de fruta que como faz-me voltar aos domingos em que ia à piscina com os meus pais. Um cheiro específico leva-me para um tempo que já não volta mais. A massa de frango que cozinho tenta copiar a que faziam para mim há uns anos. E o vislumbre de um rosto de um desconhecido na rua faz-me pensar em quem já não faz parte do meu quotidiano.
A memória é uma coisa engraçada de tentar perceber. Guarda certos momentos em caixinhas bem escondidas e quando achamos que a chave desse cofre já está perdida, passa pelo nosso ouvido um determinado som e voltamos a um sítio que não nos lembrávamos de existir. Um cheiro que aparece inesperadamente transporta-nos a um passado que já ficou bem lá atrás e um simples toque pode despoletar memórias que jurávamos ter esquecido.
Acho que é, também, possível viajar para o futuro da mesma maneira. Que quando o coração está tão feliz como o sorriso que trazemos na cara, estamos a projetar o que se vai repetir num amanhã que há de chegar. Que um olá como estás? que dizemos hoje abre portas para uma relação que vai perdurar pelos tempos que vêm. Que os momentos alegres que vivemos agora transportam-se para o futuro em forma de memória, e que a pergunta que fazemos com medo abre-nos portas para um sítio onde nunca pensamos que íamos conseguir chegar.
Viajar no tempo é mais fácil do que parece, afinal. Só não podemos correr o risco de nos perdermos em tanta viagem e esquecer de viver o que é verdadeiramente mais importante: o agora.
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