Sair da ilha
Já várias vezes dei por mim afastada da rotina habitual e dos locais habituais a perceber que essa distância põe realmente tudo em perspetiva. Consigo pensar com mais clareza, e tudo parece mais compreensível com uma certa distância - e estou-me mesmo a referir a distância física.
Sair do que é o habitual, a rotina e o comum, e ir para um sítio diferente ganhar uma nova perspetiva do que já começa a ser mais do mesmo.
Quando estamos a viver a nossa vida num dia-a-dia frenético, perdemos tempo com pormenores e detalhes que nada importam, e esquecemo-nos que, por vezes, precisamos mesmo de ver a vida com um plano mais geral. Fazer um zoom out - o oposto de ampliar.
E é aqui que a distância pode ajudar: afastamo-nos e ganhamos um novo ponto de vista. Vemos as coisas com mais clareza, e o que parecia difícil assume uma simplicidade que ainda não tínhamos encontrado. Percebemos o que queremos mudar e o que gostávamos de fazer mais. E ganhamos vontade de cumprir com isso.
Voltamos da distância a sentir-nos renovados. Com novas ideias, novas vontades e mais ambições. Novas energias, outros sonhos e planos concretos. (Ou, então, com a mesma vontade e desejo. Mas uma certeza renovada de que é isso mesmo que queremos.)
É necessário sair da ilha para ver a ilha, não nos vemos se não saímos de nós.
José Saramago
Quando foi a última vez que apanharam um barco?
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