Quando o coração doer
Quando o coração doer, vou deixar que doa sem que se torne insuportável. Vou sair à rua e apanhar sol, sentir o ar na cara e lembrar-me de como é boa a Primavera. Vou sorrir no meio das lágrimas e quem sabe até chorar de tanto rir.
Quando o coração doer, vou lembrar-me de todos os motivos que tenho para estar grato, vou deixar-me abraçar e vou aos sítios que me trazem um sorriso. Vou de encontro às pessoas que são casa e que não me exigem que pare de sentir a dor.
Quando o coração doer, vou pensar em todas as outras vezes em que já doeu assim e de como um dia mais tarde acordei sem qualquer dor. Vou conversar com quem me ouve e ouvir com quem falo.
Quando o coração doer, vou dizer a mim próprio que está tudo bem em estar tudo mal, e que há tempestades nas florestas mais bonitas. Vou encher-me de metáforas para me agarrar à superfície e vou encontrar beleza na flor mais pequenina que vir na rua, só para perceber que tudo passa. Vou ver o mar e perceber que tudo é tão grande e aquele momento é tão pequenino.
Quando o coração doer, não vou parar de acreditar que a vida pode na mesma ser bela. Não vou pensar que é tudo mau, mas vou-me deixar viver aquele mau agora.
Quando o coração doer vou dizer em voz alta para conseguir ouvir: a vida não acaba quando o coração dói. A vida continua quando o coração dói.
E mesmo quando o coração doer, vou convencer-me que a vida continua a ser bonita.
M