Plano B
Podemos distinguir as coisas que acontecem entre as coisas que nos acontecem, as coisas que acontecem para nós e as coisas que fazemos acontecer. As duas primeiras são aquelas coisas que acontecem por motivos e forças exteriores à nossa vontade: a diferença é que as coisas que nos acontecem nos deixam a sentir uma espécie de vítima do Universo, revoltadas porque não se passou nada da maneira que queríamos. Por outro lado, as coisas que acontecem para nós são aquelas que, apesar de serem contra o que pretendíamos, acabam por se revelar coisas que deviam mesmo ter acontecido, e que só nos acrescentam à vida.
No início deste Verão aconteceu-me uma coisa. Admito que, durante muito tempo, não deixei que essa coisa se tornasse numa daquelas que acontece para mim - isto é, não me permiti ver todo o potencial escondido por detrás disso que não queria que tivesse acontecido.
Mas isto foi mudando: um dia de cada vez, e bocadinho a bocadinho. Quando dei por mim, isso que me tinha acontecido, tornou-se numa coisa que aconteceu para mim, e comecei a aproveitar as possibilidades que não pensava que iria ter.
(Esta não é, de todo, uma maneira de romantizar as coisas não acontecerem da maneira que eu queria. Fiquei chateada e até triste, mas também sei que nem tudo vai ser sempre como eu gostaria ou acharia melhor.)
Então, decidi que este ia ser o Verão das aprendizagens (e não daquelas coisas que aprendemos à força!). O Verão em que tinha tempo para fazer o que sempre disse que gostava de fazer, o Verão em que podia sair dos rótulos que me coloquei (e criei o meu jardim), e o Verão em que podia mesmo ser a pessoa que digo querer ser.
E assim foi.
Aprendi a bordar e a fazer croché, e treinei a paciência como nunca achei que fosse possível. Fui má à primeira tentativa - e à segunda e à terceira também. Mas aprendi que é mesmo verdade o que digo sobre mim: sou uma rapariga persistente. Começava a aprender e ficava frustada por demorar mais que uma hora a "apanhar-lhe o jeito", mas continuei a treinar e pus em prática o ditado que diz que a prática leva à perfeição. (A perfeição acho que não atingi - mas agora posso dizer que a prática leva à execução mediana). Pus a minha paciência à prova com tanta agulha e linha e ponto feito e desfeito - e fiquei surpeendida com o resultado.
(Acho que eventualmente vou ter que parar de dizer que sou impaciente para tudo e para nada.)
Aprendi, gradualmente, a conseguir lidar com o não ter nada para fazer - e a estar bem com isso. A olhar para uma lista de tarefas diárias que, afinal, não existe, e a permitir-me passar o dia sem horários ou compromissos. Parar de olhar para o tempo com nada para fazer, e passar a reparar no tempo com possibilidades de tudo fazer (se assim o entender).
Aprendi que posso mesmo fazer as coisas que quero fazer até quando não tenho companhia para as fazer. (E aprendi que não há mal em não ter essa companhia - apesar de, claro, às vezes fazer falta.)
Também aprendi que ser corajosa não implica necessariamente saltar de um avião - pode ser tão simples como simplesmente ir fazer o que sempre quisemos fazer. Ou até ir ser quem sempre quisemos ser.
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