Pequenas Saudades
Quando voltei de ERASMUS já tinha, admito, algumas pequenas saudades acumuladas, como brincar com o meu cão, pintar quadros, a minha confortável almofada, comer sopa e picanha.
Muitas destas saudades eram relacionadas com um dos maiores prazeres da vida: a comida. A minha casa em Liubliana não estava equipada com microondas nem forno, então tive de "aprender" (ou melhor, habituar-me) a não só cozinhar como também aquecer tudo no fogão. A pior parte era o arroz, que insistia em ficar frito depois de poucos minutos na frigideira.
Os meus hábitos de alimentação e a oferta reduzida de alimentos no país (porque sim, a culpa não podia ser só minha) resultaram num leque muito restrito de refeições que eu fazia. Tinha saudades de rissóis e croquetes, de um bom croissant (que não se encontra nenhum melhor sem ser no Porto) e principalmente de uma deliciosa lasanha caseira (a minha comida preferida). Durante a semana que estive no Porto nas férias de Natal matei saudades disto tudo, então o mês de janeiro custou menos ao nível gastronómico.
Para além da comida, tinha saudades de uns pequenos detalhes da minha casa: comer com guardanapos de pano e uma toalha de mesa, ter um micro-ondas e um forno que aumentam exponencialmente o número possível de refeições e poder andar descalça (ou de meias, que está frio) e saber que não ia acumular imenso pó nos pés.
Comecei também a sentir saudades de coisas mais estranhas, como a minha cozinha ou a minha casa de banho. Como assim alguém tem saudades de uma cozinha?! E eu, sendo sincera, não gosto assim tanto da minha cozinha. Mas é a minha, e é confortável.
Para dizer a verdade, não gostei desta versão de mim com estas mini-saudades. É uma perspetiva tão materialista da vida (!) e não é assim que quero ser. Em ERASMUS, como o espaço nas malas era limitado levei pouquíssimos objetos pessoais e descobri que, afinal, não preciso de nem um décimo da tralha que tenho no meu quarto. Sentir estas pequenas saudades ao mesmo tempo que me apercebi que preciso de pouca coisa para estar bem e confortável é, vamos admitir, um bocadinho contraditório.
(A par destas pequenas saudades tinha também, claro, algumas grandes saudades. Apesar dos telemóveis diminuírem as distâncias nada se compara ao contacto físico e à presença na vida real.)
Já estou em Portugal há umas semanas e já tive tempo para matar estas saudades. Já cozinhei lasanha e tudo o resto que o meu estômago quase que chorava por. Já brinquei com o meu cão e acho que ele já se habitou à minha presença constante. Já regressei às colagens e aos passeios pela loja dos chineses. Já me choquei com o aumento dos preços dos croissants e continuei a comê-los com o mesmo gosto. Já já já...
Agora - e como era de esperar - tenho algumas pequenas saudades da minha vida lá.
Nem seria eu se não fosse desta maneira.
M