Os ensinamentos do Poeta Panteísta
Alberto Caeiro é o poeta panteísta do mundo das pessoas de Pessoa. Apresenta-nos a Natureza não só como cenário dos seus poemas mas também como local de encontro e comunhão com Deus. Deus é e Deus está na Natureza. Tão simples e tão direto quanto isto.
Mas se Deus é as flores e as árvores, e os montes e sol e o luar, então acredito nele, então acredito nele a toda a hora, e a minha vida é toda uma oração e uma missa, e uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos
E que melhor forma de O ver ou de O sentir do que através dos sentidos? Os seus poemas vêm-nos mostrar precisamente isto: através do recurso ao sensacionismo, Caeiro enche os seus poemas de cenários tranquilos, onde as coisas são apenas o que se vê. Diz que não tem filosofia, tem sentidos, e o sentido da visão assume uma especial importância. Na sua opinião, o essencial é saber ver, saber ver sem estar a pensar, saber ver quando se vê e nem pensar quando se vê, nem ver quando se pensa.
Um outro aspeto interessante na sua poesia - e que pode bem servir de lição para a vida fora dos livros - é a recusa do pensamento abstrato. Acredita que as coisas são apenas o que são, não o que queremos que elas sejam: o que nos vemos das coisas são as coisas, porque veríamos nós uma coisa se houvesse outra?
Caeiro desencoraja-nos de tentar encontrar significados ocultos, na busca incessante por respostas a perguntas que era melhor não as termos: às vezes ponho-me a olhar para uma pedra, não me ponho a pensar se ela sente, não me perco a chamar-lhe minha irmã. Mas gosto dela por ela ser uma pedra, gosto dela porque ela não sente nada, Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.
Diz que pensar é estar doente dos olhos e que pensar não é compreender. Ao anular o pensamento metafísico resolve a dor de pensar que afeta os poemas de Pessoa - tão simples assim, certo?
Mostra-nos que os prazeres mais pequeninos da vida são os que a fazem valer a pena ser vivida: outras vezes oiço passar o vento, e acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.
Alberto Caeiro convida-nos a parar, olhar à volta e apreciar a paisagem. Sem intenções de metáforas, com uma linguagem simples e acessível e com adjetivos que nos colocam mesmo no meio daquele cenário. Vem-nos mostrar que o que vemos pode bastar, e às vezes tanto pensar só confunde. Diz-nos que as coisas são como são, e não como gostávamos que fossem. Convida-nos à contemplação da Mãe Terra e reflete sobre como o que está ali à nossa frente é tudo o que naquele momento precisamos. Não importa onde vai desaguar o rio que vemos, importa que ali o estamos a ver.
A sua poesia pode funcionar quase como um manual para a plenitude: a simplicidade da vida encontra-se quando respiramos fundo e olhamos em volta. Diz-nos que a felicidade pode mesmo estar ao alcance de todos - quando aceitamos as coisas como elas são e quando nos limitamos a apreciar o que a Natureza nos dá, sem exigir mais e sem pedir menos.
Acho que todos, a certa altura, precisamos de um bocadinho dos ensinamentos dele.
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