Onde está a inspiração?
Dos criadores do conhecido filme Onde está o Nemo? chega a nova procura artística: onde está a inspiração?
Desde que criei o blog ando mais ativamente à procura de inspiração para aqui continuar a escrever. Como a inspiração não é uma coisa que dê para comprar numa loja, tenho de me esforçar um bocadinho e refletir, conscientemente, como é que isto funciona para mim.
O primeiro passo, sinto, é manter-me disponível a receber inspiração de todo o lado. Tudo o que vejo, ouço ou leio tem potencial. Tudo pode despoletar um pensamento que se torna interessante o suficiente para se converter em inspiração. Tenho ideias que surgem sem eu dar por isso, e outras que vêm de um sítio que eu consigo identificar.
Sinto que - comigo, pelo menos - a inspiração vem mais rápido quando não estou obsessivamente à procura dela. Não sou o tipo de pessoa que se senta em frente ao computador à espera que uma ideia caia em cima de mim, prefiro andar pelo meu dia tranquilamente ao saber que quando menos esperar a inspiração faz uma visita.
O problema surge quando estas visitas não são constantes e de repente já passou demasiado tempo e não se avista nem ao longe um bocadinho (por mais pequeno que seja) de inspiração.
(Onde está a inspiração? Dentro de nós!)
Aqui é importante passarmos ao passo seguinte, e aplicar aquele velho ditado: quando Maomé não vai à montanha, vai a montanha a Maomé. Que é como quem diz: quando a inspiração não vem ter connosco, vamos nós ter com ela.
E neste ponto é importante aquilo que tanto se fala do auto conhecimento. Logo no início deste blog, escrevi um texto em que listava algumas das minhas fontes de inspiração da altura. Apesar de ainda ter o seu quê de atual, sinto que o último ano foi profícuo nesta jornada de criatividade e inspiração, e agora já tenho uma coisas diferentes para dizer.
Para ser possível ir ter com a inspiração, precisamos de nos conhecer: perceber o que nos faz vibrar, o que despoleta em nós uma vontade e uma necessidade de criar algo novo, o que nos espanta e o que nos incentiva.
Para mim, o que tem resultado é ter experiências novas: dar uma oportunidade a diferentes hobbys, explorar vários temas na minha escrita, ouvir opiniões distintas das minhas, pesquisar assuntos para mim desconhecidos, visitar sítios variados, ver muitos tipos de arte (incluindo aquela que não percebo), ler coisas que gostava de ter sido eu a escrever e apanhar ar fresco na cara.
Admito que nem sempre é fácil e que, às vezes, por mais que faça estas coisas todas a inspiração não vem bater a porta, mas também percebo que seja necessário, de tempos em tempos, fazer uma pausa. E muitas vezes, tenho-me vindo a aperceber, essa pausa dá-me novas forças e novos temas para voltar às minhas crónicas. Tenho semanas em que escrevo, quase num só dia, 3 ou mais textos - e outras em que por mais que mexa e remexa com as palavras nada parece ser bom o suficiente.
Nestes momentos, tento-me lembrar que a inspiração não desapareceu: continua por aí, à espera de ser descoberta, à espera de ser olhada com olhos diferentes que tantas vezes já viram a mesma coisa, à espera de ser desenterrada do quotidiano rotineiro.
Há ideias que surgem de maneira inesperada, sem termos de fazer um esforço consciente para isso - e outras ideias que requerem um bocadinho mais de trabalho.
(Onde está a inspiração? Onde a formos procurar e onde a quisermos encontrar!)
Depois de termos a inspiração, temos de agir: nada acontece se ficarmos parados. É aqui que surge um verbo importante: criar. Criar sem medo, criar sem limites, criar como se ninguém estivesse a ver, e criar como se fosse a única coisa que podemos fazer para sobreviver. Não deixar preso dentro de nós a criatividade toda que sentimos explodir.
Para mim, o ato de criar é um ato corajoso: é termos a audácia de dar forma a uma ideia, de trazer para a vida real aquilo que (ainda) só existe na nossa cabeça. É preciso coragem para confiarmos na nossa capacidade de moldar o abstrato numa realidade tangível: seja isso um texto, uma peça de cerâmica ou um quadro.
E é importante criamos sem pensar no que vem a seguir: sem pensar em quem vai gostar ou o que vão criticar. Sem pensar se vão ler este texto por ser tão maior que o habitual, e sem pensar se vamos ou não ser compreendidos.
(Onde está a inspiração? Na criação!)
Estando a inspiração concretizada nisto da criação, surge um sentimento final: o orgulho. Podemos ser os únicos a apreciar e gostar do que fizemos, mas não podemos deixar o orgulho passar despercebido. O orgulho de nós próprios de termos tido a coragem de nos conectar connosco mesmo, de termos partilhado as nossas experiências e emoções e termos encontrado, pelo caminho, a voz certa para o fazer.
E para isto resultar precisamos de mandar embora um outro sentimento: a vergonha. Só quando a perdemos é que conseguimos chegar ao momento sublime da criação, o apogeu da inspiração. A autenticidade é que importa, a perfeição não é para aqui chamada.
(Onde está a inspiração? No orgulho que tenho de mim mesma!)
É que isto da inspiração não é um destino que é alcançado, não é um caminho que tem um fim. É um percurso que demora e que merece ser vivido com calma. Onde há banquinhos para nos sentarmos a descansar, e vistas incríveis para apreciar. Onde podemos correr para depois parar.
Onde podemos ser nós próprios e onde isso é mais do que suficiente.
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