Olhar para as estrelas
O tempo que a luz das estrelas demora a chegar até onde estamos pode ser suficiente para elas morrerem. Assim, quando olhamos para o céu, estamos a ver uma luz que foi emitida há muito tempo, por uma estrela que pode já ter colapsado. E é por isso que se diz que quando olhámos para o céu estamos a olhar para o passado.
Inclinamos a cabeça para trás, damos um jeito ao pescoço, e contemplamos a imensidão do que já não está lá, e a nossa pequenez tão acentuada no meio do enorme céu estrelado. Olhamos para o passado e vemos tudo o que já não é, todas as versões de nós próprios onde já não nos reconhecemos, e todos os momentos que ficaram perdidos no contínuo do espaço-tempo.
Tentamos não cair na tentação de ficar presos nessa luz que, na verdade, já não existe. Essa luz que só chegou até nós porque estamos muito longe do lugar onde nasceu. E depois, trazemos a nossa atenção para o presente. O presente que se contenta em contemplar as constelações, conectar os confetes cintilantes do céu e criar formas imaginárias.
De repente, cai uma estrela cadente e cumprimos o mito: pedimos um desejo. Nesse momento, pensamos no futuro e em como queremos que ele seja. Onde estamos, com quem estamos, e como estamos. Pedimos um desejo, e acreditamos com tudo o que temos (e já tivemos) que o que desejamos é o que teremos.
Passa um avião e apercebemo-nos que também nós estamos a viajar: pelo presente, pelo passado e pelo futuro. Rapidamente voltamos para onde realmente estamos: no agora, longe de onde as estrelas nascem e morrem, afastados de um passado que não vai voltar (para o bem e para o mal), e ainda distantes de uma versão esperada do futuro que, para já, não chegou.
Agora, tudo o que podemos fazer é continuar a olhar para as estrelas.
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