O peso da expectativa
Outro dia, em tom de brincadeira e já a saber que ia causar alguma discórdia, perguntei aos meus alunos das explicações o que é que pesava mais: um kilo de algodão ou um kilo de ferro. As respostas divergiram logo: "claro que é o ferro que pesa mais, o algodão é muito leve", ou então "pesam os dois a mesma coisa, professora! um kilo é um kilo!".
Está claro que um kilo de algodão pesa o mesmo que um kilo de ferro. Mas agora tenho outra pergunta: quanto é que (nos) pesam as expectativas? (Não aprendemos na escola uma unidade de medida que consiga mensurar o seu peso.)
Já sabemos: um kilo é um kilo - seja de massa, arroz ou cimento. Mas parece que as expectativas que temos das coisas que, depois, não acontecem pesam 1 kilo de ferro, enquanto que as expectativas que acabam por se verificar já só pesam 1 kilo de algodão.
As expectativas tornam-se mais pesadas quando não correspondem à realidade - e aí esse peso todo que carregamos não nos deixa levantar (ou levantámo-nos com dificuldade). Quando as expectativas são irrealistas e inflexíveis, esse peso aumenta ainda mais - e arrastamo-nos pela vida com elas às costas, cansados de tanto aguentar.
Há uns tempos disseram-me que só há desilusão porque há ilusão e eu acho que a culpa de haver esta ilusão toda é nossa. Somos nós que atribuímos um peso imenso às expectativas: fazemos delas mais pesadas que um kilo de ferro quando, se calhar, devíamos carregá-las com a inocência de uma criança que diz que o algodão é mesmo mais leve.
(Talvez dessa forma as expectativas pesem menos.)
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