Não dava para agricultora
Adoro o sol, principalmente quando se põe. Adoro o céu azul e cor-de-rosa, e até sei identificar algumas constelações. Reconheço a beleza na simplicidade da apanha da fruta e na observação das amendoeiras em flor. Sei de cor os movimentos de rotação e translação da Terra e já aprendi na escola que as estações do ano não resultam das marés do momento.
Sinto-me eu mesma na natureza. Posso ser um pleonasmo de todo o tamanho, porque é aí que me encontro e reencontro - as vezes todas que forem precisas.
Álvaro de Campos dizia que não é elegante ser suscetível às mudanças de luz - mas porque é que as plantas podem e nós não?
Não dava para agricultora: não consigo ter de depender dos movimentos da Terra ou das chuvas e dos ventos para saber quando é que as Leis da Natureza vão ser postas em prática. Toda a causa gera um efeito, defendem alguns entendidos. Eu, contudo, prefiro viver no plano do libertismo, onde decido que tudo nasce quando eu assim o quero, e onde as estufas permitem a criação de sentimentos em viveiro fora de época.
Adorava ter um jardim plantado por mim, onde crescessem não só as plantas que semeei, como também toda a paciência que digo que não tenho.
Mas já se sabe: não dava para agricultora.
M