Na Idade Média de mãos dadas #3
Crónia anterior da série De mãos dadas - Tudo começou de mãos dadas #2
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A Idade Média é o período histórico da Europa compreendido entre os séculos V e XV, começando após o fim do Império Romano e terminando com o início do Renascimento. A nível social, estes séculos ficaram marcados por transformações profundas e caracterizaram-se por uma organização societária distinta de outras épocas.
A população estava estratificada em três grupos distintos - a nobreza, o clero e o povo. A igreja desempenhava um papel fundamental na sociedade, não só a nível religioso, mas também a nível político e económico. Na Idade Média, a Igreja Católica era a instituição mais poderosa e influente, ditando valores e comportamentos. Os monges e padres eram proprietários de grandes terrenos, controlavam as decisões políticas e ainda tinham o monopólio quase total da educação e conhecimento.
A economia assentava, essencialmente, na agricultura de subsistência, e o povo passava fome e vivia em situações de pobreza. A formação de cidades e o crescimento do comércio e das feiras medievais levaram ao aparecimento de uma nova classe social - a burguesia.
Esta época impactou o plano artístico. O foco parou de ser a perfeição humana e a construção de templos, já não havia preocupação de forma ou de estética. As igrejas eram decoradas com ouro e jóias para atrair mais pessoas e as imagens passaram a ser simples, para serem facilmente compreendidas e para se evitarem distrações.
A arte na Idade Média tinha uma função didática acentuada. Como a maioria da população era analfabeta, o acesso às escrituras bíblicas e aos textos teológicos encontrava-se limitado. Assim, a igreja utilizou a arte para transmitir as suas mensagens e ensinar sobre as vidas dos Santos e os milagres de Jesus.
Estas formas de arte e arquitetura produzidas na idade média, com especial destaque para a corrente Gótica, forneciam uma razão tangível e visível para o culto, promovendo o Cristianismo e contribuindo para a unidade e a ordem. Deus dava talento, portanto Deus era glorioso - era este um dos motes para a conversão e veneração do catolicismo.
As catedrais góticas eram consideradas as "bíblias dos pobres", uma vez que toda a sua decoração e composição ensinava a doutrina através das ilustrações contidas nos vitrais, murais e estátuas. A própria arquitetura destas catedrais carregava um simbolismo profundo, vertical, imponente, a transmitir uma ideia de "chegar ao céu".
Mosteiro da Batalha - Catedral Gótica Portuguesa
Fonte das imagens: www.museusemonumentos.pt
E como a arte não se limita às pinturas e esculturas, neste período também o teatro, enquanto forma artística, apresentava esta componente educativa, com o objetivo de transmitir a mensagem bíblica.
Depois da queda do Império Romano, a Igreja Católica proibiu a prática do teatro, por considerar essa forma de entretenimento imoral. Ironicamente, foi a mesma instituição que acabou por reavivar esta arte, através da dinamização das histórias bíblicas nos átrios das igrejas.
Estuda-se a história da arte para se conhecer a história do mundo, mas a arte Medieval não se limitava a ser um reflexo da história, era um verdadeiro agente *.
"A lamentação", de Giotto
em exposição em Pádua
Fonte da imagem: www.históriadasartes.com
Na próxima crónica - No Renascimento, ainda de mãos dadas - vamos explorar uma corrente artística que, tal como a Idade Média, apresenta fortes ligações à Igreja, mas cujas representações conseguem ser bastante distintas.
M
Bibliografia consultada:
https://www.infopedia.pt/artigos/$idade-media
*https://gulbenkian.pt/museu/read-watch-listen/a-arte-da-idade-media/
https://ensina.rtp.pt/artigo/gotico/
https://www.medievalchronicles.com/medieval-life/medieval-theatre-images/