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Designing My Dream Life

12 de Abril, 2024

Meio Caminho Andado

O plano parecia simples: 90 quilómetros desde Santiago até Finisterra. A mochila ia com o mínimo possível e o corpo (e a mente!) preparados para gastar a sola das botas.

Entretanto veio uma chuva enorme, um vento muito forte que lutava contra nós e um granizo de cortar a cara, e então os planos tiveram de se alterar: no total, acabamos por fazer  64 quilómetros.

Apesar das coisas não terem acontecido conforme o planeado, a sensação ao ver a placa que marca o "quilómetro 0" é incrível. E sim, já sei - o importante é o caminho e não o destino, mas tenho de confessar que a chegada ao destino foi espetacular. Foi o concretizar de todo o caminho (literal) feito até então, foi ver o sol depois de dias de chuva (mesmo, isto não é poesia), e foi mostrar a mim própria que fui mesmo capaz.

Quando voltei ao Porto, alguém me perguntou se encontrei o que estava à procura. Sorri. A coisa engraçada disto é que partimos a achar que vamos encontrar resposta para isto ou solução para aquilo, mas depois estamos lá e tudo o que importa é o quilómetro que temos à nossa frente. E se calhar é só isso que precisamos de encontrar: a clareza de saber que o que importa é só o passo que está à nossa frente - na estrada, e na vida.

O Caminho não é sobre encontrar respostas urgentes a uma lista enorme de perguntas que temos - é sobre fazer mais perguntas e mostrar a nós próprios que lhes conseguimos dar a resposta. É sobre encontrar não o que queríamos, mas o que precisávamos. 

E quando os obstáculos literais do percurso são maiores que os mentais que nos impomos, sabemos que conseguimos. Sorrimos ao saber que conseguimos.

 

Para mim, o Caminho foi sobre encontrar (e ter) um prazer enorme no simples ato de caminhar, na coisa mais simples que podemos fazer com os nossos pés de os colocar um à frente do outro. Foi sobre saber que sou capaz, e que o nosso corpo funciona mesmo para nós - mas a nossa mente também! Foi sobre magoar-me no pé ao quilómetro 15 e fazer o resto sempre com o mesmo sorriso (apesar das queixas e das dores). Foi sobre caminhar debaixo da chuva a cantar e a rezar, e saber que fiz o que quis - e não há maior liberdade que essa. Tive a liberdade para decidir partir,  a liberdade quando foi preciso decidir parar - e depois disso tive a liberdade de poder continuar, com uma chuva mais simpática que não nos lavava a roupa toda, só a alma.

E, mais tarde, foi sobre voltar cheia de histórias para contar e responder com um sorriso que sim: encontrei tudo o que, naquele momento, precisava.

M

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