Já não de mãos dadas #7
Crónica anterior da série De mãos dadas - De mãos dadas, às escondidas #6
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Já de regresso à Religião Católica, vamos recuar até ao período pós-Barroco, que ficou marcado profundamente pelas mudanças culturais e sociais que ocorreram nos séculos XVIII e XIX. Naturalmente, a arte acompanhou a alteração na forma como as pessoas olhavam para o mundo. As representações artísticas perderam o foco religioso e a realidade quotidiana tornou-se fonte de inspiração.
Surge, então, uma nova corrente artística: o Romantismo, que valorizava a emoção, a individualidade e a subjetividade, procurando expressar sentimentos profundos e dramáticos. Neste contexto, a religião como tema foi substituída por uma procura pelo sublime e transcendente na Natureza.
Em vez de representações concretas de figuras religiosas, o Romantismo explorava a Fé e uma dimensão mais transcendente e sublime através de paisagens selvagens, cenas místicas e representações do sofrimento humano.
"Sunset", de Eugène Delacroix
em exposição em Nova Iorque
Fonte da imagem: www.metmuseum.com
Surge, entretanto, o Realismo: uma corrente artística que se focava em pessoas comuns com vidas e trabalhos mundanos. As lentes dos artistas olhavam, essencialmente, para as dificuldades sociais e a vida das classes populares. As obras retratavam a realidade, sem idealizações ou exageros dramáticos, e os temas sociais e políticos, com ênfase no povo, eram a temática central.
Esta documentação das duras condições de vida dos mais pobres não se limitava a uma mera exposição - funcionava, também, como uma crítica social às condições de exploração e desigualdade vigentes na época.
Assim, a arte começou-se a tornar, de modo mais direto, uma forma de intervenção social.
"the Faggot Gatherers", de Jean-Francois Millet
em exposição na Escócia
Fonte da imagem: www.nationalgalleries.org
Mais tarde, no século XX, com o surgimento de movimentos como o Modernismo e o Surrealismo, esta vertente da arte como meio de crítica social começou a debruçar-se sobre a Igreja e a Religião.
Salvador Dali, por exemplo, explorava imagens religiosas nas suas pinturas de forma ambígua, fundindo-as com elementos bizarros que pretendiam provocar o espectador a questionar o significado mais profundo da fé.
É curioso perceber como durante séculos a arte e a religião deram as mãos, e pouco tempo depois de as largarem voltaram a encontrar-se - desta vez não como ferramenta de evangelização, mas sim para questionar e criticar as práticas religiosas e da Igreja.
"A visão do inferno em Fátima", de Salvador Dali
em exposição em Gaia, no WOW
Fonte da imagem: Pinterest
Estamos quase a chegar ao fim desta série De mãos dadas, mas antes das conclusões finais vamos ainda conseguir ver como a Arte e a Religião voltam a dar as mãos, ainda que não da mesma maneira que no início.
M
Bibliografia consultada:
https://ensina.rtp.pt/explicador/o-romantismo-h67/
https://www.britannica.com/art/Romanticism
https://www.historiadasartes.com/nomundo/arte-seculo-19/realismo/
https://artlyst.com/features/salvador-dali-enigma-faith-revd-jonathan-evens/