Falta o fim
A natureza presenteia-nos diariamente com inícios bonitos, que não perdem a sua beleza seja qual for o fim que lhes seguirem. Reconhecemos, apreciamos e celebramos esses momentos belos, mas parece-me que fora do domínio da Mãe Terra já não pensamos da mesma maneira.
Que ideia é esta que temos que só uma coisa completa e terminada é merecedora de ser partilhada? Quando é que começamos a achar que arte, falas e pensamentos inacabados não são igualmente bons àqueles com o tão famoso princípio, meio e fim?
Várias vezes dou por mim a começar algo - um texto, uma colagem, uma pintura - e a não saber depois como a terminar. E esta falta de fim é o suficiente para me convencer que o que fiz não merece um palco. Quase que tenho mais crónicas inacabadas do que ideias soltas prontas para verter num papel. O início parece promissor, as palavras vão ganhando vida própria e de repente encontram um obstáculo e ficam a meio: a meio de uma história, de uma frase ou de uma lógica que sem fim perde todo o sentido.
Alguns começos incompletos ficam a repousar, na esperança que a vida se encarregue de lhes dar um fim, mas outros vão-se com o vento e perdem o seu significado antes que os consiga ir, a tempo, apanhar. A autocrítica consegue ser muito forte, e de repente damos por nós presos num labirinto por nós criados, sem conseguir encontrar o fim. Andamos para trás e para a frente, escrevemos e apagamos e não se encontra aquele desfecho arrasador.
Mas o que é que torna isto tão difícil de aceitar? Quando aprendemos na escola a escrever, ensinam-nos que um bom texto se divide em 3: a introdução, o desenvolvimento e a conclusão. Que as coisas não ficam bonitas sem um fim.
Só que depois crescemos, ficamos presos nesse meio do desenvolvimento, andamos aos círculos ou numa linha reta muito grande e acabamos por não chegar a lado nenhum.
E depois? Qual é o mal?
Fica a faltar o fim.
M