Escolha Múltipla
Numa aula de Direito da Família aprendi que o direito a contrair casamento, consagrado no artigo 36º CRP, implica o direito a não contrair casamento. Parece óbvio, mas isto tem várias implicações a nível legal: duas pessoas, ao escolherem não contrair casamento, mas vivendo uma vida comum, não podem estar sujeitas ao mesmo regime que duas pessoas casadas estão, porque isso seria inconstitucional. Assim, o legislador teve de criar um regime diferente (e mais simplificado) – a Lei da União de Facto (Lei nº7/2001).
Acho que com o direito à escolha devia acontecer o mesmo. Se temos o direito a escolher, então temos o direito a não escolher, o que implicaria consequências diferentes de escolher. Mas não escolher acaba por ser, também, uma escolha. Em que ficamos, então?
Gosto de ter uma rotina, mas só para ter a possibilidade de fugir dela e escolher se quero, ou não, cumpri-la. Organizo as tarefas que tenho a fazer por semana, e não por dia, para poder, diariamente, decidir o que me apetece fazer no momento. Há tantas coisas no meu quotidiano que me são impostas exteriormente (como o horário das aulas ou do autocarro) que gosto de reservar momentos onde possa exercer o meu direito de escolha, deixando-me com uma pequena e simpática sensação de controlo.
Nos testes de escolha múltipla, por vezes fazer a escolha errada implica um desconto na nota. E na vida real? Será que há isso de escolha errada e escolha certa? E ao fazermos a escolha errada que consequências temos? Um desconto no nível de felicidade (fosse esse um valor mensurável)?
Mais complexo este tema se torna quando lemos a alínea no teste que diz “mais do que uma resposta está certa”. Como é que sabemos que podemos escolher várias opções? Por vezes, pode parecer que é isto ou aquilo, quase como o ultimato que Inglaterra deu a Portugal aquando do mapa cor-de-rosa. Mas e quando dá para ter as duas coisas? Quando não tem de ser isto-ou-aquilo?
Um truque para resolver questões de escolha múltipla é ler a pergunta, tapar as diferentes alíneas e tentar responder sozinho. A situação complica quando a resposta que achávamos ser a certa não é, sequer, uma opção. Na vida real pode parecer que estamos entre a espada e a parede, mas será que não reparamos que nessa parede há uma porta com uma chave na fechadura e que conseguimos sair? Por vezes pode parecer que estamos sem opções, e que a escolha, na verdade, já foi feita para nós e não por nós. Por isso, é importante aprendermos a distanciarmo-nos do problema e abordá-lo com novos olhos.
Diria que, regra geral, lido bem com o dilema da escolha, porque normalmente sei o que quero. Quando vem a indecisão é que está o caldo entornado. Mas estando o leite derramado ou ainda dentro da caneca, o leite continua a ser leite, e seja qual for a escolha que fizermos, vamos sofrer as suas consequências.
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