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Designing My Dream Life

15 de Setembro, 2025

Como é que se escreve?

Por vezes dou por mim a pensar - como é que se escreve? como é que mantenho vivo este blog?

Há alturas em que parece que as ideias saltitam tipo pipocas na panela - chegam tão rápidas que nem dá tempo de apanhar todas. E, depois, há semanas em que parece que não se passa nada, em que o silêncio ocupa todo o espaço e não há nada de novo para contar.

Quer dizer, às vezes até existem ideias - o que falta é a perspetiva certa para olhar para elas. O ângulo de abordagem que deixa aquela sensação de orgulho de Ok! era mesmo isto que queria dizerConsegui!".

Em tempos já escrevi sobre inspiração, sobre criatividade e sobre o problema recorrente da falta de ideias. Não se preocupem que não venho aqui repetir-me.

Hoje, o objetivo é deixar uma espécie de livro de instruções para seguir quando o nosso cérebro parece ter-se esquecido como é que se escreve.

(Lembrete para a M do futuro: reler esta crónica quando se sentir presa, sem saber por onde [re]começar).

 

1. Sair à rua

Tão simples quanto isto. Sair à rua, ver o que nos rodeia, deixar o nosso pensamento vaguear. Num momento estamos a olhar para uma toalha numa montra, e no outro estamos a escrever uma crónica sobre problemas de primeiro mundo. 

(Nota: se estiver sol, ainda melhor!).

Mas - é verdade - vai haver alturas em que  sair à rua não ajuda muito (ou, sendo sincera, não ajuda nada). Nesse caso, acrescento umas palavrinhas - sair à rua e fazer coisas diferentes. Ir a uma exposição, ver um concerto, passear numa livraria. 

Na Ted Talk  "The surprising habits of original thinkers", Adam Grant apresentou um conceito interessante - o vuja de (no fundo, o oposto da famosa sensação de deja vu). Significa olhar para uma coisa que já vimos muitas vezes, mas fazer essa observação com novos olhos. 

Certamente já aconteceu a muitos ler um livro ou ver um filme pela segunda vez, e a obra parecer completamente distinta da primeira. Isto é normal acontecer - afinal, nós também já não somos a mesma versão que éramos a primeira vez que nos cruzamos com essa peça. Agora, olhamos e apreciamo-la de forma diferente, com olhos novos, com um pensamento que carrega todas as experiências que tivemos a oportunidade de recolher desde então.

Às vezes, a escrita pode surgir tão facilmente como quando vamos reler, ou rever, ou refazer algo que já fizemos mil vezes antes

 

2. Perseguir a curiosidade

Depois de nos surgir alguma ideia ou algum tema, não podemos parar por aí. Precisamos de ser curiosos sobre isso - e, mais que tudo, precisamos de ir atrás dessa curiosidade.

Uma vez que a pergunta surge na nossa cabeça, sugiro irmos atrás da resposta. E um primeiro passo desse caminho pode ser, tão só, uma rápida pesquisa no google. Depois dessa resposta mais superficial, é preciso pensar pela nossa própria cabeça. Investigar. Querer saber mais. Fazer outras perguntas.

Um dia estava numa Catedral a pensar em como não gostava de visitar igrejas como pontos turísticos, e de repente escrevi toda uma coleção sobre como a Arte e a Religião andaram de mãos dadas durante séculos. Tudo isto porque fiz mais perguntas, mais pesquisas e a curiosidade aumentou - e deu frutos.

Na mesma TedTalk que mencionei acima, o orador apresenta a distinção entre a dúvida própria (self-doubt) e a dúvida da ideia (idea-doubt). Enquanto a  primeira é paralisante e nos leva a duvidar de nós próprios, a segunda é energética e motiva-nos a testar novos cenários e expandir o pensamento. 

E é desta dúvida da ideia que temos de perseguir - não nos podemos contentar com uma resposta simples à nossa curiosidade fornecida por um qualquer modelo de IA. É preciso escavar mais fundo, duvidar do que lemos, questionar o que pensamos, e - lá está - ir atrás da curiosidade.

 

3. Redefinir o conceito de criatividade

O dicionário define criatividade como a capacidade de criar, inventar. Podemos começar por redefinir este conceito para uma maneira de estar na vida - e perceber que tudo à nossa volta pode envolver criatividade. 

No livro "O ato criativo: um modo de ser", o autor diz-nos "temos a tendência de pensar no trabalho do artista como o resultado final. O verdadeiro trabalho do artista é uma forma de estar no mundo".

Quando começamos a olhar para a criatividade desta forma - como uma maneira de viver o quotidiano, uma forma de estar na vida - percebemos que a criatividade não é um botão que se liga e desliga quando é conveniente. E é aqui que tudo muda: se a criatividade é algo que está em mim, não preciso de a ir procurar, apenas de a ouvir com atenção o que já me está a tentar dizer.

M

 

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