Ano novo, vida velha
Sabemos a lengalenga de cor: ano novo, vida nova. Achamos que a mudança de ano é o tempo ideal para mudar de vida. Afinal, todas as mudanças que resultam começam no início do mês, certo? É mesmo por o calendário se alterar que vamos começar a ir ao ginásio com regularidade, ou a aprender aquela língua que sempre quisemos.
Cá para mim, qualquer dia é bom para começar - mas isso fica para depois.
Apesar de toda esta ironia, claro que sei que uma motivação extra cai sempre bem - e se o que precisamos é de esperar pela próxima segunda-feira para conseguirmos começar a ler o livro que está pacientemente sentado na mesinha de cabeceira, tudo bem. E se entrar num novo ano (ou mês, ou semana) é o gatilho certo para adotar todos aqueles hábitos que nos vão fazer a nossa melhor versão, tudo ok. O que funciona, funciona! Não sou nada contra isso.
Mas já sabemos que depois de uma segunda vem uma terça, uma quarta e por aí em diante. E, se calhar, começar um novo hábito a uma quinta já não fica tão bem no calendário. Não faz mal! Espera-se pela próxima segunda. (E é assim que o tempo corre sem darmos por ele correr, e é assim que de repente já é dezembro e estamos, de novo, a fazer resoluções para o que aí vem.)
Por aqui, não há cá resoluções nem vidas novas. Para mim, janeiro é um mês como os outros.
Contudo, este ano decidi olhar para trás e pensar o que vou levar para o novo ano da minha vida velha. Não quero uma vida nova. Estou satisfeita q.b. com a que construí ao longo deste ano, no meio da montanha-russa emocional que foram os últimos 12 meses. (Sem isso invalidar, claro, que não haja coisas novas para fazer e planos para saírem do papel!)
Em vez de pensar nas coisas más que quero deixar para trás, fiz o exercício de refletir sobre as coisas boas que quero levar comigo. Acho que posso dizer que adotei uns hábitos agradáveis que gostava de manter. Ora aqui vai o meu top 3:
1. Escrever no blog.
Este, por razões óbvias, tinha de vir em primeiro lugar. No dia 6 de janeiro de 2023 decidi criar um blog enquanto estava de erasmus, e tive pena de não me ter lembrado disso mais cedo. Não perdi a rotina quando cheguei a Portugal, e continuei a escrever - celebrei já, entretanto 1 mês (e muitos mais) de escrita, e mais de 100 crónicas publicadas! Foi como disse: nunca pensei em desistir, mas tenho de confessar que também nunca pensei que ia escrever tanto.
Dedicar tempo a este blog permitiu-me parar, explorar o meu lado criativo, procurar inspiração nos sítios mais inesperados e refletir um pouco sobre os dias que passam, numa tentativa de não os deixar passar tão rápido.
2. Dedicar tempo aos meus hobbys.
Facilmente nos podemos queixar que não temos tempo para fazer aquilo que gostamos, ou aquilo que não é nossa obrigação. Ao longo deste ano descobri que o segredo para fazer o tempo render é agendar tempo para o que nos faz bem, da mesma maneira que agendamos tempo para o resto. Se já souber que tenho aquelas horas ocupadas a fazer aquele hobby, então organizo-me à volta disso, e termino a semana mais feliz porque dediquei tempo àquilo de que gosto e que me deixa a sentir bem.
Explorei diferentes hobbys e fui tentando aprender que é ok falhar, e que fazer coisas só por diversão até é o que tem mais piada na vida.
3. Passar tempo de qualidade com as pessoas de quem gosto.
Já sabemos - o tempo não estica e é ocupado com muitas coisas. Então, tento fazê-lo render ao máximo. Se o tempo é pouco, mais vale torná-lo tempo de qualidade. Encontrar gostos comuns e fazer mais disso. E tanto vale um passeio a pé como um jogo de tabuleiro, ou até uma aula de exercício.
E mesmo quando o tempo parece não dar para tudo, tentar ao máximo para fazer com que dê. Há momentos que curam semanas de stress, e não os podemos deixar passar por nós sem os tentarmos apanhar.
Deixo o convite para fazerem o mesmo exercício de reflexão que eu fiz: que vida velha querem levar para o ano novo?
Se calhar, vão ver que não é preciso mudar totalmente de vida. Afinal, não foi tudo mau!
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