A utopia dos erros
Num mundo utópico, não cometemos erros.
(Depois chegam os entendidos da psicologia e dizem que os erros nos fazem crescer e evoluir e que são mesmo essenciais para o auto-desenvolvimento. Mas a verdade é que um mundo sem quedas seria um mundo muito menos doloroso.)
Num mundo um bocadinho menos utópico que o primeiro, dizemos que aprendemos com os nossos erros. E acreditamos mesmo nisso.
Acreditamos que se desta vez correu mal, para a próxima já vai ser melhor, porque já sabemos como agir - e dessa vez já vamos fazer as coisas da maneira certa.
Só que apesar de toda a idealização sobre um futuro onde os erros passados não são repetidos, a verdade é que muitas vezes vamos dar por nós na mesma situação, a fazer exatamente a mesma coisa e a cometer precisamente o mesmo erro. Continuamos a repetir os mesmos erros não porque somos masoquistas, mas porque somos humanos - e porque há determinas coisas que nos estão já demasiado enraizadas.
Reconhecer que errámos já é, em muitos casos, difícil - mas parece-me ser ainda mais complicado esse reconhecimento transformar-se numa mudança real de comportamento.
Com a cabeça fria podemos até ter a consciência necessária que nos diz que o caminho não é por aí - mas quando as emoções entram em jogo, o labirinto densifica-se. O nosso julgamento fica cinzento, já não conseguimos ver as coisas preto no branco.
Concordo com os entendidos da psicologia: os erros fazem-nos crescer. Mas também conseguem doer muito. Então, o melhor equilíbrio que acho que conseguimos encontrar é continuar a acreditar que a utopia é possível - e aprendermos mesmo com os nossos erros.
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