A Palavra Certa
Damos voltas à cabeça e fazemos das tripas coração. Damos nós no cérebro e fazemos o pino. Afastamo-nos e aproximamo-nos para ver se algo mudou. Giramos e damos voltas e voltamos sempre ao mesmo lugar.
Procuramos nas entrelinhas e nas coincidências o que dizemos serem sinais. Vemos o que não está lá e agarramo-nos a detalhes que nos dizem o que queremos ouvir.
Corremos e meditamos e rezamos. Dizemos que andamos atrás da palavra certa.
Aquela palavra que nos vai abanar o mundo todo, aquela que nos vai fazer mudar a maneira como olhamos para o que já tantas vezes vimos. Aquela que vai fazer todo o sentido e nos vai dar todo o sentido que, algures pelo caminho, se perdeu.
E um dia, depois de muito procurar, alguém nos dá a resposta de que estávamos a precisar: a palavra certa, afinal, é uma frase completa. Apercebemo-nos que palavra certa é, na verdade, um conjunto de palavras que se juntam, para nos dizer, sem metáforas nem intenções escondidas, uma verdade dura.
A palavra certa é a certeza de que não há fórmulas mágicas. Que não há soluções rápidas. É a perceção que o ditado popular ficou famoso porque tem mesmo razão: o importante é o caminho, e não o destino. Não há atalhos, não há o caminho fácil.
A palavra certa bem podia ser o que queríamos ouvir - mas com certeza não é o que precisamos de encontrar. O que é necessário - percebemos - é a coragem de continuar, mesmo quando tudo é incerto.
Continuar mesmo quando os planos feitos com calma e tempo vão embora num instante, e continuar mesmo quando não se sabe em que direção ir.
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