A Fatalidade das Últimas Vezes
Fala-se muito das primeiras vezes. O primeiro amor, a primeira casa, o primeiro emprego, o primeiro beijo. Mas as primeiras vezes são, só, o começo de todas as outras. E sobre as últimas vezes, alguém fala?
No meu diário de ERASMUS dediquei duas páginas a apontar as minhas primeiras vezes: a primeira festa, a primeira visita, a primeira refeição fora, o primeiro teste e a primeira viagem. Agora que isto está tudo a acabar dou por mim a pensar e as últimas vezes? O último passeio pelo centro, a última ida até à faculdade com montanhas no horizonte, o último floco de neve.
A minha série preferida tem uma frase que diz:
Tu nunca sabes que a última vez vai ser a última vez. Achas que vai haver mais. Achas que tens para sempre, mas não tens.
É certo que dói (às vezes, muito) um dia olharmos para trás e nos apercebermos que de aquela foi realmente a última vez, e que na altura nem o sabíamos. Mas e o peso que tem sabermos quando está a acontecer a última vez?
Prepararmo-nos para isso não é fácil. Tive tantos dias este texto nos rascunhos e ainda não me consegui mentalizar que está mesmo tudo a terminar. Fui tão feliz aqui, e agora não me quero desprender dessa felicidade.
Contudo, estou a tentar olhar para este fim com olhos que vêem para além dele. Agora, é altura de fazer as malas, regressar a Portugal e levar comigo tudo o que aprendi. Ser a pessoa que quero ser. Viajar mais, criar novos hábitos e rotinas, continuar a ser feliz.
Considerando o medo todo com que vim e a vontade que agora tenho de ficar, facilmente se percebe que esta foi, realmente, a melhor experiência que poderia ter pedido e imaginado. Ficam as memórias, uma amizade nova muito boa, as aprendizagens, as descobertas e um diário que relata todos os dias e momentos destes 4 meses tão bons.
Fica também, claro, uma vontade grande de voltar a este país que se tornou, temporariamente, a minha casa. E a certeza de que isso vai acontecer.
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