A criança no nosso interior
Outro dia estava na rua e passei por um grupo de crianças em filinha indiana. À frente, estava um senhor adulto a dizer a um dos miúdos: é o que eu digo sempre, nós não podemos deixar morrer a criança que temos dentro de nós.
Claro que esta frase não é, de todo, a poesia mais original de sempre, mas nesse momento deixou-me com um sorriso na cara e a pensar no assunto.
Há tanto que os adultos acham que podem e devem e têm de ensinar às crianças, que nem se apercebem do tanto que as crianças nos podem ensinar. A maneira como elas são que nós, se calhar, também podemos e devemos e temos de ser.
O medo que não têm de serem "maus" a fazer alguma coisa. A admiração com que olham para a vida e os fenómenos que nela existem. A curiosidade incessante de querer descobrir como tudo acontece e funciona. O riso fácil e sincero. A facilidade com que pintam fora das linhas sem o mínimo de desconforto. A não perceção de um amanhã ou ontem, que as faz viver sempre com a mesma intensidade o hoje.
Que mal tem se este carro que desenhei nem parece um carro? E será que hoje já parei para ver como a lua está linda? Ainda me sei rir do tropeção que dei ou já só penso no trabalho que vai ser limpar a ferida? Aproveitei este momento com os meus amigos ou estávamos todos preocupados com a nova semana de trabalho que aí vem?
Com sorte, ainda vamos a tempo de ressuscitar a chama da criança que vive dentro de nós.
Acho que ela continua à nossa espera para brincar.
M