A Arte Perdida
Em 2023, com telemóveis e computadores que enviam mensagens para o outro lado do mundo numa fração de segundo, já ninguém pensa em enviar postais. Por algum motivo, eu continuo a fazê-lo.
Por um lado, porque criaram em mim esse hábito. Quando era pequena e viajava com os meus pais, mandávamos sempre postais aos avós e tios. Contávamos o que tinhamos feito naquele dia e como estávamos felizes, com atenção para não cometer nenhum erro ortográfico. Escreviámos a morada cuidadosamente, de modo a não falhar nenhum pormenor e nos certificarmos que o postal chegaria. No verso, uma imagem do local que mais nos tinha maravilhado.
Agora, para além de continuar a enviar postais à minha família, ganhei esse hábito também com as minhas amigas. Trocamos postais dos sítios que visitamos, e alguns chegam mesmo pelo correio e com um texto bonito.
Há uns anos os telemóveis ainda não conseguiam tirar uma foto e enviá-la acompanhada de um pequeno texto, então os postais tinham um gostinho diferente. Apesar disso, continuo a ter a mesma vontade e cuidado de enviar postais.
Há algo que me atrai na vulnerabilidade de uma carta escrita à mão. Escolho a fotografia com cautela, porque tem de mostrar o quão incrível é o sítio que visitei, e sempre que coloco o postal dentro do posto de correio sinto um nervosinho na barriga, questionando-me se chegará mesmo ao seu destino.
Nestes últimos meses, em ERASMUS, enviei uma série de postais (e só um é que não chegou à casa que era suposto). Escolhi-os a dedo, para mostrar os meus sítios preferidos deste incrível país e a beleza da cidade. Gosto especialmente de postais com desenhos, porque fotografias todos conseguem ver no Google. Escrevi-os com uma sinceridade que não existe nas mensagens do dia-a-dia e respondi a perguntas que não foram feitas. Demoram muito tempo a chegar, é certo. Mas essa espera é o que torna, também, o processo especial.
"Mais cartas de amor, por favor."
M