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Designing My Dream Life

20 de Outubro, 2025

Crescer com companhia

Não é novidade que crescer traz dores de crescimento. Traz ossos a estalar, despedidas silenciosas, algumas tristezas e imensas alegras. A cada ano que passa, vamos acumulando novas versões de nós próprios. O mundo, que parecia estático, de repente vai ganhando diferentes formas.

Ganhamos dúvidas, perdemos certezas. Aprendemos coisas novas e paramos de saber outras.

E no meio disto tudo, fazemos amigos pelo caminho - e também vai acontecendo perdermos outros. Alguns que ficam para trás ficam gravados na memória, tornando-se personagens de uma história que já só pertence ao passado. Outros vão sendo esquecidos, às vezes de propósito, outras sem querer, como páginas de um livro que não lemos mais mas que, mesmo sem sabermos, nos moldou.

E depois, se tivermos sorte, no meio disto que é crescer temos aqueles amigos que ficam connosco, que testemunham o que um dia fomos e, também, o que ainda estamos a aprender a ser.

É que crescer fica mais fácil quando o fazemos com companhia. Sem desmérito para os novos amigos que chegaram mais tarde, a verdade é que há uma ternura especial naqueles amigos que vieram de trás, com quem atravessamos todas as nossas fases.

Amigos com os quais crescemos juntos, e que mesmo tendo conhecido versões antigas de nós nunca nos cobram ser quem já não somos.

Amigos que descobrem connosco todos os eus que ainda estamos a aprender a ser, que nos veem a ocupar novos papéis na vida e nos celebram a cada passo dado. E que - ainda assim - nos reconhecem. Ainda gostam de nós - não por quem um dia fomos, mas por todas as coisas novas que vamos sendo.

Crescer pode doer - mas é mesmo bonito olhar à volta e perceber que não estamos a crescer sozinhos. Que as dores de uns são, também, as dores dos outros. Que as minhas dúvidas tornam-se claras com as aprendizagens de quem me rodeia - e que as minhas experiências podem iluminar o caminho escuro de quem está ao meu lado. 

Crescer às vezes custa, mas é bonito. E é melhor ainda quando o fazemos com companhia.

M

 

PS: dedico este texto à minha querida amiga V, que inspirou a escrita desta crónica  e é presença constante em todas as versões 

 

08 de Outubro, 2025

Porto: as Autárquicas e a Cultura (parte 2)

Depois de ter explorado o passado cultural da cidade deste último mandato na Autarquia do Porto, é altura de olhar para o futuro, e perceber o que é que os candidatos que participaram no debate do Porto Canal trazem à cidade em matéria de Cultura.

Para evitar que o texto ficasse muito extenso, optei por resumir as propostas apresentadas, apresentando sempre as devidas referências para, quem assim tiver interesse, poder consultar as fontes de toda a informação.

1. PORTO PRIMEIRO (Nuno Cardoso)

O candidato apresentou a sua proposta eleitoral, definindo 3 compromissos prioritários, não sendo feita nenhuma menção à cultura.

No entanto, o seu programa eleitoral dedica um capítulo à cultura, intitulado “Cultura e Património para Todos”, definindo 10 áreas proprietárias:

- Criação da Cidade das Artes Cénicas;

- Criação de centros culturais de bairro;

- Criação do Bairro das Artes

- Apoio direto e simplificado aos artistas e agentes culturais locais

- Revitalização de patrimónios históricos com uso cultural inclusivo;

- Valorização da cultura popular, tradições orais e festas de bairro;

- Promoção de festivais internacionais;

- Criação de circuitos culturais alternativas em escolas, mercados, praças e transportes;

- Reabilitação de coletividades e associações de recreio e cultura;

- Proteção de espaços culturais independentes;

 

2. FAZER À PORTO (Filipe Araújo)

Para Filipe Araújo “a cultura precisa de uma visão livre e independente”, acrescentando "foi isso que nos possibilitou chegar até aqui. Uma visão livre que quis promover a cultura, colocar a cultura no centro de um programa político”.

Numa publicação do instagram do movimento Fazer à Porto, a cultura é destacada como um dos 5 compromissos para a cidade:

No seu website, são apresentadas algumas propostas concretas

- Alargar o programa Cultura em Expansão;

- Incentivar redes de criação e programação que potenciem o impacto das grandes estruturas na cidade;

- Reforçar o apoio a pequenas salas e espaços culturais e experimentais espalhados pela cidade;

- Fortalecer a cultura nos bairros, associações e coletividades;

- Alargar benefícios do Cartão Porto para acesso a mais cultura.

O movimento “Fazer à Porto” assume compromissos a nível de cultura no seu manifesto eleitoral, como alcançar novos públicos, reeditar o Fórum do Futuro, expandir o programa de arte pública e investir na produção cultural.

 

3.Partido Socialista (Manuel Pizarro)

Para o PS, esta candidatura “reafirma o compromisso com um Porto culturalmente ativo, criativo e cosmopolita. Uma cidade que honra as suas raízes enquanto aposta no futuro”.

Na apresentação da candidatura, Manuel Pizarro destacou que quer uma “cultura que fale com a cidade e com cá vive, que seja motor de identidade, inclusão e desenvolvimento”, dizendo não querer “uma cultura de fachada”, mas sim uma “cultura viva, acessível e ousada”.

Numa publicação de instagram, o candidato apresentou as suas 13 propostas para a cidade, em matéria de cultura.

- Desenvolvimento do projeto de reabilitação do Palácio de São João Novo como casa do Museu do Porto;

- Lançamento do “Porto Independente” – um programa de financiamento a projetos culturais independentes;

- Redes de criação artística para residências temporárias ou de longa duração;

- Reabilitação e programação regular da Antiga Casa da Câmara;

- Desenvolvimento e expansão da Biblioteca Errante do Porto – uma rede descentralizada de 15 microbibliotecas temáticas na cidade;

- Criação do Festival da Palavra do Porto;

- Proteção e valorização do STOP enquanto centro de criação independente de Música;

- Proposta de transferência da gestão da Cadeia da Relação para o Município do Porto e novo enquadramento institucional para o Centro Português de Fotografia;

- Criação do Museu da Indústria – integrado no Museu do Porto;

- Execução qualificada da expansão e reabilitação da Biblioteca Pública Municipal do Porto e dos espaços culturais do Matadouro;

- Desenvolvimento do projeto de reabilitação da Quinta da Bonjóia e criação do NASONI- Centro Interpretativo do Barroco;

- Criação dos Caminhos do Romântico na zona oriental da cidade, e revalorização destes caminhos na zona ocidental;

- Criação de um Conselho Municipal de Cultura, organizado em secções especializadas, favorecendo uma maior representatividade, participação e auscultação regular de diferentes pontos de diferentes interesses e subsetores culturais e criativos da cidade.

Estes compromissos são desenvolvidos na sua proposta eleitoral.

 

4. O PORTO SOMOS NÓS (Pedro Duarte)

Na sua carta de candidatura, Pedro Duarte diz ter uma “visão de longo prazo para o Porto, que inclui investimentos significativos” em diversas áreas, nomeadamente na cultura.

Para o candidato, “a cultura não é um luxo – é uma necessidade”. Assim, a Cultura encontra-se no centro do projeto, transversal aos 10 eixos prioritários para a cidade.

No seu programa eleitoral, define 6 eixos de uma política cultural ética e 4 princípios de ação. Apresenta, ainda, várias propostas a nível de estratégia cultural:

- Investimento;

- Fundo municipal para artes performativas;

- Evento do livro e da Leitura;

- Museu da cidade;

- M-ODU: Antigo matadouro industrial do Porto;

- Espaços multidisciplinares de criação, exposição e espetáculos;

- Coliseu do Porto;

- Centro comercial STOP;

E, também, outras medidas culturais transversais, como a continuação da reabilitação dos equipamentos municipais, a criação de um gabinete de internacionalização cultural, a dinamização das igrejas da Baica e a incentivação da criação de uma rede sustentada de organismos e práticas culturais.

Para meu agrado, muito mais se podia dizer sobre as propostas de cultura destes 4 candidatos, bem como dos restantes.

Agora, é aguardar pelos resultados do próximo domingo e, depois, pela concretização de todas estas promessas!

M

03 de Outubro, 2025

Porto: as Autárquicas e a Cultura (parte 1)

Com todos os defeitos e problemas que possam apontar à cidade do Porto, há um aspeto que, na minha opinião, merece destaque: a Cultura.

Com as Eleições Autárquicas a aproximarem-se – marcadas para o dia 12 de outubro – este é o momento ideal para analisar os programas eleitorais e identificar as propostas com que mais nos revemos.

Enquanto entusiasta das atividades culturais que têm sido desenvolvidas na cidade, não pude deixar de questionar que medidas apresentam os 11 candidatos à Câmara do Porto neste setor.

Mas antes de olharmos para o futuro, vale a pena refletir sobre o que já foi feito!

O (terceiro) mandato de Rui Moreira está a terminar e com todas as críticas e elogios que lhe possam ser apontados, hoje venho falar do que fez (e não fez) pela cultura da cidade do Porto.

O ponto de partida ideal, parece-me, é olhar para as propostas que apresentou para a Cultura, aquando da sua última candidatura à Câmara do Porto, em 2021:

1. Criar uma empresa municipal de cultura para “gerir os principais equipamentos geridos pela autarquia – como o Teatro Municipal e o Teatro Sá da Bandeira”;

2. Revitalizar o Cinema Batalha;

3. Continuar o projeto “Cultura em Expansão”, para chegar a novos públicos.

Vamos, então, ao estado destas promessas:

 1. Ágora – Cultura e Desporto

A Ágora é a empresa de Cultura e Desporto do Município do Porto que, para além de gerir equipamentos municipais da área da cultura, também gere a rede municipal de instalações desportivas, e ainda “programa, produz e apoia e ventos culturais, desportivos e de animação no espaço público da cidade”. Com uma forte presença no instagram, os cidadãos podem-se manter atualizados sobre as iniciativas – muitas delas, gratuitas – a decorrer na cidade, como aulas de yoga, tai-shi ou pilates ao fim-de-semana ou o cinema ao ar livre nas noites de verão.

2. Reabilitação do Cinema Batalha

A reabilitação do Cinema Batalha foi uma promessa cumprida, concluída em novembro de 2022.

Em 2023, as obras renderam ao Cinema o  Prémio Nacional da Reabilitação Urbana. Um ano depois, em 2024, o júri do concurso internacional de Arquitetura World Architecture Technal Awards reconheceu que a renovação do espaço preservou “o património cultural e a essência da conceção original”

3. Cultura em Expansão

O Cultura em Expansão foi um programa criado em 2013, no primeiro mandato de Rui Moreira, que promove a cultura e a arte na cidade do Porto, permitindo o acesso direto e gratuito a uma vasta programação cultural em diferentes áreas – desde música, teatro, cinema, dança, literatura e performance. Tem como missão “democratizar o acesso a experiências, bens culturais e práticas artísticas, em territórios descentralizados, fomentando a participação das comunidades e potenciando a criação de um ambiente social mais justo, inclusivo e harmonioso.”

Em 2025, este programa continua vivo e ativo, oferecendo uma panóplia de experiências, enquanto o seu website disponibiliza uma forma prática de nos mantermos informados sobre as novidades.

 

Podemos, assim, concluir que as principais promessas de Rui Moreira foram cumpridas. Nos últimos anos, o Porto tem-se consolidado como um verdadeiro centro de cultura, com atividades dispersas por toda a cidade.

De todo o modo, estas atividades culturais não escapam a críticas. Aponta-se a pouca acessibilidade tanto para os espectadores como para os atores, com pouco espaço nas salas para cadeiras de rodas e a ausência de linguagem gestual nos espetáculos. Para além disso, critica-se a “falta de convites aos jovens atores com deficiência para integrar companhias de teatro”.

Da minha perspetiva, a democratização do acesso à cultura tem um impacto enorme no desenvolvimento de uma cidade – sem, com isto, desvalorizar outros pilares de atuação. Para além de fortalecer a identidade local, a cultura pode funcionar, também, como uma ferramenta de inclusão e transformação social.

Este caminho que a cidade tem vindo a percorrer não pode ser perdido - a diversidade de experiências culturais que o Porto tem proporcionado é um dos seus maiores patrimónios. Numa época em que grande parte das atenções estão voltadas para o Turismo, o Porto tem conseguido dinamizar atividades que enriquecem a vida dos seus habitantes, tornando a cidade mais vibrante e acolhedora.

Agora, é altura de olhar para o futuro e perceber o que é que os candidatos trazem para o seu programa eleitoral em matéria de Cultura.

O debate do Porto Canal entre os candidatos dos partidos PS, PSD e dos movimentos independentes "Fazer à Porto" e "Porto Primeiro" foi esclarecedor em várias matérias estruturais para a cidade - mas não posso deixar de demonstrar o meu desagrado na falta de menção à Cultura.

Assim, na próxima crónica trago-vos o que é que estes 4 candidatos apresentam como propostas para a cultura da cidade. 

M