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Designing My Dream Life

26 de Setembro, 2025

Crer para ver

(Apenas um pequeno pensamento que tive um destes dias e quis deixar registado)

O famoso ditado diz que temos de ver  para crer. Aliás, foi exatamente isso que aconteceu com o apóstolo Tomé: quando soube da ressurreição de Jesus quis ver as marcas da cruz para acreditar.

A premissa da fé que nos é, normalmente, transmitida, é para crer sem ver. Acreditar sem uma prova visual.

Mas, outro dia, dei por mim a pensar: e se for crer para ver?

Aliás, foi exatamente sobre isto que escrevi na minha crónica "Onde está Deus?":

Se calhar, em vez de tentarencontrar Deus podemos partir da premissa que ele está, efetivamente, connosco.

A tarefa, agora, é só reconhecê-Lo.

 

E se ao acreditarmos primeiro, vemos depois?

M

22 de Setembro, 2025

A Feira do Livro do Porto

A ideia de feira remonta ao século XIII, em plena Idade Média, quando cidades e vilas se começaram a consolidar como pequenos centros de comércio. Estes eventos surgiram da necessidade de reunir, num só local e em determinadas datas, mercadores vindos de diferentes regiões para trocar produtos - uma vez que, nessa época, o comércio era limitado, nomeadamente, pelas dificuldades de transporte (e ainda nem se sonhava com o conceito de e-commerce!).

Com o passar dos séculos, o conceito de feira resistiu ao teste do tempo. As feiras deixaram de ser apenas um espaço de encontro de compradores e vendedores para se transformarem, também, em eventos culturais e turísticos.

A Feira do Livro do Porto é um exemplo vivo desta evolução. De 22 de agosto a 7 de setembro, os Jardins do Palácio de Cristal acolheram mais uma edição deste evento anual, que já faz parte da tradição da cidade.

A Avenida das Tílias enche-se de bancas repletas de livros - desde os lançamentos mais recentes que marcam tendências, aos exemplares mais antigos e usados na zona dos alfarrabistas, que oferece verdadeiros preços de feira. 

Os belos jardins do Palácio com as suas incríveis vistas para o Douro convidam-nos a passear com calma, folhear as páginas, descobrir novos autores e histórias até então desconhecidas. É impossível evitar a sensação de entusiasmo ao estar rodeado de mil possibilidades de novos caminhos de leitura, conhecimento e imaginação. Enquanto caminhamos parece que o tempo desacelera e nesse momento a vida ganha outro ritmo - mais leve e sereno.

Para além das inúmeras bancas onde nos podemos perder, estes dias de Feira do Livro são um verdadeiro palco cultural. A programação inclui, nomeadamente, concertos, palestras, encontros com escritores e sessões de leitura, que agradam miúdos e graúdos

Este evento marca o início do ano cultural da cidade do Porto, funcionando como um ponto de partida para uma nova temporada repleta de arte, literatura e cultura. 

Do meu lado, aguardo com expectativa os próximos capítulos da programação cultural da cidade!

M

15 de Setembro, 2025

Como é que se escreve?

Por vezes dou por mim a pensar - como é que se escreve? como é que mantenho vivo este blog?

Há alturas em que parece que as ideias saltitam tipo pipocas na panela - chegam tão rápidas que nem dá tempo de apanhar todas. E, depois, há semanas em que parece que não se passa nada, em que o silêncio ocupa todo o espaço e não há nada de novo para contar.

Quer dizer, às vezes até existem ideias - o que falta é a perspetiva certa para olhar para elas. O ângulo de abordagem que deixa aquela sensação de orgulho de Ok! era mesmo isto que queria dizerConsegui!".

Em tempos já escrevi sobre inspiração, sobre criatividade e sobre o problema recorrente da falta de ideias. Não se preocupem que não venho aqui repetir-me.

Hoje, o objetivo é deixar uma espécie de livro de instruções para seguir quando o nosso cérebro parece ter-se esquecido como é que se escreve.

(Lembrete para a M do futuro: reler esta crónica quando se sentir presa, sem saber por onde [re]começar).

 

1. Sair à rua

Tão simples quanto isto. Sair à rua, ver o que nos rodeia, deixar o nosso pensamento vaguear. Num momento estamos a olhar para uma toalha numa montra, e no outro estamos a escrever uma crónica sobre problemas de primeiro mundo. 

(Nota: se estiver sol, ainda melhor!).

Mas - é verdade - vai haver alturas em que  sair à rua não ajuda muito (ou, sendo sincera, não ajuda nada). Nesse caso, acrescento umas palavrinhas - sair à rua e fazer coisas diferentes. Ir a uma exposição, ver um concerto, passear numa livraria. 

Na Ted Talk  "The surprising habits of original thinkers", Adam Grant apresentou um conceito interessante - o vuja de (no fundo, o oposto da famosa sensação de deja vu). Significa olhar para uma coisa que já vimos muitas vezes, mas fazer essa observação com novos olhos. 

Certamente já aconteceu a muitos ler um livro ou ver um filme pela segunda vez, e a obra parecer completamente distinta da primeira. Isto é normal acontecer - afinal, nós também já não somos a mesma versão que éramos a primeira vez que nos cruzamos com essa peça. Agora, olhamos e apreciamo-la de forma diferente, com olhos novos, com um pensamento que carrega todas as experiências que tivemos a oportunidade de recolher desde então.

Às vezes, a escrita pode surgir tão facilmente como quando vamos reler, ou rever, ou refazer algo que já fizemos mil vezes antes

 

2. Perseguir a curiosidade

Depois de nos surgir alguma ideia ou algum tema, não podemos parar por aí. Precisamos de ser curiosos sobre isso - e, mais que tudo, precisamos de ir atrás dessa curiosidade.

Uma vez que a pergunta surge na nossa cabeça, sugiro irmos atrás da resposta. E um primeiro passo desse caminho pode ser, tão só, uma rápida pesquisa no google. Depois dessa resposta mais superficial, é preciso pensar pela nossa própria cabeça. Investigar. Querer saber mais. Fazer outras perguntas.

Um dia estava numa Catedral a pensar em como não gostava de visitar igrejas como pontos turísticos, e de repente escrevi toda uma coleção sobre como a Arte e a Religião andaram de mãos dadas durante séculos. Tudo isto porque fiz mais perguntas, mais pesquisas e a curiosidade aumentou - e deu frutos.

Na mesma TedTalk que mencionei acima, o orador apresenta a distinção entre a dúvida própria (self-doubt) e a dúvida da ideia (idea-doubt). Enquanto a  primeira é paralisante e nos leva a duvidar de nós próprios, a segunda é energética e motiva-nos a testar novos cenários e expandir o pensamento. 

E é desta dúvida da ideia que temos de perseguir - não nos podemos contentar com uma resposta simples à nossa curiosidade fornecida por um qualquer modelo de IA. É preciso escavar mais fundo, duvidar do que lemos, questionar o que pensamos, e - lá está - ir atrás da curiosidade.

 

3. Redefinir o conceito de criatividade

O dicionário define criatividade como a capacidade de criar, inventar. Podemos começar por redefinir este conceito para uma maneira de estar na vida - e perceber que tudo à nossa volta pode envolver criatividade. 

No livro "O ato criativo: um modo de ser", o autor diz-nos "temos a tendência de pensar no trabalho do artista como o resultado final. O verdadeiro trabalho do artista é uma forma de estar no mundo".

Quando começamos a olhar para a criatividade desta forma - como uma maneira de viver o quotidiano, uma forma de estar na vida - percebemos que a criatividade não é um botão que se liga e desliga quando é conveniente. E é aqui que tudo muda: se a criatividade é algo que está em mim, não preciso de a ir procurar, apenas de a ouvir com atenção o que já me está a tentar dizer.

M

 

08 de Setembro, 2025

Shots de Dopamina

Com o verão a terminar, decidi escrever uma crónica um pouco diferente do habitual, e partilhar convosco algumas experiências que tive estes meses que chegaram ao meu top 3 de shots de dopamina.

Enquanto membro da Geração Z, tinha obviamente de entrar nesta trend em que todos se sentem cientistas a falar das hormonas cerebrais, incluindo a dopamina - que, aparentemente, é a responsável por nos dar aquela sensação imediata de recompensa. Uns dizem que é a hormona da felicidade - outros dizem que funciona como uma moeda de troca da nossa motivação.

Eu, que não sou formada em ciências nem nada remotamente parecido, prefiro entendê-la como um sinal de que algo valeu realmente a pena - que aquela foi uma experiência que acendeu algo em mim e me fez pensar "isto de viver é mesmo bom".

As experiências que partilho não seguem nenhuma ordem específica - fui escrevendo à medida que me fui lembrando. O objetivo é, quem sabe, inspirar alguém a tomar um destes shots - se dopamina for o que estão à procura - mas, também, guardar este texto como uma espécie de diário digital para mais tarde recordar.

1. Concertos

Os meses de verão são marcados por um ambiente de festa: as ruas enchem-se de festas populares, há mil festivais diferentes, música ao vivo, bancas de comida e uma energia que parece dizer-nos diz que a noite vai ser longa. 

(E depois, convenhamos, em anos de eleições os concertos grátis nas festas das cidades parece que se multiplicam como por magia!)

Disse que a lista não ia seguir nenhuma ordem, mas parece que menti - acho que ir ver concertos são o meu shot nº1 de dopamina. Não há outra sensação igual como à de estar no meio de uma multidão desconhecida, todos a cantar e a dançar ao som da mesma música, mesmo que cada um a ouça com ouvidos e interpretações diferentes.

E até quando não nos identificamos com a história que o artista nos está a contar, há algo de vibrante na forma como a música consegue unir todos por alguns minutos, quase como se partilhássemos as dores uns dos outros. Para além disso, não há mal nenhum em cantar (que é como quem diz berrar) desafinados à beira de pessoas que nunca mais vamos ver na vida.

Não posso deixar de aproveitar este momento para demonstrar o meu agrado na aposta na música portuguesa, que se reflete, por exemplo, nos festivais que enchem palcos principais com grandes nomes nacionais e plateias que se enchem até não haver espaço para nem mais uma cabeça (ou - como estamos no século XXI e tudo o que acontece tem de ser registado - não há espaço para nem mais um telemóvel). 

O meu destaque vai para os concertos que tive o privilégio de assistir dos Quatro e Meia, Carolina Deslandes e Bárbara Tinoco.

 

2. Feira do Livro - em especial, as bancas dos alfarrabistas

No verão passado visitei uma livraria em Gent, onde fui apresentada - pela primeira vez - a este mundo das livrarias com livros em segunda mão. Para além dos preços muito mais simpáticos  para o leitor, o livro em segunda mão traz duas histórias - a que conta nas suas páginas, e a de quem a leu. Se tivermos sorte, apanhamos livros com anotações e temos o privilégio de entrar, por breves instantes, nos pensamentos do dono anterior.

Este ano, na Feira do Livro do Porto, voltei a sentir esse fascínio. A Avenida das Tílias encheu-se de bancas com todo o tipo de livros — desde os lançamentos mais recentes que marcam tendências, aos exemplares mais antigos e usados na zona dos alfarrabistas. A minha zona preferida foi esta última. Há algo de mágico ao passear com calma entre os corredores, folhear as páginas dos livros que já tiveram outra vida antes daquela, descobrir autores antigos e histórias que, para nós, são novas.

Acabei por trazer dois livros: um sobre Leonardo da Vinci e outro sobre Van Gogh. E a melhor parte é que o pico de dopamina não se esgotou na tarde em que passeei pela Feira do Livro e fiz estas compras - estende-se para todos os momentos em que leio estes livros, ao mergulhar no mundo da arte do qual gosto tanto de aprender mais sobre.

 

3. Imersão na Natureza

Digo muitas vezes, meio em tom de brincadeira, meio a falar a sério, que - preciso de ir abraçar uma árvore. Que é como quem diz sentir a relva nos pés, ou respirar o ar dos montes. Conectar-me com a Natureza, ver as estrelas e perceber que realmente somos mesmo pequeninos no meio da imensidão que é o que nos rodeia.

A dopamina que me traz estar rodeada de Natureza é diferente da dopamina das experiências anteriores. Nestes momentos, não há um pico de emoção - é uma sensação um pouco mais calma, mais serena, mas ainda assim com o mesmo pensamento que nos diz é mesmo aqui que devia estar.

Clichés à parte, estar na Natureza pode não nos dar respostas, mas dá-nos o presente. Faz-nos focar no agora - porque torna-se impossível olhar para o horizonte que nunca mais acaba e não nos sentirmos gratos por podermos estar ali a poder experienciar aquele momento.

O pôr-do-sol, que todos os dias é diferente, todos os dias entusiasma. O mar cujas ondas batem sem ritmo e mesmo assim parecem trazer consigo uma melodia hipnotizante. O cheiro a verde que nos faz acreditar que, afinal, as cores têm odor.

E não precisamos de ir para longe para sentir esta conexão com a Natureza - às vezes, um simples passeio no Parque da Cidade vai fazer exatamente isso (sim, mesmo com o barulho dos carros de fundo que por vezes se ouve).

Seja onde for, acredito que a contemplação da Natureza nos traz sempre algo - seja dopamina ou calma o que procuramos, sabemos que no meio do mundo todo algo havemos de encontrar.

 

A estação ainda não mudou, mas acho sempre bom parar para refletir no que nos faz bem - para podermos fazer mais disso.

A vida consegue ser mesmo boa - temos é de ativar os gatilhos certos.

M