As narrativas que criamos
Não vemos as coisas como elas são – vemos como nós somos
Mais do que uma frase bonita de Anaîs Nin, isto é ciência. O nosso cérebro gosta de poupar energia – e esta poupança traduz-se em atalhos mentais.
Nem sempre processamos todos os acontecimentos de forma objetiva ou completa. A maior parte das vezes, interpretamos o mundo com base nas nossas experiências, expectativas e emoções. Criamos histórias dentro da nossa cabeça para nos ajudar a dar sentido ao que vivemos.
O problema é que, muitas vezes, estas histórias não correspondem àquilo que é a vida real. Às vezes simplificamos a realidade, outras vezes distorcemo-la. E, sem darmos por isso, acabamos a reagir não ao que realmente aconteceu, mas à narrativa que criámos na nossa cabeça.
Ainda assim, convém reconhecer que, por vezes, estas histórias são úteis! O nosso cérebro cria-as, essencialmente, para nos proteger. O problema é quando começam a ter o efeito oposto e acabam por nos aprisionar. Começamos a confundir perceção com verdade e, sem darmos por isso, limitamo-nos. É que estas versões subjetivas da realidade que inventamos acabam por condicionar a forma como vemos o mundo, e a nós próprios. Repetimos padrões, evitamos riscos. Olhamos para o que nos rodeia através do filtro das narrativas que criamos há anos, noutras fases da vida, mas que moldam o presente como se fossem a verdade mais absoluta que guardamos dentro de nós.
Mas então como é que se quebram padrões passados para substituir por novos? Como é que se constrói uma nova narrativa? O exercício mais corajoso – e, vamos admitir, mais difícil – é parar e observar os nossos pensamentos. Ganhar consciência das histórias que andamos a contar a nós próprios. E começar a questioná-las. Perguntar com curiosidade: “e se houver outra forma de ver isto?”, ou “e se este atalho não é, afinal, o caminho mais fácil?”.
A boa notícia é que se somos nós que criamos as narrativas, também podemos ser nós a reescrevê-las.
M