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Designing My Dream Life

27 de Junho, 2025

As narrativas que criamos

Não vemos as coisas como elas são – vemos como nós somos

Mais do que uma frase bonita de Anaîs Nin, isto é ciência. O nosso cérebro gosta de poupar energia – e esta poupança traduz-se em atalhos mentais.

Nem sempre processamos todos os acontecimentos de forma objetiva ou completa. A maior parte das vezes, interpretamos o mundo com base nas nossas experiências, expectativas e emoções. Criamos histórias dentro da nossa cabeça para nos ajudar a dar sentido ao que vivemos.

O problema é que, muitas vezes, estas histórias não correspondem àquilo que é a vida real. Às vezes simplificamos a realidade, outras vezes distorcemo-la. E, sem darmos por isso, acabamos a reagir não ao que realmente aconteceu, mas à narrativa que criámos na nossa cabeça.

Ainda assim, convém reconhecer que, por vezes, estas histórias são úteis! O nosso cérebro cria-as, essencialmente, para nos proteger. O problema é quando começam a ter o efeito oposto e acabam por nos aprisionar. Começamos a confundir perceção com verdade e, sem darmos por isso, limitamo-nos. É que estas versões subjetivas da realidade que inventamos acabam por condicionar a forma como vemos o mundo, e a nós próprios. Repetimos padrões, evitamos riscos. Olhamos para o que nos rodeia através do filtro das narrativas que criamos há anos, noutras fases da vida, mas que moldam o presente como se fossem a verdade mais absoluta que guardamos dentro de nós.

Mas então como é que se quebram padrões passados para substituir por novos? Como é que se constrói uma nova narrativa? O exercício mais corajoso – e, vamos admitir, mais difícil – é parar e observar os nossos pensamentos. Ganhar consciência das histórias que andamos a contar a nós próprios. E começar a questioná-las. Perguntar com curiosidade: “e se houver outra forma de ver isto?”, ou “e se este atalho não é, afinal, o caminho mais fácil?”.

A boa notícia é que se somos nós que criamos as narrativas, também podemos ser nós a reescrevê-las.

M

 

23 de Junho, 2025

É isto crescer? #9 Mais perguntas que respostas

Não quero formalizar o fim - acho que não gosto muito de pontos finais - mas, pelo menos por agora, dou por encerrada esta minha série "É isto crescer?".

Passamos a infância a fazer perguntas que ninguém sabe responder. Atravessamos a adolescência com um excesso de certezas que irrita toda a gente, e achamos que o mundo se decifra com meia dúzia de verdades absolutas. Depois, chegámos à vida adulta e percebemos que afinal só queremos respostas (a perguntas que, se calhar, nem sabemos fazer).

Procuramos sentido em tudo, debatemos ideias, refletimos até à exaustão e, às vezes, nem pensamos o suficiente. Chegamos à conclusão que pouco - ou nada - é certo.

Não comecei esta série à procura de respostas. Mas consegui encontrar uma coisa: clareza. Uma certa tranquilidade em saber que consigo verter em palavras estes sentimentos que, por dentro, ainda parecem uma confusão. E algum alento por saber que há quem se relacione.

Termino esta série com mais perguntas que respostas. Mas, de alguma forma, isso já me basta.

Porque agora sei: é isto crescer.

Obrigada,

M.

 

PS: podem revisitar toda a série aqui :)

18 de Junho, 2025

Os famosos quadradinhos azuis

No último sábado passei uma manhã diferente: a fazer um workshop de pintar azulejos. Lá, conheci um casal americano que estava de férias por Portugal, e na sua primeira paragem - a bela cidade do Porto - decidiu mergulhar um pouco mais na cultura portuguesa e começou o dia a fazer, também, esta atividade. Pareceu-me a abordagem turística perfeita para os tão famosos azulejos do nosso país: não se limitarem a visitá-los, mas sim terem a possibilidade de "pôr a mão na massa".

A professora disponibilizou-nos desenhos para servir como base, e explicou-nos a técnica de pintura. Utilizamos Óxido de Cobalto, uma espécie de tinta lilás que, depois de ir ao forno, transforma-se naquele azul tão característico dos azulejos.

Gosto sempre de experimentar coisas novas, e esta manhã não foi exceção. O resultado final ainda está por revelar, uma vez que o processo de cozedura é demorado. Esta parte é também engraçada: a espera pelo fim, a confiança no processo e a diversão pelo caminho.

Ainda antes de começarmos, tivemos direito a uma pequena introdução histórica sobre estes famosos quadradinhos azuis. Foi nesse momento que me apercebi do quão pouco (sendo mais sincera... nada) sabia desta parte da história do nosso país.

Quem pensa em Portugal pensa logo nos azulejos - o que faz todo o sentido, tendo em consideração que esta é uma das "marcas mais distintivas daquilo que é a cultura portuguesa". Muitos espaços por todo o país - como palácios, igrejas ou até jardins - foram decorados com as figuras representadas nos pequenos quadrados com diferentes tons de azul. A maior parte deles traz memórias do passado, representando lendas e figuras históricas que mereceram, por algum motivo, ficar eternizadas na parede de determinado edifício.

Para além desta função de homenagem, e abordando a técnica de utilização numa vertente de construção, a aplicação de azulejos revela-se útil para contextos húmidos, caracterizando-se pela sua resistência e reduzido custo.

Convém, contudo, dizer que Portugal não é o dono nem inventor desta técnica. De facto, o uso dos azulejos remete-se ao tempo do Antigo Egito e da Mesopotâmia, tendo-se propagando por toda a Península Ibérica através da expansão geográfica e da manifestação da religião islâmica neste cantinho da Europa

Em Portugal, o uso massivo começa com uma visita do Rei D. Manuel I a Espanha, onde viu de perto azulejos que o impressionaram ao ponto de mandar revestir o Palácio Nacional de Sintra. Mais tarde, depois do terramoto de 1755, a reconstrução de Lisboa impõe um ritmo mais acelerado de produção de azulejos de padrão, que resultam de uma combinação de técnicas industriais e artesanais.

A partir do século XIX o uso de azulejos deixa de se limitar aos palácios e igrejas, passando para as fachadas  dos edifícios, ganhando mais visibilidade. No século XX, o azulejo entra nas estações de comboio e de metros - como na Estação de S. Bento, no Porto, que conta com mais de 20.000 peças a retratar excertos da história de Portugal.

Entretanto, a tradição tornou-se ainda mais corrente, surgindo como solução decorativa para as casas, nomeadamente nas cozinhas e casas-de-banho, revelando a resistência e inovação destes famosos quadradinhos azuis. 

Aos dias de hoje, os azulejos continuam a ser utilizados por todo o lado e, mais que isso, são um motivo de visita ao nosso país e uma fonte de admiração por todos que os veem.

M

Fontes:

https://ensina.rtp.pt/artigo/uma-breve-historia-da-azulejaria-portuguesa/

https://comunidadeculturaearte.com/a-historia-do-azulejo-portugues/

https://www.nationalgeographic.pt/viagens/os-azulejos-da-estacao-sao-bento-que-resumem-a-historia-portugal_3511

 

 

12 de Junho, 2025

É isto crescer? #8 As amizades mudam de forma

vida adulta é estranha. Mexe com tudo à nossa volta - e as amizades não escapam.

Passámos de estar juntos todos os dias para ter de conciliar agendas com quase um mês de antecedência. Antes, criávamos histórias. Agora, encontramo-nos para fazer um resumo apressado das últimas semanas - como se estivéssemos a atualizar episódios de uma série que ninguém teve tempo de ver em direto.

O tempo passa e as amizades mudam. Mudam de forma, de frequência e de linguagem. Param de ser feitas de presenças constantes e passam a ser feitas de presenças seguras.

Fica mais difícil conciliar horários, mas fica também mais fácil perceber quem continua a escolher estar. O que se perdeu em tempo ganhou-se em intencionalidade. Agora, cada encontro vale mais porque já não acontece por acaso - acontece por vontade.

Não podemos resistir a esta mudança.

O segredo é aceitar que as amizades não precisam de ser como eram - mesmo que no início custe um bocadinho a engolir esta verdade. É só preciso encontrar um novo normal. Um normal que encaixe na vida que temos agora, com mais responsabilidades, menos tempo livre e, ao mesmo tempo, com mais consciência do que é verdadeiramente importante.  

É verdade: a vida adulta mudou tudo. Desfez rotinas e reescreveu as prioridades - mas também mostrou quem fica. Quem acompanha. Quem aceita o nosso crescimento, mesmo quando cresce numa direção diferente.

Mostrou quem ouve com calma quando tudo à volta é pressa, quem encontra tempo no meio do caos e quem não precisa de estar todos os dias para continuar a estar presente.

As amizades mudam de forma.

Claro que é estranho. Claro que por vezes há saudades. Mas há, também, um conforto em saber que, mesmo com todas as mudanças, há laços que não se desfazem - só se transformam. 

É isto crescer?

M

09 de Junho, 2025

A peça que dá para o torto

Na semana passada, decidi ir ao Coliseu do Porto assistir a uma peça de teatro com um título curioso: A peça que dá para o torto. Confesso que fui sem grandes expectativas - até porque teatro não é uma atividade que costume ocupar o meu tempo  - mas acabei por passar uma noite bastante agradável, com muitos risos à mistura.

A premissa é, à partida, simples: uma companhia de teatro amador vai encenar um mistério policial chamado O Crime na Mansão de Charles Haversha, e tudo o que pode correr mal… corre mesmo. 

Desde as personagens que se esquecem das falas, aos atores que têm acidentes em palco, até ao cenário que desaba sem qualquer aviso (e surpreendentemente sempre no momento certo), passando pelo técnico de luz mais interessado no telemóvel do que em fazer o seu trabalho - o espetáculo é uma avalanche de desastres representados com uma grande mestria. O resultado é uma comédia deliciosa, onde cada erro se transforma em motivo de gargalhada.

O que mais me impressionou foi perceber como tudo o que parece improvisado e caótico foi, na verdade, milimetricamente ensaiado: desde as quedas falsas até ao posicionamento estratégico em cada cena. O talento dos atores reflete-se na forma como fazem parecer que nada está sob controlo quando, na realidade, tudo foi afinado ao pormenor. 

Fui à espera de uma comédia assim meia tola, mas encontrei uma comédia inteligente, envolta num enredo que nos deixa presos até à última cena. 

No fim, dei por mim a aplaudir de pé, surpreendida por uma peça que, embora tenha "dado para o torto", correu maravilhosamente bem.

M

03 de Junho, 2025

É isto crescer? #7Já não sou quem era, mas ainda não sei quem sou

Já não sou a mesma pessoa que era quando tinha 16 anos. Não penso da mesma maneira, não sinto da mesma forma e não reajo como na altura reagia. Ainda assim, continuo a comparar-me com aquela versão de mim. Porquê?

Por estranho que pareça, aquela miúda de 16 anos ainda é, muitas vezes, o meu ponto de referência. Aquela versão de 16 anos, teimosa, cheia de certezas e inseguranças, sonhos e medos ficou marcada em mim. E agora, o que sou parece que é medido sempre em relação ao que ela era.

Mas acho que é a altura de parar de me comparar com essa versão antiga. Ela foi importante, sem dúvida: foi o começo, o meio e o fim de muita coisa - mas não pode continuar a ser o meu espelho.

É hora de criar um novo referencial. Um que seja mais meu, um referencial que carregue os meus erros mais recentes, as minhas conquistas que ainda nem assimilei bem, os meus novos medos e todos os sonhos que mudaram de forma. 

Já não sou quem era, mas ainda estou a descobrir quem sou, nesta nova versão de mim que olha para si mesma como adulta.

Quero começar a olhar para mim com os olhos do presente, sem deixar para trás toda a bagagem que carrego, mas também com a liberdade de poder, as vezes que quiser, ser outra pessoa. 

É isto crescer?

M