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Designing My Dream Life

26 de Fevereiro, 2025

O peso das cartas

Escritas à mão parece que as palavras se tornam mais pesadas - que é como quem diz mais sentidas. O espaço temporal entre o momento da escrita das frases e o momento da leitura das mesmas dá-lhes uma dimensão mais intensa – não carregam apenas o peso da tinta no papel, mas também as emoções que as moldaram.

Ao contrário do que acontece com as mensagens digitais – que se escrevem quase sem pensar, enviam-se quase sem esforço e recebem-se quase imediatamente – as cartas escritas à mão têm pausas, hesitações, certezas e incertezas impressas em cada traço. Cada palavra é escolhida com mais cuidado porque não há a facilidade de apagar sem deixar vestígios.

A evolução digital e toda a tecnologia trouxeram uma proximidade que antes não se achava possível – mas não é por isso que se perdeu a beleza das cartas escritas à mão. Quando se coloca a carta no posto de correio, coloca-se também a confiança no serviço postal e nos deuses mensageiros. Coloca-se o carinho e a esperança de que aquelas palavras cheguem ao seu destino final.

E no intervalo de espera entre o envio e a receção de uma carta cabem outros sentimentos que não chegaram a ser vertidos na tinta. Cabe a paciência de quem vai ter de esperar para ter uma resposta. E cabe também a saudade que se prolonga no tempo e que resiste ao imediatismo das mensagens de whatsapp.

As evoluções não têm de ser substituições - podem, tão só, ser acrescentos. Enviar mensagens – e enviar cartas. Saber logo a resposta – e esperar por ela.

Fica o convite - enviem cartas. Vão ver que existem  palavras que não precisam de urgência - precisam de permanência.

M

14 de Fevereiro, 2025

A propósito do amor

1. Para um tema como o amor, fica difícil arranjar um início para esta crónica. Talvez porque o amor nunca começa num ponto fixo: não conseguimos olhar para trás e marcar o momento exato onde apareceu. Porque o amor começa no meio de silêncios confortáveis e gestos autênticos, e aparece de mansinho, sem darmos por isso. Se calhar é assim que isto deve começar: a falar de como o amor não começa - simplesmente um dia apercebemo-nos que está .

2. Cá para mim, a verdadeira fonética do amor é o perdão. É não ter havido um pedido de desculpa e esse perdão ser concedido. (E aqui o que se faz notar não é o amor pelo outro, mas sim o amor ao próprio. Porque, às vezes, amar é perdoar e continuar).

3. Não sei se para ser amor tem de doer, mas já percebi que se dói é porque se ama. Não necessariamente de uma forma trágica ou desesperada, mas porque amar, muitas vezes, é um exercício de entrega e vulnerabilidade - e ser vulnerável consegue doer. 

4. Para além do perdão, o amor é ainda presente. E se calhar às vezes achamos que estamos sozinhos, mas a vida convida-nos a fazer um exercício de atenção. Se olharmos bem, vamos ver que, afinal, há imenso amor à nossa volta. Pessoas que se fazem presentes - de uma forma mais ou menos visível. Pessoas que sem nós sabermos e sem nos dizerem, estão ali. Pessoas que sem nos mostrarem mudam os seus planos para estar aqui

5. Já muitos poetas tentaram definir este sentimento. Já muita tinta foi gasta a tentar eternizar esta bonita sensação. E sempre que se parece ter chegado a uma conclusão, o amor muda, e as palavras encontradas falham. Porque o amor assume muitas formas diferentes, e quando o tentamos definir já encontrou outro modo de se expressar. E se calhar um dia mais tarde vou ler isto e não vou concordar com nada do que escrevi aqui - mas é mesmo assim. Se calhar, o amor é só um estado transitório, um sentimento mutável que se adapta aos tempos e às pessoas, e que se reeinventa a cada experiência.

6. E da mesma maneira que o amor não começa, sinto também que não termina - apenas se transforma. Às vezes transforma-se em saudades, outras vezes em sorrisos e algumas vezes em lágrimas. De uma forma ou outra, aquilo que um dia foi amor continua a existir. Às vezes com mais lembrança, outras vezes finge-se de esquecido. Mas o amor fica - disfarçado, mudado, atento, ou envergonhado. Mas sempre presente.

M