Dores de Crescimento
Os jovens, a partir de certa idade, começam a sentir dores de crescimento - dores reais, que surgem aquando do desenvolvimento dos ossos. É como se o corpo estivesse a reclamar por estar a mudar, e custa estar a esticar-se para um novo tamanho que ainda não sabe bem como suportar. Mas, eventualmente, essas dores passam. O corpo habitua-se e para de crescer.
Só que quando paramos de crescer por fora, o corpo continua a crescer por dentro. E é então que surgem umas outras dores de crescimento. Não sei exatamente quando começam - acho que chegam sem grande aviso prévio e, sem darmos bem por isso, de repente sentimos o corpo a esticar-se para lá do que era o conforto e o familiar.
É uma dor diferente, mais difícil de explicar. Ainda não existem radiografias que a consigam captar, e por vezes nem o mais rico vocabulário é capaz de as expressar.
Como é que um momento pode ser, simultaneamente, tão bom e tão triste? Como é que a mesma coisa que traz sorrisos traz também um aperto no peito a indicar saudades que ainda nem chegaram?
Não sou a única proprietária deste sentimento - a língua portuguesa até tem uma palavra para esta sensação: agridoce. É assim que sabem esses momentos: a mel, com um travo de limão. É o sabor de um instante perfeito, preso ao passado que não queremos largar e a um futuro que, ainda não sabendo bem como, queremos abraçar.
Talvez estas novas dores de crescimento aparecem mesmo assim: quando olhamos à nossa volta e vemos que nada é tão simples como imaginávamos. Que as coisas não são preto-no-branco, que um momento não é feliz-ou-triste.
Que a vida, mesmo quando é boa, está cheia de despedidas.
Mas enquanto navegamos nesta dor é importante lembrarmo-nos que ela só existe porque estamos em movimento, a chegar a um novo sítio onde nunca tivemos antes.
(E sabemos que a vida só acontece quando nos estamos a mexer.)
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