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Designing My Dream Life

25 de Setembro, 2024

Onde está Deus?

Às vezes, tentam encontrar Deus nas igrejas e ficam revoltados quando não o vêem, quando ouvem homilias com as quais não conseguem concordar e quando lêem notícias que lhes deixam um nó no estômago. 

Outras vezes, tentam encontrar Deus nas orações aflitas e nos milagres de última hora, e ficam revoltados quando não percebem porque é que tanta gente boa morre e questionam-se como é que ainda há guerras se Deus existe mesmo.

Numa tentativa de se afastarem de Deus, as pessoas afastam-se das Igrejas e afastam-se das Orações. Agarram-se a argumentos bem construídos para justificar a sua falta de fé e procuram respostas lógicas para as injustiças do mundo.

Não quero parecer muito ousada: mas cá para mim, andam a procurar Deus nos sítios errados. Ao assumir que Deus só se manifesta em grandes e especiais momentos, falha a visão de O encontrar no quotidiano comum. E mesmo correndo o risco de soar cliché, Deus encontra-se mais facilmente do que pensamos, no dia-a-dia rotineiro. Umas vezes mais escondido, outras vezes em plena luz do dia. No ouvido amigo que pacientemente escuta as nossas preocupações, no olhar atento de quem repara em pormenores, na boca de quem connosco partilha as suas preocupações e no cheiro a floresta.

E já sabemos que os clichés existem porque há neles uma verdade. E Deus está mesmo nas pequeninas coisas: na simpatia de quem nos abre a porta, na criança que sem nos conhecer sorri para nós, nas palavras de conforto que nos chegam sem termos pedido por elas. Deus está no céu com mil cores no final de um dia mais difícil, na brisa do vento que por nós passa quando precisamos de coragem para continuar e nas borboletas que encontramos que nos fazem lembrar alguém especial.

Se calhar, em vez de tentar encontrar Deus podemos partir da premissa que ele está, efetivamente, connosco.

A tarefa, agora, é  reconhecê-Lo.

(É que as pessoas podem tentar afastar-se de Deus, mas se olharem com atenção vão conseguir ver que Deus não se afastou delas.)

M

23 de Setembro, 2024

Nem sempre de mãos dadas #5

Crónica anterior da série De mãos dadas - No Renascimento, ainda de mãos dadas #4

*

Até agora, exploramos como é que a arte e a religião andaram, durante séculos, de mãos dadas. Contudo, nem sempre isso aconteceu. De facto, quase todas as grandes religiões do mundo passaram por uma fase anicónica - que, no fundo, consistiu numa proibição de representação do Divino. Pretendia-se, com isto, evitar o pecado da idolatria.

A fase final do Renascimento ficou marcada pela Reforma Protestante, que surgiu num período de muita crítica à Igreja Católica. A população estava insatisfeita com a corrupção e com o poder excessivo que consideravam que o Papa detinha. A Igreja controlava o acesso às escrituras que, por estarem escritas em latim, eram inacessíveis para quase toda a gente. Como consequência desta revolta, a Europa dividiu-se entre Católicos e Protestantes, originando-se diversos conflitos religiosos - como a Guerra dos Trinta Anos.

A arte neste período passou por mudanças significativas que, naturalmente, refletiam as tensões religiosas e culturais da época. Algumas obras religiosas foram vandalizadas e destruídas, com o argumento de que essas imagens sacras podiam ser vistas como formas de idolatria. Na imagem abaixo, pode-se ver um altar cujas cabeças das figuras foram removidas, como consequência deste movimento.

Altarpiece in St. Martin's Cathedral. The figures' heads were removed as a result of Reformation iconoclasm in the 16th century.

Altar da Catedral de St. Martin, Bratislava

Fonte da imagem: www.rauantiques.com

Nos territórios com maior presença da Reforma Protestante, a arte transformou-se. Como se criticava o uso excessivo de imagens religiosas, as igrejas protestantes foram construídas com uma maior simplicidade, com menos ornamentos e imagens e um ambiente mais austero e funcional.

Como resposta a este movimento, surge, por parte dos Católicos, a Contrarreforma que reafirma o uso de imagens religiosas, passando mesmo a utilizá-las como propaganda religiosa. A construção de Igrejas Católicas nesta época foi projetada para impressionar os fiéis com a sua grandeza. A Basílica de São Pedro foi concluída durante esse período e é um exemplo claro desta procura pela monumentalidade e beleza como maneira de fortalecer a fé.

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Interior da Basília de São Pedro, Vaticano

Fonte da imagem: Pinterest

É neste contexto de Contrarreforma que surge uma nova corrente artística: o Barroco. A nível arquitetónico, é importante dar especial destaque para as igrejas e palácios. Os seus arquitetos entendiam que o edifício devia ser uma "grande escultura, única e indivisível"*. Na Europa, é de destacar o Palácio de Versalhes, em França, como um exemplo paradigmático deste estilo impactante. A nível nacional, podemos mencionar o Palácio de Mafra, que reflete o poder da monarquia absoluta da época e os ideais barrocos de imponência e dramatismo.

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Palácio Nacional de Mafra

Fonte da imagem: www.cm-mafra.pt/

A pintura assumiu uma maior diversidade de géneros e dimensões, para ser possível a sua inserção nos espaços arquitetónicos. Para acentuar a intensidade emocional tão valorizada pelo Barroco, recorria-se ao contraste entre luz e sombra e a um jogo de movimento para criar uma sensação de dinamismo.

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Salomé com a cabeça de São João Batista, de Caravaggio

em exposição na National Gallery, Londres

Fonte da imagem: www.nationalgallery.org.uk

Este percurso e dinamismo entre a Reforma e a Contrarreforma comprova como a religião moldou, de forma decisiva, a evolução da arte, dando-lhe novas funções e significados.

Nem sempre estas duas dimensões deram as mãos, mas a arte nunca parou de ser um reflexo vivo das transformações culturais e espirituais da sociedade. 

Na próxima crónica, vamos perceber que este "largar de mãos" não foi um fenómeno isolado no Cristianismo. O foco vai parar de ser esta religião para podermos explorar outras que, de certo modo, também rejeitaram a representação visual do sagrado.

M

 

Bibliografia consultada:

https://rauantiques.com/blogs/canvases-carats-and-curiosities/art-and-religion-a-centuries-old-relationship

https://www.infopedia.pt/artigos/$reforma-protestante?intlink=true

*https://www.infopedia.pt/artigos/$barroco

https://www.youtube.com/watch?v=0eO0pPrGi6o&t=193s

18 de Setembro, 2024

No Renascimento, ainda de mãos dadas #4

Crónica anterior da série De mãos dadas - Na Idade Média de mãos dadas #3

*

Aspiração pela perfeição. O Homem no centro do Universo. Deus vertido na Natureza. Representação fiel da realidade. Utilização de luz e de sombra.

Estas são algumas características marcantes da arte do Renascimento, um período temporal compreendido entre o século XV e o século XVII. Esta foi uma das correntes artísticas mais emblemáticas, que nasceu em Itália, mais concretamente em Florença, mas rapidamente se espalhou para o resto da Europa. Este movimento encontrou a sua inspiração no Classicismo Grego, e pretendia reviver esse realismo e individualismo. Assim, os artistas tentavam mimicar as obras de arte da civilização grega, com especial destaque para as estátuas com detalhes incríveis, como músculos, veias e o tecido da roupa.

Contém uma imagem de: Il David by Michelangelo

"David", de Miguel Ângelo

em exposição em Florença

Fonte: Pinterest

Falar da Arte Renascentista implica falar, também, da família Medici que foi, na época, um enorme mecenas da produção e criação artística focada no humanismo e na representação do ser humano. Apesar de, inicialmente, este movimento ter encontrado alguma resistência por parte da Igreja, esta família de mecenas conseguiu, com a sua influência junto a altos membros do Clero, mudar essa postura, promovendo, assim, não só a aceitação como também o apoio da arte Renascentista.

Um exemplo, certamente por muitos conhecido, desta conexão entre a Arte e a Igreja é o inconfundível teto da Capela Sistina, pintado por Miguel Ângelo a pedido do Papa Júlio II.

Por causa desta incrível obra de arte, várias igrejas pela Europa acolheram este estilo Renascentista, e assim o Renascimento encontrou o seu caminho para as igrejas e catedrais. Assim, a religião continuava a ser o principal tema da arte, sendo ainda a Igreja o maior patrocinador da criação artística.

Imagem do Pin de história

em exposição no Vaticano

Fonte da imagem: Pinterest

Estes séculos marcaram um ponto de viragem no modo como o Homem se via e como encarava o mundo ao seu redor. Enquanto que durante a Idade Média a arte estava profundamente ligada à religião, o Renascimento trouxe um novo olhar que aproximada o divino do humano, sem nunca perder a sua majestade. As criações artísticas continuam, sem dúvida, a ter uma ligação muito forte à Igreja, através das representações da Virgem Maria, dos Santos e Cristo - mas estas imagens passam a ser encaradas e exploradas de formas diferentes. Começam-se, então, a ver traços humanos, corpos proporcionais e emoções reais nas obras, como a estátua de Miguel Ângelo que representa a Virgem Maria com o seu filho, Jesus, morto nos seus braços. 

Através de uma representação mais dramática e emocional - para os espectadores se sentirem impactados pelas histórias sagradas - a arte Renascentista afastou-se e distinguiu-se, assim, da arte da Idade Média, em que os santos eram representados como ícones distantes e quase que inacessíveis.

 

scultoreo.jpg

"Pieta", de Miguel Ângelo

em exposição no Vaticano,

Fonte da imagem: www.vaticannews.va

A religião continuou, sem dúvida, a ser uma força poderosa de criação artística - mas agora com novas técnicas (com especial destaque para a perspetiva) e diferentes preocupações intelectuais, resultando num estilo que combinava o paganismo com o cristianismo, e unia o espiritual com o mundano.

No entanto, a arte do Renascimento não se limitou a temáticas religiosas, tendo ficado para a posteridade diversas obras icónicas desse período, como a misteriosa Mona Lisa. 

Contém uma imagem de: How to Use Atmospheric Perspective to Create Depth in Your Paintings

"Mona Lisa", de Leonardo da Vinci

em exposição em Paris,

Fonte da imagem: Pinterest

Estes séculos ficaram, também, marcados pelo crescente interesse pelo conhecimento científico, filosófico e literário. Foi nesta época que Galileu Galilei comprovou a teoria heliocêntrica, que defendia que era a Terra, afinal, a girar à volta do sol. Esta descoberta foi diretamente contra os ideais geocêntricos (que colocavam o Homem no centro do Universo), e fez com que o cientista fosse julgado pela Inquisição, forçado a renegar publicamente todas as suas conclusões.

Embora a arte e a religião não se encontrassem em conflito direto, a verdade é que com o decorrer do tempo e com o intensificar do pensamento Humanista, começaram a surgir tensões entre os ideais religiosos e esta nova visão do mundo centrada no ser humano.

Esta divergência não levou - pelo menos imediatamente - a um rompimento entre estas duas dimensões, Arte e Religião. No entanto, esta harmonia não durou muito tempo... 

Na próxima crónica vamos perceber que a Arte e a Religião nem sempre deram as mãos.

Até já ;)

M

 

Bibliografia consultada:

https://gulbenkian.pt/museu/read-watch-listen/a-arte-do-renascimento/ 

https://www.historiadasartes.com/nomundo/arte-renascentista/renascimento/https://www.youtube.com/watch?v=_uq9fUmFHL0

https://smarthistory.org/michelangelo-ceiling-of-the-sistine-chapel/

https://www.britannica.com/question/How-did-humanism-and-religion-affect-Renaissance-art

https://www.youtube.com/watch?v=icuXh-9BkuE

https://www.youtube.com/watch?v=tecocKSclwc

13 de Setembro, 2024

Na Idade Média de mãos dadas #3

Crónia anterior da série De mãos dadas - Tudo começou de mãos dadas #2

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A Idade Média é o período histórico da Europa compreendido entre os séculos V e XV, começando após o fim do Império Romano e terminando com o início do Renascimento. A nível social, estes séculos ficaram marcados por transformações profundas e caracterizaram-se por uma organização societária distinta de outras épocas.

A população estava estratificada em três grupos distintos - a nobreza, o clero e o povo. A igreja desempenhava um papel fundamental na sociedade, não só a nível religioso, mas também a nível político e económico. Na Idade Média, a Igreja Católica era a instituição mais poderosa e influente, ditando valores e comportamentos. Os monges e padres eram proprietários de grandes terrenos, controlavam as decisões políticas e ainda tinham o monopólio quase total da educação e conhecimento. 

A economia assentava, essencialmente, na agricultura de subsistência, e o povo passava fome e vivia em situações de pobreza. A formação de cidades e o crescimento do comércio e das feiras medievais levaram ao aparecimento de uma nova classe social - a burguesia. 

Esta época impactou o plano artístico. O foco parou de ser a perfeição humana e a construção de templos, já não havia preocupação de forma ou de estética. As igrejas eram decoradas com ouro e jóias para atrair mais pessoas e as imagens passaram a ser simples, para serem facilmente compreendidas e para se evitarem distrações.

A arte na Idade Média tinha uma função didática acentuada. Como a maioria da população era analfabeta, o acesso às escrituras bíblicas e aos textos teológicos encontrava-se limitado. Assim, a igreja utilizou a arte para transmitir as suas mensagens e ensinar sobre as vidas dos Santos e os milagres de Jesus.

Estas formas de arte e arquitetura produzidas na idade média, com especial destaque para a corrente Gótica, forneciam uma razão tangível e visível para o culto, promovendo o Cristianismo e contribuindo para a unidade e a ordem. Deus dava talento, portanto Deus era glorioso - era este um dos motes para a conversão e veneração do catolicismo.

As catedrais góticas eram consideradas as "bíblias dos pobres", uma vez que toda a sua decoração e composição ensinava a doutrina através das ilustrações contidas nos vitrais, murais e estátuas. A própria arquitetura destas catedrais carregava um simbolismo profundo, vertical, imponente, a transmitir uma ideia de "chegar ao céu".

 

Mosteiro da Batalha - Catedral Gótica Portuguesa

Fonte das imagens: www.museusemonumentos.pt

E como a arte não se limita às pinturas e esculturas, neste período também o teatro, enquanto forma artística, apresentava esta componente educativa, com o objetivo de transmitir a mensagem bíblica.

Depois da queda do Império Romano, a Igreja Católica proibiu a prática do teatro, por considerar essa forma de entretenimento imoral. Ironicamente, foi a mesma instituição que acabou por reavivar esta arte, através da dinamização das histórias bíblicas nos átrios das igrejas.

Estuda-se a história da arte para se conhecer a história do mundo, mas a arte Medieval não se limitava a ser um reflexo da história, era um verdadeiro agente *.

A Lamentação, Giotto

"A lamentação", de Giotto

em exposição em Pádua

Fonte da imagem: www.históriadasartes.com

Na próxima crónica - No Renascimento, ainda de mãos dadas - vamos explorar uma corrente artística que, tal como a Idade Média, apresenta fortes ligações à Igreja, mas cujas representações conseguem ser bastante distintas.

M

 

Bibliografia consultada:

https://www.infopedia.pt/artigos/$idade-media

*https://gulbenkian.pt/museu/read-watch-listen/a-arte-da-idade-media/ 

https://ensina.rtp.pt/artigo/gotico/

https://www.invaluable.com/blog/medieval-art/?srsltid=AfmBOorFXLTLvI6OTge9GOnG3LW5f0ynRKRK0u6ulfy50aq_4Mzi4doO

https://www.medievalchronicles.com/medieval-life/medieval-theatre-images/

 

11 de Setembro, 2024

Tudo começou de mãos dadas #2

crónica anterior da série De mãos dadas - A Arte e a Religião de mãos dadas #1

*

É impossível falar da história da arte sem mencionar - mais do que uma vez - a história da religião. Desde as pinturas rupestres nas Cavernas até obras mais recentes, a arte e a religião são duas dimensões indissociáveis. 

Hoje, vamos perceber como tudo começou.

Antes dos museus requintados e das grandes e belas galerias, a arte tinha uma função bastante diferente da que, atualmente, lhe reconhecemos - antigamente, funcionava como uma dimensão estética da religião. No fundo, a arte servia para acompanhar as histórias contadas. Tal como o apóstolo Tomé, também o ser humano muitas vezes quer ver para crer, e as representações artísticas das histórias de Jesus e da vida dos Santos facilitava a prática da crença. Ao mesmo tempo, a arte servia ainda um propósito educativo, dando a conhecer ao público as passagens da Bíblia, agora vertidas em tinta colorida. 

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"A última ceia", de Leonardo da Vinci

em exposição em Florença

Fonte: Pinterest

Mas antes da Religião Católica dominar o mundo da arte, é possível recuar ainda mais no tempo para perceber como é que diferentes civilizações interligavam estas duas dimensões.

Os Gregos construíam estátutas dos seus diferentes Deuses para o povo ver a sua aparência e os poder venerar. Neste sentido, também os templos - enquanto obra de arte arquitetónica - foram criados para momentos de culto e oração.

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"Grupo de laocoonte", dos escultores gregos Agesander, Polydorus e Athenodorus

em exposição no Vaticano

Fonte da imagem: Pinterest

No Antigo Egito, as pirâmides, os túmulos para faraós e até os hieroglifos eram manifestações artísticas e, simultaneamente, cumpriam com uma função religiosa, refletindo a crença dominante da vida após a morte. Mais do que um sistema de escrita, os egípcios encaravam esses hieroglíficos como uma arte sacralizada que possuía poder mágico.

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"Great Sphinx of Tanis"

em exposição no Museu do Louvre

Fonte da imagem: www.louvre.fr

Neste início da história, uma parte das representações artísticas focavam-se na mitologia, mas frequentemente eram também celebradas pessoas comuns, como atletas, filósofos e guerreiros. Foi depois da queda do Império Romano que os artistas começaram a trabalhar, quase exclusivamente, sob a influência do clérigo.

Inevitavelmente, a religião começou a monopolizar as criações artísticas da Arte Ocidental. Assim, desde a Idade Média até ao fim do século XVII, a grande maioria desta arte representava e referenciava a doutrina Cristã.

Dizem mesmo que foi a Arte que ajudou o Cristianismo a tornar-se na maior religião Europeia durante séculos.

Nas próximas crónicas, vamos explorar como a Religião e a Arte deram as mãos na Idade Média e no Renascimento, percebendo de que forma uma dimensão ajudava no crescimento da outra.

M

 

Bibliografia consultada:

https://rauantiques.com/blogs/canvases-carats-and-curiosities/art-and-religion-a-centuries-old-relationship

https://owlcation.com/social-sciences/Relationship-Between-Religion-and-Art

 https://www.worldhistory.org/Egyptian_Hieroglyphs/

https://youtu.be/qfITRYcnP84

09 de Setembro, 2024

A Arte e a Religião de mãos dadas #1

Adoro viajar, conhecer sítios novos e explorar cidades diferentes. Gosto de ir visitar todos aqueles pontos mais turísticos, quase como se estivesse a colecionar cromos para a caderneta de guia daquela cidade - desde pontes, museus, edifícios, esquinas de ruas bonitas e miradouros. Mas encontro um limite nesta lista de "sítios imperdíveis" - as igrejas.

Não consigo gostar de visitar igrejas com o objetivo de visitar arte, do mesmo modo que se visita um museu. E não é que não reconheça a beleza arquitetónica e interior desses espaços - isso nem está para debate!, mas enquanto local de culto e oração, não me agrada quando as igrejas são mais um item na lista de sítios a visitar na cidade escolhida como o nosso destino de férias.

Contudo, numa recente visita a uma catedral muito bonita em Saint-Omer, dei por mim a pensar que se calhar podia estar a olhar para o tema com uma mente mais fechada do que a que gostaria de ter. Em vez de criticar estas visitas de arte-e-turismo, devia tentar compreender todo o contexto para, quem sabe, aprender a valorizar a arte exposta nas paredes e altares de tantas igrejas incríveis espalhadas pelo mundo.

Decidi, então, começar a pesquisar sobre o assunto, e rapidamente me apercebi que este tema tinha panos para mangas para umas quantas crónicas aqui no blog. Assim, nasceu a ideia desta pequena coleção "De mãos dadas", que tem como objetivo perceber de que maneira é que a Arte e a Religião interagiram ao longo dos séculos.

Para começar, importaria definir o conceito de arte. Mas já vários filósofos o tentaram fazer, e a nenhum acordo se conseguiu chegar (aliás, este dilema de definição até já mereceu uma crónica neste blog). Ainda assim, é relevante relembrar que quando nos referimos a arte não falamos apenas da arte paradigmática da pintura cuidadosamente pendurada nas paredes de um museu para admiração pública. O conceito de arte engloba música, arquitetura, teatro, design, literatura, poesia e tantas outras coisas.

Paralelamente a este conceito de difícil caracterização, surge outro igualmente complexo: a religião. Para não complicar nem começar a divagar pela filosofia do assunto, achei melhor recorrer ao dicionário. Ora, segundo o Priberam, religião é o culto prestado à divindade; doutrina ou crença religiosa. É esta a definição que, para efeitos de interpretação das crónicas que aí vêm, vamos seguir.

Apesar da falta de limites palpáveis, deu para perceber que ambos os conceitos são difíceis de definir, e ambos são alvo de várias teorias filosóficas - logo aqui, já se começam a encontrar algumas semelhanças entre os dois!

Se é verdade que a arte nasceu quando o homem apareceu, parece ser igualmente verdade dizer que a religião surgiu ao mesmo tempo que o homem. Quase tão enigmática como a famosa questão "quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?" surge uma outra questão: "quem apareceu primeiro, a arte ou a religião?". Podemos falar dos desenhos rupestres como as primeiras manifestações artísticas da humanidade, mas há historiadores que associam essas práticas a rituais espirituais, portanto a questão parece continuar sem resposta.

De qualquer modo, pouco importa saber se a arte apareceu depois da religião ou a religião depois da arte - a verdade é que durante largos séculos estas duas dimensões andaram de mãos dadas. 

Agora, vamos (tentar) perceber o como e o porquê!

Encontramo-nos na próxima crónica - Tudo começou de mãos dadas.

M