Projeto em Construção
Somos seres humanos - o que é o mesmo que dizer que somos seres imperfeitos, seres em constante mudança, seres dotados de uma consciência capaz de percecionar as falhas e os defeitos. Seres que, depois, decidem melhorar essas lacunas identificadas.
Mas a linha entre o desejo de mudar e a obsessão pela melhoria contínua é muito ténue. De repente, parece que a moda é tratar o ser humano como um projeto em construção com necessidade de constante evolução.
Parece que nunca somos bons o suficiente, e há sempre livros de auto-ajuda à disposição, prontos para nos dizer precisamente isso. Ensinam-nos O Poder do Agora, mas dizem-nos para Não ficar onde já não se está. Impingem-nos A Rotina Matinal Perfeita e falam-no de Hábitos Atómicos para incentivar a produtividade, ao mesmo tempo que vendem guias de mindfulness e relaxamento.
Quando é que parou de ser aceitável ter falhas e começou a ser falhanço não embarcar nesta jornada de auto-conhecimento em direção à nossa melhor versão?
O problema de o ser humano ser visto como um projeto em construção é a realização de que nunca vai estar finalizado. É perceber que o sinal "trabalhos a decorrer" vai-se manter a ocupar espaço, e ver que o caminho não tem um destino - é sempre a andar em círculos, a melhorar o que já foi melhorado. É arriscar passar uma vida de insatisfação constante, resultado da comparação com um eu inatingível.
E será que é essa a vida que queremos? Uma vida em que a auto aceitação é substituída pela autoavaliação? Onde cada hábito que temos tem que contribuir para o sucesso que nos dizem que temos de querer, e não à simples diversão? Uma vida em que o maior objetivo é preencher uma lista de metas, em vez de encontrar as metáforas das coisas belas da vida?
Onde é que o trabalhar para nos tornarmos na nossa melhor versão termina?
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