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Designing My Dream Life

28 de Fevereiro, 2024

Seremos como os macacos?

A teoria da evolução de Darwin diz-nos que evoluímos dos macacos, pondo a coisa assim de uma maneira simplista. Com o passar do tempo, esta evolução terá ocorrido não só a nível físico mas também a nível cognitivo. Partilhamos o polegar oponente com os nossos irmãos primatas, mas a racionalidade do ser ficou toda para nós (comuns mortais).

Há uns tempos ouvi falar de um estudo que pretendia medir os níveis de dopamina no cérebro antes da recompensa e depois desta ter sido atingida. Este estudo foi feito em animais - mais concretamente (vai se lá a ver!)  em macacos!

Os resultados foram mais ou menos surpreendentes. Os macacos foram treinados para realizar tarefas que, uma vez cumpridas, davam direito a uma recompensa. Os animais não eram burros (...eram macacos!) e começaram a aperceber-se do padrão - isto é, começaram-se a pressentir a antecipação da recompensa. O macaco percebia que ia ganhar a tão desejada recompensa e isso aumentava a motivação dele para o desempenho da tarefa em mãos (ou...patas).

E o que é que isso interessou aos neurologistas? Ora, o que o estudo veio mostrar foi que a antecipação da recompensa era, a nível cerebral, mais estimulante do que a recompensa em si. A dopamina, afinal, não se produz com a felicidade nem com o prazer em si, mas sim com a sua procura.

Segundo os entendidos, a dopamina é uma substância química produzida pelo cérebro que desempenha um papel crucial em diferentes funções, nomeadamente a nível da motivação (sabem? aquela coisa que todos dizemos precisar para agir, em vez da tão necessária consistência).

Mas seremos nós - humanos (alegadamente) dotados de capacidade racional e emocional  - como os macacos? Será que o nosso cérebro fica elétrico com a possibilidade da recompensa mais do que com a recompensa em si? Será que somos a personificação daquele ditado popular do burro a correr atrás da cenoura?

Bem, parecem achar que sim. Aliás, pelo que percebi toda a ideia do estudo era precisamente essa: estabelecer, por analogia, a nossa reação cerebral à antecipação da recompensa tendo em conta o resultado do estudo feito em macacos.

Não tenho, como devem imaginar, máquinas em casa para medir o meu nível de atividade cerebral no momento pré-recebimento-de-recompensa, mas até certo ponto consigo perceber como nos podemos assemelhar aos macacos do estudo. Muitas vezes, pomos tanta ênfase no processo, na luta, no percurso que quando chegamos ao destino final (a tal recompensa) se calhar já toda a motivação parece ter-se perdido pelo caminho. Parece que, de certa forma, somos mais impulsionados pelo que podemos atingir na meta do que pelo que realmente vamos alcançar.

Isto pode ser bom e pode funcionar a nosso favor - mas todas as moedas (que vi até agora, pelo menos) têm dois lados, e esta coisa da antecipação-da-recompensa-como-coisa-boa não é exceção. Às vezes, pode acontecer ficarmos tão focados nesta busca incessante pela recompensa que damos por nós a viver sempre no futuro. Nem aproveitamos o presente em que estamos, nem o futuro que tanto ansiamos realmente chega, porque quando finalmente recebemos a recompensa o nosso cérebro, aparentemente, já está a libertar dopamina a pensar na recompensa seguinte - não chegou a apreciar a recompensa que passámos os últimos tempos a tentar alcançar.

Aquela expressão popular "o importante é o caminho, e não o destino" não é , vamos a ver, tão precisa quanto isso: afinal, vieram-nos mostrar os macacos, o importante no nosso cérebro é precisamente ir atrás do destino, o caminho não vale para nada.

É interessante pensar que apesar de toda a evolução e apesar de tudo o que agora nos distingue dos macacos, ainda partilhamos com eles certos impulsos instintivos. Fica, como se costuma dizer em inglês (mas traduzindo para a nossa língua, porque não sei se os macacos falam estrangeiro), comida para pensamento.

Seremos como os macacos? Ou a escalada é mesmo mais importante do que o cume do monte?

M

 

26 de Fevereiro, 2024

Vidas Passadas

Na semana passada fui ao cinema ver o filme Vidas Passadas que está nomeado para os Óscares na categoria de melhor filme. Sem muito perceber desta sétima arte, e sem querer revelar muito da história a quem não a viu, queria só deixar aqui registada a minha (humilde) opinião.

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O filme foca-se, essencialmente, no reencontro de um amor de criança anos mais tarde numa diferente cidade. Bem sei, isto podia ser o resumo de outros mil filmes de amor, mas este consegue distinguir-se de todas as comédias românticas (que tanto gosto de ver, como já partilhei em diversas ocasiões) por vários motivos.

Vidas passadas não é um filme previsível, com final feliz e uma mensagem de esperança típica de um amor que vem e salva tudo. É, sem dúvida, uma história de amor: mas uma história que mostra um amor cru e vulnerável. Em vez do cliché há realidade, em vez do melodrama há humanidade e isso deixa-nos presos ao ecrã por razões diferentes daquelas a que, se calhar, estamos habituados. De facto, trata-se de um filme em que todas as cenas são bastante calmas e onde não existem as típicas discussões de tremer a terra, dramas e desafios agitados a que nos acostumaram os filmes mais comerciais. Aqui, as cenas são calmas e tranquilas, mas isso nunca põe em causa a intensidade e rapidez da ação e dos sentimentos.

A par do amor desenvolve-se um outro tema mais profundo: uma questão de identidade entre as duas nacionalidades da personagem principal, e a realização de que teria vivido vidas muito diferentes se agisse com base em cada uma delas.

Do pouco que percebo, achei que a realização do filme estava genial: com cortes e posições de câmara muito bem conseguidos para acentuar algumas ideias e figurantes em 2º plano que não tendo uma história própria dão mais vida ao enredo principal.

É um filme simples, no melhor sentido que podemos atribuir à palavra. Não tem reviravoltas,  grandes gestos românticos nem acidentes do destino. Há muitos silêncios e diálogos que ficam a meio, e mesmo assim a história conseguiu acertar em cheio. Gira um pouco à volta da possibilidade do e se...? e responde a essa questão com uma maturidade e complexidade muito bonita de se ver.

A cena final está carregada de uma verdade, sensibilidade e delicadeza enorme, deixando-nos a pensar que não poderia haver outro final que não aquele.

Não foi, de todo, difícil perceber como e porque é que Vidas Passadas está agora nomeado para um Óscar. Mas vejam o filme e tirem as vossas conclusões ;)

M

23 de Fevereiro, 2024

com*par*ti*men*tar

Será possível compartimentar diferentes áreas da nossa vida em caixinhas separadas, para nada se misturar e nada afetar - para o bem, ou para o mal - o resto? Umas vezes sei que não, outras quero acreditar que sim.

Somos um todo composto por diversas partes, mas até que ponto podemos deixar que elas se misturem todas? Porque de que importa a qualidade dos ingredientes de um bolo se o resultado final não é saboroso?

Às vezes olhamos para a nossa vida e tentamos organizá-la em gavetas devidamente identificadas. Cada área parece ter as suas próprias regras, a sua própria versão de nós, os seus próprios limites. É tentador acreditarmos que podemos manter tudo separado, como se esses compartimentos que inventamos se transportassem mesmo para a vida real. Mas será isso possível?

Acho que somos mais do que a soma das nossas partes, e inevitavelmente tudo se entrelaça e mistura de maneiras que nem sempre podemos controlar. É importante sabermos separar as coisas mas às vezes isso não é possível. Mas será que falhar na organização de uma dessas gavetas implica que somos uma confusão total? Fará sentido uma área da nossa vida afetar como (nos) vemos em todas as outras?

Tenho mais perguntas que respostas, bem sei.

Mas é que às vezes preciso mesmo de saber: será que dá para com*par*ti*men*tar? 

M

21 de Fevereiro, 2024

Sobre a Criatividade

Em setembro escrevi no blog e tentei definir o que era, para mim, a criatividade.

Tenho pensado muito sobre toda esta questão da criatividade e o que isso realmente significa para mim. Quando falo em criatividade não me refiro ao ato literal de criar algo novo, como um texto ou uma pintura.

Para mim, a criatividade é a possibilidade de poder pensar e imaginar sem limites. De sonhar para além do que já foi feito e reinventar o que já vimos fazer tantas vezes. É a opção de escolha entre o simples e fácil ou o complexo que desafia e exige (auto)crítica.

É o tempo que não é passado a pensar em maneiras de ser produtivo e que acaba, por algum motivo, a aumentar a produtividade. E é, também, a permissão própria de ter más ideias e de as aceitar como elas são.

Este tema continua relevante na minha vida. Tenho refletido bastante sobre como é que isto de ser criativa influencia a minha vida e como me posso aproveitar desta criatividade. Quais os passos para encontrar inspiração, e o que fazer com ela depois.

Hoje, decidi vir partilhar algumas notas sobre este tema, umas coisas que fui aprendendo e apercebendo no decorrer desta jornada.

1. A criatividade requer coragem

O dia em que decidimos que somos ou que queremos ser criativos é um dia importante e decisivo. Depois da realização de que queremos viver uma vida criativa - seja em que área for - precisamos de agir. E essa ação requer coragem. 

À  primeira vista, pode parecer que não e que isto é um exagero, mas à medida que avançamos neste caminho para a criatividade e quanto mais nos ligamos com esse nosso lado mais nos apercebemos de toda a coragem que é, realmente, necessária.

É preciso coragem para começar e dar aquele primeiro passo onde tudo ainda é desconhecido. Coragem para partilhar com os outros o que se fez e ouvir diferentes opiniões. Coragem para ir atrás daquela voz que nos chama a ir mais longe, e coragem para não ter medo do julgamento que pode chegar. É preciso coragem para continuar, coragem  para calar as próprias dúvidas e coragem para sonhar.

Coragem para romper com o esperado e expectável, coragem para continuar a tentar quando o falhanço parece ser a única coisa que conseguimos criar e coragem para termos a audácia de achar que vamos mesmo conseguir.

(E já sabemos: nem sempre é  fácil ter coragem. Por vezes, é mais fácil ficar na zona de conforto, é mais fácil não arriscar e não tentar. É mais fácil ficar tudo o mesmo. Mas será que é melhor?)

Acima de tudo, sinto que é preciso coragem porque estamos, se assim o quisermos, a mostrar a nossa vulnerabilidade. A expressar os nossos pensamentos profundos ou aqueles que passam de relance, as nossas emoções verdadeiras ou aquelas que, quase sem querer, admitimos que gostávamos de ter

 

2. Confia na tua criatividade

Muitas vezes, estamos programados para seguir o que é o suposto, o que é o caminho mais comum. Somos ensinados desde cedo a seguir determinadas regras, mas para nos conectarmos de modo pleno com a nossa criatividade precisamos de desafiar essa mentalidade.

Se confiar em nós próprios parecer demasiado arriscado, proponho confiarmos na nossa criatividade. Confiar que somos capazes, confiar que aquilo que sentimos nos está a indicar o caminho certo. Confiar naquela sensação que nos motiva e incentiva a fazer mais e melhor, e que nos diz que é precisamente isso que precisa de ser feito.

Confiar na nossa criatividade também significa confiar no processo criativo em si - e saber que haverá momentos de bloqueio, em que não nos sentimos conectados com o nosso lado criativo. Mas essa confiança permite-nos seguir caminho, por saber que estas alturas fazem parte da jornada e que a inspiração está por aí à espera de encontrar o caminho até à nossa criatividade.

Para além disso, confiar na nossa criatividade implica também sabermos filtrar a opinião do outro, sem descurar a sua importância, ao saber que estamos no que sentimos ser o caminho certo.

No final do dia, confiar na nossa criatividade significa acreditarmos no poder que ela pode - e consegue mesmo - ter.

 

3. Sonha Alto

Não devemos definir objetivos pequenos e que pareçam fáceis ou simples de atingir. Temos de sonhar. Sonhar muito e sonhar alto. Sonhar como se tudo fosse possível e sonhar como se fosse a única coisa que podemos fazer.

Imaginar o que parece ser impossível e tentar fazer precisamente isso. 

Sem deixar de lado a importância do sonho, é importante perceber que ele sozinho não é suficiente: é preciso compromisso, dedicação e trabalho árduo para os sonhos se materializarem.

Não podemos deixar que os nossos sonhos não passem de isso, é preciso trabalhar e correr atrás deles - para um dia, quem sabe, serem os sonhos a correr atrás de nós.

M

19 de Fevereiro, 2024

A cidade como personagem principal

Normalmente, numa narrativa a personagem principal é alguém que desempenha um papel central na história. É a pessoa que enfrenta desafios, toma decisões importantes e é o epicentro da ação que se desenrola ao longo do enredo. 

Na semana passada visitei (de novo) Paris, e se dúvidas houvesse, todas se evaporaram: nesta história é a cidade a personagem principal.

Já há muito tempo que Paris se tornou a minha cidade preferida (prémio que, desde Erasmus, começou a ser partilhado com Liubliana, a minha casa durante uns meses), e esta visita foi, sem dúvida, uma reconfirmação desta enorme paixão.

Tudo em Paris nos convida a perdermo-nos pelas ruas sem olhar para o mapa, e usar como Norte a Torre Eiffel que se vê no horizonte, pelo meio dos edifícios altos. O pescoço fica dorido de olhar para cima para nos permitir maravilhar com a beleza e grandiosidade de todas as construções, e as pequenas janelas preenchidas com vasos de flor fazem-nos desejar ali ter morada.

As ruas são, por si só, arte. São como galerias a céu aberto onde a vida quotidiana se desenrola à nossa frente quase sem darmos por isso. E os museus incríveis que por lá existem funcionam como um prolongamento desta arte que vemos na rua. Permitem-nos viajar pela história através da arte (haverá uma melhor maneira?) e deixam-nos perplexos a refletir sobre como tanta arte verdadeiramente boa foi criada.

Nesta última viagem, tive a oportunidade de visitar pela primeira vez o Museu Orangerie, e fiquei a pensar em como tinha de atualizar a minha lista feita numa crónica recente "O Privilégio da Arte Bonita".

Com uma coleção impressionista verdadeiramente impressionável e o acompanhamento de uns pequenos textos que nos permitem mergulhar na mente dos pintores, não demorou muito para este museu ganhar um lugar alto no meu ranking de museus preferidos e me conquistar o coração.

Mesmo com a chuva, Paris não perdeu o seu encanto e tudo o que revi maravilhou-me como se da primeira visita se tratasse. A cidade assume uma personalidade diferente com este tempo, não se deixando desanimar com a meteorologia (como tantas vezes fazemos) e ganha um encanto novo. As cores mais escuras fazem realçar pormenores que se calhar de outra forma passariam despercebidos, como os pontos de luminosidade nos edifícios trazidos pelo dourado, ou os detalhes trabalhados em pedra na borda das janelas de que tanto gosto.

Paris é uma cidade complexa, como comprova a sua densa linha de transportes públicos e a simultaneidade de ações. Tem uma identidade única que nos faz imediatamente reconhecer o sítio onde estamos - pela sua arquitetura elegante, atmosfera cultural, majestosos monumentos e pelas famosas brasseries. É uma cidade que respira história a cada esquina, e que foi o palco de momentos históricos importantes, desde a execução de Maria Antonieta às Revoluções Francesas. Foi um dos primeiros centros artísticos na Europa, e o epicentro de muitas correntes artísticas, como o impressionismo e o cubismo.

Não é preciso olhar com muita atenção: rapidamente nos apercebemos de que Paris é muito mais do que apenas um cenário para as nossas vidas, ou um destino para as nossas viagens. É uma verdadeira personagem principal, com as suas próprias emoções e histórias para contar.

É uma cidade que tem vida própria, e que dá vida a tantas outras vidas. Uma cidade que tem arte na rua e que tem arte nos museus. Uma cidade que tem cultura, que tem um espírito verdadeiramente só seu, e que traz um sentimento especial a quem a visita. Deixa quem por lá passa a querer mais, a sentir que ainda falta alguma coisa para conhecer.

Nesta narrativa, nós somos apenas figurantes que temos a sorte de a nossa história por lá passar.

Paris não é uma cidade - é cidade, e é a personagem principal.

M

16 de Fevereiro, 2024

Vêm comigo? Desafio #1

A "zona de conforto" é um sítio agradável para estar, mas às vezes faz falta dar o salto, arriscar um bocadinho mais. Sair desse espaço confortável para descobrir que existe vida do outro lado.

Por querer explorar sempre mais o meu lado criativo e gostar de me ligar com a inspiração que anda por aí à solta, tive a ideia de criar um desafio, que decidi chamar Fora do Conforto Criativo.

Idealmente, espero realiza-lo durante o mês de fevereiro, mas não pretendo ser demasiado rígida comigo mesma nem pôr algum tipo de pressão sobre o que é suposto ser (e é, realmente) uma coisa boa, que serve para me divertir e descontrair.

O objetivo principal é encontrar inspiração em sítios novos, descobrir mais criatividade dentro de mim e criar coisas novas e diferentes.

São 5 as tarefas que compõe este Desafio, e que podem ser executados em qualquer ordem. No final de os completar a todos venho aqui partilhar o resultado, mas até lá deixo o meu convite para, se acharem que se podem divertir também, se juntarem a mim neste desafio, adaptando-o ao vosso estilo de arte e de vida!

Azul e Bege Minimalista Chique Desafio de Música

1. Escrever num sítio diferente do habitual

A ideia é deslocar-me, de propósito, a um sítio fora de minha casa para escrever (ou pelo menos tentar escrever) uma nova crónica.

Normalmente escrevo sempre à noite, sentada na minha cama antes de ir dormir. Primeiro esta rotina começou por uma questão de conforto e logística: é à noite que tenho mais tempo para mim, e em que posso parar sem o meu cérebro sentir que há mil outras coisas que podia estar a fazer (normalmente, não consigo estudar à noite então este tornou-se o tempo ideal para escrever). Contudo, quando fiquei de férias e com tempo livre para fazer o que queria e quando queria, apercebi-me que a rotina que começou por uma simples organização de tempo tornou-se num verdadeiro hábito um pouco conformista. Parece que sempre que me sento na cama e abro o computador, a inspiração e a criatividade sabem que estão a ser chamadas.

O objetivo é, então, dirigir-me a um local diferente, precisamente para me puxar fora da minha zona de conforto criativo e quase como que ensinar o meu cérebro que a inspiração pode ser encontrada noutro sítio para além de entre as 4 paredes do meu quarto.

 

2. Escrever uma crónica à mão - e não no computador, como tenho por hábito

Quando, em Erasmus, comecei o Blog escrevi à mão todas as ideias que tinha dentro de mim e nem sabia, e começava-as a desenvolver nesse caderno cor de rosa para só depois passar para o computador.

Atualmente, escrevo sempre em computador e a grande maioria das minhas crónicas é escrita diretamente na página de edição do Sapo Blogs - mais uma vez, parece que o meu cérebro se programou para assim que vê essa página de edição começar a produzir.

A proposta é, então, que escreva uma crónica à mão, para ver se há algo no processo criativo que é alterado.

 

3. Cinco minutos de brainstorming de ideias

Por mais ridículas ou inatingíveis que as ideias possam parecer, o desafio é ligar o cronómetro por 5 minutos e escrever o máximo de ideias possíveis. Podem ser ideias de temas para possíveis textos ou para outros projetos artísticos, o objetivo é gerar um fluxo criativo de ideias se julgamento nem restrições. Acredito mesmo que no meio do que podem ser consideradas ideias más conseguimos, com um bocadinho de sorte, encontrar a próxima grande ideia

 

4. Reescrever um texto escrito por outra pessoa

Este é um desafio giro para darmos asas à nossa imaginação, sem termos que criar algo novo de raiz. A ideia é escolher um texto (ou um excerto) escrito por outra pessoa e escrever à “minha maneira” (seja lá o que isto for).

O resultado final pode não ter nada a ver com o texto original - esse é mesmo só o ponto de partida que pode resultar numa coisa completamente diferente.

 

5. Experimentar uma arte diferente

A ideia é diversificar o olhar, abrir os horizontes da inspiração e experimentar uma coisa nova. Este ponto aqui será diferente para cada pessoa: pode ser experimentar pintar um quadro, fazer uma refeição nova, brincar com plasticina ou arriscar na arte da joalharia.

 

Estou muito entusiasmada para começar este desafio e partilhar tudo aqui no blog! 

Espero que se juntem a mim!! Usem a tag #foradoconfortocriativo para poder ver os vossos desafios a serem cumpridos, e sintam-se à vontade para pegar na imagem que deixei neste post ;)

Vamos descobrir toda a inspiração que existe Fora do Conforto Criativo!

Vêm comigo?

M

12 de Fevereiro, 2024

O outro também sofre

Às vezes acontece estarmos tão focados na nossa bolha de dor e de queixas que nos esquecemos de olhar para o lado. Concentramo-nos tanto nos nossos problemas e nas nossas desilusões que ignoramos quem está à nossa beira. Se calhar, até os culpamos silenciosamente por não verem como nós é que estávamos mal.

É fácil cair na armadilha de pensamento que nos convence de que só a nossa dor é que conta. Só a nossa dor é que é válida, e só a nossa dor é que merece ser curada. Metemos na cabeça que a nossa narrativa é a única que existe e é a única que merece ser contada - e aquela pessoa que julgávamos por não nos comprender tem, afinal, uma dor sua e uma dor grande. 

É fácil julgar quem não compreendemos, e é fácil julgar quem não nos compreende. Mas se pensarmos bem, nós somos os outros que os outros se queixam.

Da próxima vez, é melhor olharmos para o lado. É que sabem?

O outro também sofre. 

M

09 de Fevereiro, 2024

Quando ninguém está a ver

Quando não há ninguém por perto. Quando não há ninguém longe que queiras impressionar. Quando estás sozinho em casa ou rodeado de desconhecidos que nada querem ter contigo. Quando ninguém está a ver.

Quem és tu?

Fora dos filtros cuidadosamente escolhidos. Fora do conforto da casa e do conhecido. Fora do faz-de-conta bem planeado. Fora da personagem que tentas manter.

Quem és tu?

Às vezes com intenção, outras sem darmos por isso, acabamos por ser uma pessoa diferente daquela que somos quando estamos sozinhos, influência não só do sítio odne estamos mas também da companhia com quem estamos. É normal assumirmos papéis distintos nos vários contextos sociais da nossa vida, mas às avezes parece que essa diferenciação extrapola os limites do que seria o suposto (mas este limite é imposto por quem?).

Somos influenciados pelas opiniões dos outros e pelo julgamento que nem sequer chegou a acontecer. Pelo medo do que alguém vá pensar e pelo facto de estar muita gente a olhar. Somos influenciados pelas expectativas que achámos que criaram para nós e pelos costumes sociais que sentimos ter de seguir.

Quem és tu?

Um dia somos confrontados com a solidão e a distância, e estamos a olhar para o nosso reflexo no espelho e essa pergunta berra pelo silêncio daquele espaço: quem sou eu agora que ninguém está a ver?

É bom que saibamos responder a essa pergunta - porque se não conseguirmos, vão ser os outros a decidir por nós.

M

07 de Fevereiro, 2024

Onde está a inspiração?

Dos criadores do conhecido filme Onde está o Nemo? chega a nova procura artística: onde está a inspiração?

Desde que criei o blog ando mais ativamente à procura de inspiração para aqui continuar a escrever. Como a inspiração não é uma coisa que dê para comprar numa loja, tenho de me esforçar um bocadinho e refletir, conscientemente, como é que isto funciona para mim.

O primeiro passo, sinto, é manter-me disponível a receber inspiração de todo o lado. Tudo o que vejo, ouço ou leio tem potencial. Tudo pode despoletar um pensamento que se torna interessante o suficiente para se converter em inspiração. Tenho ideias que surgem sem eu dar por isso, e outras que vêm de um sítio que eu consigo identificar. 

Sinto que - comigo, pelo menos - a inspiração vem mais rápido quando não estou obsessivamente à procura dela. Não sou o tipo de pessoa que se senta em frente ao computador à espera que uma ideia caia em cima de mim, prefiro andar pelo meu dia tranquilamente ao saber que quando menos esperar a inspiração faz uma visita. 

problema surge quando estas visitas não são constantes e de repente já passou demasiado tempo e não se avista nem ao longe um bocadinho (por mais pequeno que seja) de inspiração.

(Onde está a inspiração? Dentro de nós!)

Aqui é importante passarmos ao passo seguinte, e aplicar aquele velho ditado: quando Maomé não vai à montanha, vai a montanha a Maomé. Que é como quem diz: quando a inspiração não vem ter connosco, vamos nós ter com ela.

E neste ponto é importante aquilo que tanto se fala do auto conhecimento. Logo no início deste blog, escrevi um texto em que listava algumas das minhas fontes de inspiração da altura. Apesar de ainda ter o seu quê de atual, sinto que o último ano foi profícuo nesta jornada de criatividade e inspiração, e agora já tenho uma coisas diferentes para dizer.

Para ser possível ir ter com a inspiração, precisamos de nos conhecer: perceber o que nos faz vibrar, o que despoleta em nós uma vontade e uma necessidade de criar algo novo, o que nos espanta e o que nos incentiva.

Para mim, o que tem resultado é ter experiências novas: dar uma oportunidade a diferentes hobbys, explorar vários temas na minha escrita, ouvir opiniões distintas das minhas, pesquisar assuntos para mim desconhecidos, visitar sítios variados, ver muitos tipos de arte (incluindo aquela que não percebo), ler coisas que gostava de ter sido eu a escrever e apanhar ar fresco na cara.

Admito que nem sempre é fácil e que, às vezes, por mais que faça estas coisas todas a inspiração não vem bater a porta, mas também percebo que seja necessário, de tempos em tempos, fazer uma pausa. E muitas vezes, tenho-me vindo a aperceber, essa pausa dá-me novas forças e novos temas para voltar às minhas crónicas. Tenho semanas em que escrevo, quase num só dia, 3 ou mais textos - e outras em que por mais que mexa e remexa com as palavras nada parece ser bom o suficiente.

Nestes momentos, tento-me lembrar que a inspiração não desapareceu: continua por aí, à espera de ser descoberta, à espera de ser olhada com olhos diferentes que tantas vezes já viram a mesma coisa, à espera de ser desenterrada do quotidiano rotineiro.

Há ideias que surgem de maneira inesperada, sem termos de fazer um esforço consciente para isso - e outras ideias que requerem um bocadinho mais de trabalho.

(Onde está a inspiração? Onde a formos procurar e onde a quisermos encontrar!)

Depois de termos a inspiração, temos de agir: nada acontece se ficarmos parados. É aqui que surge um verbo importante: criar. Criar sem medo, criar sem limites, criar como se ninguém estivesse a ver, e criar como se fosse a única coisa que podemos fazer para sobreviver. Não deixar preso dentro de nós a criatividade toda que sentimos explodir. 

Para mim, o ato de criar é um ato corajoso: é termos a audácia de dar forma a uma ideia, de trazer para a vida real aquilo que (ainda) só existe na nossa cabeça. É preciso coragem para confiarmos na nossa capacidade de moldar o abstrato numa realidade tangível: seja isso um texto, uma peça de cerâmica ou um quadro.

E é importante criamos sem pensar no que vem a seguir: sem pensar em quem vai gostar ou o que vão criticar. Sem pensar se vão ler este texto por ser tão maior que o habitual, e sem pensar se vamos ou não ser compreendidos. 

(Onde está a inspiração? Na criação!)

Estando a inspiração concretizada nisto da criação, surge um sentimento final: o orgulho. Podemos ser os únicos a apreciar e gostar do que fizemos, mas não podemos deixar o orgulho passar despercebido. O orgulho de nós próprios de termos tido a coragem de nos conectar connosco mesmo, de termos partilhado as nossas experiências e emoções e termos encontrado, pelo caminho, a voz certa para o fazer. 

E para isto resultar precisamos de mandar embora um outro sentimento: a vergonha. Só quando a perdemos é que conseguimos chegar ao momento sublime da criação, o apogeu da inspiração. A autenticidade é que importa, a perfeição não é para aqui chamada.

(Onde está a inspiração? No orgulho que tenho de mim mesma!)

É que isto da inspiração não é um destino que é alcançado, não é um caminho que tem um fim. É um percurso que demora e que merece ser vivido com calma. Onde há banquinhos para nos sentarmos a descansar, e vistas incríveis para apreciar. Onde podemos correr para depois parar.

Onde podemos ser nós próprios e onde isso é mais do que suficiente.

M

05 de Fevereiro, 2024

Viajar no Tempo

Quando pensamos em viajar no tempo, se calhar imaginamos uma grande máquina ou um robô que fala e gira, mas se pensarmos melhor vemos que há outras (e mais simples) maneiras de regressar ao passado.

A papinha de fruta que como faz-me voltar aos domingos em que ia à piscina com os meus pais. Um cheiro específico leva-me para um tempo que já não volta mais. A massa de frango que cozinho tenta copiar a que faziam para mim há uns anos. E o vislumbre de um rosto de um desconhecido na rua faz-me pensar em quem já não faz parte do meu quotidiano.

A memória é uma coisa engraçada de tentar perceber. Guarda certos momentos em caixinhas bem escondidas e quando achamos que a chave desse cofre já está perdida, passa pelo nosso ouvido um determinado som e voltamos a um sítio que não nos lembrávamos de existir. Um cheiro que aparece inesperadamente transporta-nos a um passado que já ficou bem lá atrás e um simples toque pode despoletar memórias que jurávamos ter esquecido.

Acho que é, também, possível viajar para o futuro da mesma maneira. Que quando o coração está tão feliz como o sorriso que trazemos na cara, estamos a projetar o que se vai repetir num amanhã que há de chegar. Que um olá como estás? que dizemos hoje abre portas para uma relação que vai perdurar pelos tempos que vêm. Que os momentos alegres que vivemos agora transportam-se para o futuro em forma de memória, e que a pergunta que fazemos com medo abre-nos portas para um sítio onde nunca pensamos que íamos conseguir chegar.

Viajar no tempo é mais fácil do que parece, afinal. Só não podemos correr o risco de nos perdermos em tanta viagem e esquecer de viver o que é verdadeiramente mais importante: o agora.

M

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