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Designing My Dream Life

31 de Janeiro, 2024

De quem é a culpa?

O trabalho que queríamos não nos é oferecido, o plano sai furado e a relação termina torta. O sol não apareceu quando precisávamos e o que queríamos comprar está esgotado. Algo corre mal - isto é, como não queríamos que corresse - e procuramos alguém para pôr as culpas. 

Ou se diz que é o destino que não quis que assim fosse ou foi a outra pessoa que fez asneiras. Ou Deus não estava do nosso lado ou os sonhos que tínhamos eram grandes de mais. Ou a culpa é das expectativas que se criaram ou é de um estranho qualquer que nem sabe quem somos.

Algo corre mal, e tentamos perceber de quem é a culpa.

Pode ser mais fácil dizer que é melhor não ter expectativas como medida de regulação da desilusão e do entusiasmo. Parece apetecível pôr a vida nas mãos do destino, para ir dormir com a certeza que tudo corre como tem de ser, e se não foi como nós queríamos é porque há de ser melhor. É preferível agarramo-nos à oração que diz seja feita a Sua vontade ou então fazemos por sonhar com moderação.

De quem é a culpa quando tudo corre ao contrário da direção para onde nós corremos? 

Não sei.

Mas de que isso importa? Uma coisa é certa: o que fazemos depois da corrida trocar de sentido já é connosco. E se nada fizermos depois, aí a culpa já é toda nossa.

M

29 de Janeiro, 2024

O Privilégio da Arte Bonita

Recentemente, tive (novamente) o privilégio de ver arte incrível. Daquela que me deixa com a emoção estética que os filósofos tanto falam - isto é, daquela que me deixa de boca aberta e coração quentinho com o espanto de algo assim existir e a felicidade de poder presenciar essa existência.

Como acho que o que é bom merece ser partilhado, aqui fica um resumo das últimas artes que tive a felicidade de conhecer:

1. Estátuas dos séculos XVII-XIX, no Museu Glypotek em Copenhaga

Em geral, as esculturas sempre me impressionaram. Afinal, como é que alguém pega num paralelepípedo de mármore e dele faz uma pessoa? E o melhor é que consegue fazê-lo com pormenores incríveis: veias salientes, saias pregadas e cabelo encaracolado. 

Mas apesar de toda a minha admiração, confesso que nunca nenhuma estátua tinha falado comigo. Nunca, isto até, até ter entrado na primeira sala no Museu Glypotek, numa viagem recente que fiz a Copenhaga.

Havia algo de diferente nestas estátuas que não tinha encontrado em nenhuma das que já tinha visto até então. Estas estátuas não eram uma mera representação de alguma personagem, eram capazes de ir mais além - conseguiam transmitir emoções tão vivas que nem pareciam vir de uma pessoa feita de pedra.

Estas estátuas diziam olha para mim, compreende-me, ama-me, deixa-me amar-te também. Estas estátuas representavam o amor na sua forma mais crua, vulnerável e genuína possível, e conseguiam fazê-lo de uma maneira que nunca antes tinha visto (ou sentido).

 

2. Crónicas do Autor Gonçalo M. Tavares, no Museu Casa Memória em Guimarães

Vou ser sincera, já não me lembro dos objetos que vi no museu Casa Memória quando fui a Guimarães, na semana passada. Mas os textos que acompanhavam a exposição não me saíram da cabeça. 

Não consigo encontrar palavras para descrever estas palavras que não são minhas. Deixaram-me inspirada, a querer ler mais e a querer escrever mais. Para mim, não há melhor arte do que a que me deixa assim: com sede de continuar.

 

3. Curadoria da Exposição "After Nature", no Museu Glypotek em Copenhaga

A autora Josefine Klougart escreveu um ensaio que incide sobre vários quadros de paisagens presentes no Museu, ao qual intitulou "Depois da Natureza". Segundo ela, A natureza não existe mais. Essa natureza selvagem e indomada, intocada pelos seres humanos é coisa do passado.

Mais do que a exposição e a beleza dos quadros em si, o que mais gostei de ver foi mesmo a curadoria feita pela escritora. Numa viagem por palavras e pinturas, somos transportados para um sítio onde um quadro é muito mais do que as tinhas que vemos à nossa frente. Os textos expostos na parede não são, de todo, uma descrição do que vemos - são um complemento

Deixo aqui, então, o excerto de que mais gostei:

A função da memória na arte não é singular. A memória pode servir como objeto de estudo ou como meio de crescimento no qual a linguagem ou a pintura podem crescer, espelhando a maneira na qual algumas memórias são experienciadas como um todo, autossuficientes, enquanto outras deixam-nos com uma sensação de incerteza; perguntam-nos uma questão que não conseguimos responder no momento - como uma peça de música que termina sem a tónica, a corda que oferece ao ouvido uma espécie de descanso.

 

4. O impressionismo, sempre

Depois de já ter visto vários quadros e obras de arte de diferentes fases da história, o impressionismo ganhou já há muito tempo o prémio da minha época preferida. Depois de um período em que a pintura servia como meio de representação fiel e precisa da realidade, as câmaras fotográficas apareceram e os interesses passaram a ser pinceladas soltas e livres, cores vibrantes e atmosferas e ambientes gerais, sem grandes pormenores cuidadosamente desenhados. São quadros que de perto podem correr o risco de não parecer nada, mas que vistos com uma certa distância conseguem transmitir não só a paisagem pretendida como também um certo sentimento ou sensação a ela associada.

Não foi novidade, portanto, quando entrei na sala do Museu Glypotek, vi um quadro do Van Gogh e logo sorri. Para mim, dificilmente a arte da pintura  fica melhor que aquilo. Estavam ainda expostos quadros de outros pintores franceses que merecem, também, a minha menção e admiração, como Monet e Renoir.

Por fim, gostava de deixar uma menção a uma arte que gosto muito e que, aí sim, sou mesmo a maior privilegiada por a poder ver: os quadros do meu avô. Eu sei, posso parecer parcial quando digo o quão bonita é, mas ainda outro dia mostrei uma das suas pinturas a uma amiga que me perguntou, sem saber de quem era, "em que museu está esse quadro?".

Não está, mas merecia estar. 

M

26 de Janeiro, 2024

Depois do Final Feliz

confessei aqui no blog que sou fã de finais felizes (quem é que não quer um desses?). Há uns dias, fui ao cinema ver uma engraçada e bonita comédia-romântica (aproveito para deixar o conselho: chama-se Todos menos tu e está surpreendentemente bem feita, engraçada sem ser parva e romântica sem se tornar demasiado).

Como todas as comédias-românticas que se prezam, claro que esta terminou, também, com um final feliz. Aquele típico fim rapaz-consegue-a-rapariga e vice-versa.

E apesar de ter gostado bastante do filme e de me contentar com o seu fim, saí de lá a pensar em como o cinema nunca mostra o que acontece depois do final feliz. É que o início da história de amor começa assim que acabam de passar os créditos finais do grande ecrã, e todos já se levantaram para voltar à sua vida real, fora do amor-arrebatador-que-terminou-bem.

O verdadeiro início começa depois daquele fim feliz, mas ninguém parece querer ficar para ver o quotidiano mundano, e os pequenos desafios do dia-a-dia. O que é que acontece depois da rapariga conseguir o rapaz? Como é que se transforma a vida deles e como é que organizam as refeições? Quais as rotinas partilhadas e as discussões sobre quem decide o restaurante?

Ninguém fica para ver o que acontece depois do final feliz - mas é aí que tudo começa. 

M

24 de Janeiro, 2024

a impermanência

Nada é permanente - e esta simples frase pode-nos ajudar a melhorar a vida.

Enquanto passamos por uma coisa má, pode ser difícil ver o fundo do túnel. Tudo está a dar errado e parece impossível dar a volta por cima da situação. Mas se respirarmos fundo e pensarmos com calma, sabemos bem que nada é permanente. E isso ajuda a melhorar um bocadinho as coisas. Dói agora, mas não há de doer para sempre.

Ter consciência desta impermanência das circunstâncias da vida, ajuda-nos também a apreciar e valorizar as coisas boas enquanto elas duram - porque, já sabemos, nada é permanente. Muitas vezes, o ser humano tem tendência a focar-se apenas no mau, e nem dá por si a aproveitar o bom. Acredito que a perceção de que nada é permanente nos ajuda a aproveitar os momentos bons enquanto os vivemos, sem ter de cair no extremismo de viver uma vida de exaltação com medo que a qualquer altura tudo que é bom se evapore.

Para além de saber lidar melhor com esta coisa de dias bons e dias maus, é ainda importante saber e interiorizar de que nada é permanente quando fazemos decisões a longo prazo porque a vida nos impõe que assim o seja. Decidimos o futuro com base no que gostamos do presente, e ficamos com medo por não saber o que vamos querer daqui a tanto tempo. Nada temam. Uma simples frase pode-nos ajudar a acalmar - basta pensar que nada é permanente (apesar de às vezes metermos na cabeça que é).

E ao finalmente aceitarmos isso, começamos a encarar a mudança com uns olhos diferentes e mais serenos. As decisões não têm de ser assim tão definitivas como as fazemos parecer ser - mesmo que na altura de as fazermos parecerem um bocadinho.

Fica o convite para reconhecerem, aproveitarem e aceitarem a impermanência da vida, na esperança que isso torne os dias um bocadinho mais fáceis de sobreviver.

M

22 de Janeiro, 2024

A galinha da vizinha

No meu caso: o jardim da vizinha. Da minha varanda - onde no verão me dediquei a construir o meu jardim (como tenho partilhado aqui no blog) - vejo o jardim da minha vizinha. Antes dela se mudar, o terraço era seco e vazio, e em pouco tempo a vizinha conseguiu enchê-lo de verdes e todas as outras cores de arco-íris.

Acho que é fácil cair na tentação de olhar para o lado e tudo parecer melhor. De fora, parece que o outro não tem as nossas dores, nem outras quaisquer. Parece que está sempre feliz e que os males da vida não o atingem. E depois olhamos para o espelho e não vemos essa felicidade que o outro parece ter. O que é (me) falta?

O problema da comparação é que ela é superficial. Só vemos o que o outro nos deixa ver, e o que o outro escolhe mostrar. Outro problema - já sabemos - é que não resulta em nada. Sou muito a favor do olhar para inspirar - mas o olhar para entristecer já não gosto tanto, nem acho que dê em coisa boa.

Diz-se que não devíamos olhar tanto para o nosso umbigo, mas quando o bichinho da comparação começa a aparecer atrevo-me a dizer que se calhar é mesmo isso que devíamos fazer: focarmo-nos em nós. E perceber que a competição não sou eu vs. o outro.

A verdadeira - e mais difícil - competição sou eu versus o meu eu passado. 

Sou melhor do que era ontem? E como posso amanhã melhorar mais?

17 de Janeiro, 2024

O que procuramos

Um dia paramos no meio da chuva e apercebemo-nos que nos sentimos incompletos. Que o sol foi embora e não bastou para nos fazer ficar. Não sabemos o que nos falta, mas sabemos que nos falta. E depois passamos os próximos tempos a tentar encontrar o que não sabemos estar a procurar.

Tentamos descobrir quem somos, o que queremos, o que precisamos e o que gostamos. Fazemos listas, meditações, rezas e outras tradições. Tentamos a toda a força perceber o que é que falta e fazemos por sentir seja o que for, na esperança de assim descobrir o que era que queríamos sentir. Falamos com quem conhecemos para tentar perceber o que ainda não sabemos. Pesquisamos e inventamos maneiras para nos sentirmos assim e assado e tentamos encontrar conforto em locais que se calhar não são os mais indicados. 

Fazemos trinta por uma linha e perdemo-nos quando achamos que finalmente nos tínhamos encontrado. Rebolamos na relva para ver se acordamos e bebemos rápido o copo para nos esquecermos do que pensamos. Sonhamos a dormir e sonhamos acordados e parece que não vemos nenhum dos nossos sonhos concretizados.

E sem darmos por isso, de repente e de mansinho, como se uma luz se acedesse, olhamos para a chuva que desta vez cai diferente.

Vamos perceber, sem saber bem como lá chegamos, que o que procuramos está mais perto do que pensávamos. O que procuramos está dentro de nós. E vemos que sempre esteve, ao longo do caminho.

Vemos que as respostas que andávamos a correr atrás são referentes a perguntas que nem importam. Vemos que o sol ou a chuva não interessa para nada, se é o nosso coração que está cinzento. Vemos que os dias são tão mais bonitos como os olhos com que os olhamos, e que o que sempre pensamos não ter temos, afinal, para dar e para vender.

Encontramos o que nos falta ao reconhecer que somos suficientes pelo que somos, e que a verdadeira procura é aquela que nos leva de volta à casa - a que nos leva de volta àquele eu autêntico que sempre lá esteve. Só estava à espera de ser descoberto.

M

15 de Janeiro, 2024

O Fim do Mundo

Acontece algo que não gostámos, que nos deixou triste e desanimados, mas há sempre alguém que diz - deixa lá, não foi o fim do mundo.

Mas e se tiver mesmo sido o fim do mundo? O fim do mundo como o conhecíamos naquele momento. O fim do mundo da pessoa que éramos até então. O fim do mundo como o tínhamos imaginado e desejado.

Acho importante reconhecer e admitir que, às vezes, foi mesmo o fim do mundo! Que tudo correu de modo diferente daquele que queríamos e que o mundo cedeu, tombou e acabou. E depois damos espaço para sentirmos a dor e passarmos mesmo pelo meio do fogo que começou quando o mundo acabou.

É importante admitimos que aquilo foi o fim do mundo para depois vermos, e sentirmos, que depois do fim do mundo nasceu um mundo novo.

Essa é, sem dúvida, a melhor parte de todos os fins: os começos que o seguem.

M

12 de Janeiro, 2024

As melhores amizades

Os amigos são como um raio de sol que nos faz sorrir no meio de um dia de chuva. São a palavra certa na altura certa, e a piada errada no momento ideal que faz secar as lágrimas. São a calma quando somos tempestade, e são a alegria quando temos vitórias. Com sorte, os amigos são também reciprocidade - e tudo o que damos recebemos a dobrar, sem ser preciso exigir o que quer que seja. 

Podia ser tudo sol e arco-íris: mas é que manter uma amizade assim - uma daquelas boas - dá trabalho. Exige dedicação, e um bocadinho de esforço. Organização de planos, vidas e preferências diferentes, cedências nas vontades de restaurante a escolher e empatia a dobrar quando falta paciência do outro lado. Manter uma amizade assim exige um ato consciente de trabalho - que fazemos com todo o gosto e quase sem custar.

As boas amizades são aquelas que percebem o que foi dito e o que ficou por dizer. Que olham para além dos defeitos porque nos aceitam assim mesmo - e que nos convidam a fazer o mesmo. São aquelas amizades que apesar de não estarem sempre alinhadas nem com as mesmas prioridades fica e aguentam o tempo a passar. As que ouvem as mesmas histórias vezes sem conta e entusiasmam-se de igual modo quando uma nova surge. As amizades que ficam felizes pela nossa felicidade e tentam afastar toda a tristeza - ao mesmo tempo que fazem por a compreender. Lembram-se do que queríamos esquecer e fazem memórias novas sem darmos por isso. Conhecem de cor a organização da nossa casa e o nome dos nossos pais. Passam pelos dramas em conjunto e riem-se deles passado uns anos. São sinceros e genuínos - e com eles podemos ser nós.

Mas acima de tudo, cada vez sinto e acredito mais que as melhores amizades são aquelas que curam o que não estragaram. (Que sorte tenho de ter umas assim!)

M

10 de Janeiro, 2024

A vida ri-se

Fazemos planos e escrevemos resoluções. Imaginamos como queremos que a vida seja nos próximos tempos e achámos que a determinação e a esperança são suficientes para tudo se concretizar - e até podiam ser, mas a vida olha para esses planos e  ri-se.

Entretanto passou um ano, vemos os planos que fizemos e que não se concretizaram - apesar de todo o esforço - e vimos como a vida olhou para o que planeámos e se riu. Decidiu seguir um caminho diferente daquele cuidadosamente delineado e pensado por nós. Nada foi como esperávamos e tudo nos passou ao lado.

E, se calhar, ainda bem. Convencemo-nos que tudo se passou como tinha de acontecer, porque essa opção é melhor do que a potencial tristeza sentida por não vermos os nossos objetivos e sonhos a concretizarem-se. Num ato de autodefesa e compaixão, fazemo-nos acreditar que cada desvio não planeado faz parte do que tinha de ser, e agora que olhámos para trás ainda bem que assim o foi. Deixamo-nos reconfortar com esse pensamento e dizemos a nós próprios que faz parte da vida aceitar as suas imprevisibilidades, e que temos de aprender a ir na onda.

Ainda assim, voltamos a fazer planos para o que aí vem. Planos que queremos mesmo que se concretizem. 

E fazemo-lo com a esperança que a vida não se ria de nós, de novo.

M

08 de Janeiro, 2024

1 ano depois - aqui estamos!

Sem grandes rodeios, vim só deixar aqui uma marca importante neste pequeno cantinho digital: o Blog fez 1 ano de existência no último sábado, dia 6 de janeiro de 2024!

Já contei aqui várias vezes como o blog começou e o quão feliz me deixa que continue a existir portanto não vale a pena estar a repetir-me. Obrigada a todos os que leem, todos os que comentam e todos os que partilham com os amigos. Obrigada, também, à equipa Sapo que vai pondo umas crónicas minhas em destaque e faz com que as minhas palavras sejam, de certo modo, de todos!

Para recordar, deixo aqui o link da minha primeira entrada no blog. Passado 1 ano estou surpreendida com a "dimensão" que isto tomou e todas as coisas boas que vieram com este meu pequeno projeto criativo. Foram mais de 130 crónicas, incontáveis conversas despoletadas e muitos sorrisos felizes. 

Admito que me sinto bastante orgulhosa de mim própria por depois de ter decidido começar com isto ter mantido essa decisão (de forma consciente e dedicada) durante 1 ano. 

Daqui a 1 ano, voltamos a falar - mas até lá... continuaremo-nos a encontrar, semanalmente, enquanto a inspiração não fugir!

Obrigada!!

M

 

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