Recentemente, tive (novamente) o privilégio de ver arte incrível. Daquela que me deixa com a emoção estética que os filósofos tanto falam - isto é, daquela que me deixa de boca aberta e coração quentinho com o espanto de algo assim existir e a felicidade de poder presenciar essa existência.
Como acho que o que é bom merece ser partilhado, aqui fica um resumo das últimas artes que tive a felicidade de conhecer:
1. Estátuas dos séculos XVII-XIX, no Museu Glypotek em Copenhaga
Em geral, as esculturas sempre me impressionaram. Afinal, como é que alguém pega num paralelepípedo de mármore e dele faz uma pessoa? E o melhor é que consegue fazê-lo com pormenores incríveis: veias salientes, saias pregadas e cabelo encaracolado.
Mas apesar de toda a minha admiração, confesso que nunca nenhuma estátua tinha falado comigo. Nunca, isto até, até ter entrado na primeira sala no Museu Glypotek, numa viagem recente que fiz a Copenhaga.
Havia algo de diferente nestas estátuas que não tinha encontrado em nenhuma das que já tinha visto até então. Estas estátuas não eram uma mera representação de alguma personagem, eram capazes de ir mais além - conseguiam transmitir emoções tão vivas que nem pareciam vir de uma pessoa feita de pedra.
Estas estátuas diziam olha para mim, compreende-me, ama-me, deixa-me amar-te também. Estas estátuas representavam o amor na sua forma mais crua, vulnerável e genuína possível, e conseguiam fazê-lo de uma maneira que nunca antes tinha visto (ou sentido).
2. Crónicas do Autor Gonçalo M. Tavares, no Museu Casa Memória em Guimarães
Vou ser sincera, já não me lembro dos objetos que vi no museu Casa Memória quando fui a Guimarães, na semana passada. Mas os textos que acompanhavam a exposição não me saíram da cabeça.
Não consigo encontrar palavras para descrever estas palavras que não são minhas. Deixaram-me inspirada, a querer ler mais e a querer escrever mais. Para mim, não há melhor arte do que a que me deixa assim: com sede de continuar.
3. Curadoria da Exposição "After Nature", no Museu Glypotek em Copenhaga
A autora Josefine Klougart escreveu um ensaio que incide sobre vários quadros de paisagens presentes no Museu, ao qual intitulou "Depois da Natureza". Segundo ela, A natureza não existe mais. Essa natureza selvagem e indomada, intocada pelos seres humanos é coisa do passado.
Mais do que a exposição e a beleza dos quadros em si, o que mais gostei de ver foi mesmo a curadoria feita pela escritora. Numa viagem por palavras e pinturas, somos transportados para um sítio onde um quadro é muito mais do que as tinhas que vemos à nossa frente. Os textos expostos na parede não são, de todo, uma descrição do que vemos - são um complemento
Deixo aqui, então, o excerto de que mais gostei:
A função da memória na arte não é singular. A memória pode servir como objeto de estudo ou como meio de crescimento no qual a linguagem ou a pintura podem crescer, espelhando a maneira na qual algumas memórias são experienciadas como um todo, autossuficientes, enquanto outras deixam-nos com uma sensação de incerteza; perguntam-nos uma questão que não conseguimos responder no momento - como uma peça de música que termina sem a tónica, a corda que oferece ao ouvido uma espécie de descanso.
4. O impressionismo, sempre
Depois de já ter visto vários quadros e obras de arte de diferentes fases da história, o impressionismo ganhou já há muito tempo o prémio da minha época preferida. Depois de um período em que a pintura servia como meio de representação fiel e precisa da realidade, as câmaras fotográficas apareceram e os interesses passaram a ser pinceladas soltas e livres, cores vibrantes e atmosferas e ambientes gerais, sem grandes pormenores cuidadosamente desenhados. São quadros que de perto podem correr o risco de não parecer nada, mas que vistos com uma certa distância conseguem transmitir não só a paisagem pretendida como também um certo sentimento ou sensação a ela associada.
Não foi novidade, portanto, quando entrei na sala do Museu Glypotek, vi um quadro do Van Gogh e logo sorri. Para mim, dificilmente a arte da pintura fica melhor que aquilo. Estavam ainda expostos quadros de outros pintores franceses que merecem, também, a minha menção e admiração, como Monet e Renoir.
Por fim, gostava de deixar uma menção a uma arte que gosto muito e que, aí sim, sou mesmo a maior privilegiada por a poder ver: os quadros do meu avô. Eu sei, posso parecer parcial quando digo o quão bonita é, mas ainda outro dia mostrei uma das suas pinturas a uma amiga que me perguntou, sem saber de quem era, "em que museu está esse quadro?".
Não está, mas merecia estar.
M