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Designing My Dream Life

29 de Dezembro, 2023

Sair da ilha

Já várias vezes dei por mim afastada da rotina habitual e dos locais habituais a perceber que essa distância põe realmente tudo em perspetiva. Consigo pensar com mais clareza, e tudo parece mais compreensível com uma certa distância - e estou-me mesmo a referir a distância física. 

Sair do que é o habitual, a rotina e o comum, e ir para um sítio diferente ganhar uma nova perspetiva do que já começa a ser mais do mesmo.

Quando estamos a viver a nossa vida num dia-a-dia frenético, perdemos tempo com pormenores e detalhes que nada importam, e esquecemo-nos que, por vezes, precisamos mesmo de ver a vida com um plano mais geral. Fazer um zoom out - o oposto de ampliar.

E é aqui que a distância pode ajudar: afastamo-nos e ganhamos um novo ponto de vista. Vemos as coisas com mais clareza, e o que parecia difícil assume uma simplicidade que ainda não tínhamos encontrado. Percebemos o que queremos mudar e o que gostávamos de fazer mais. E ganhamos vontade de cumprir com isso.

Voltamos da distância a sentir-nos renovados. Com novas ideias, novas vontades e mais ambições. Novas energias, outros sonhos e planos concretos. (Ou, então, com a mesma vontade e desejo. Mas uma certeza renovada de que é isso mesmo que queremos.)

É necessário sair da ilha para ver a ilha, não nos vemos se não saímos de nós.

José Saramago

 

Quando foi a última vez que apanharam um barco?

M

27 de Dezembro, 2023

Indícios Trágicos?

No secundário falamos e abordamos várias obras literárias dos grandes escritores portugueses. Gostos e preferências à parte, havia sempre um aspeto das análises que eu não percebia: os indícios trágicos.

Era a decadência do Ramalhete que fazia pressentir um final desastroso. Eram os quadros a arder no Palácio de Manuel de Sousa Coutinho que prognosticavam que D. João ia mesmo regressar. Ou então eram todos os acontecimentos dramáticos a ter lugar (coincidentemente) à sexta-feira - que aparentemente é o maior presságio de todos.

Todos estes acontecimentos que, mal acontecem, nos indicam que o final não será tão feliz como gostaríamos são os chamados indícios trágicos.

O que me metia muita confusão era o facto de nós só conseguirmos identificar determinado acontecimento como certamente um sinal de um final infeliz quando já sabíamos o fim que nos esperava. No fundo, só numa segunda leitura é que éramos capazes de identificar todas as premonições trágicas espalhadas pelo texto – porque já sabíamos o que procurar.

Depois, tentava perceber se dava para aplicar esta "teoria dos indícios trágicos" à vida real, e começava a pensar se seria possível identifica-los no nosso quotidiano mundano, fora da realidade cuidadosamente criada e planeada por Eça ou Garret.

Será que o vislumbre de umas nuvens cinzentas num dia solarengo de verão nos indica que o que está a correr bem pode vir a correr mal? Será que o número da porta da loja onde vamos tem um significado oculto e quer-nos avisar de uma reviravolta inesperada? Ou será que a imprevisibilidade da vida nos impede de ler nas entrelinhas das nossas narrativas um destino certo?

Quero acreditar que somos nós os autores da nossa história, e que conseguimos mudar o enredo dos capítulos futuros. Ao contrário do que acontece com as personagens das grandes obras, a nossa vida não está já marcada com tinta preta num livro grande cujo fim é conhecido por todos (até por quem não o leu).

Acredito no libertismo q.b. e oponho-me à ideia de um determinismo tão radical ao ponto de cada sinal ser mesmo um indício trágico, e não só uma aleatória coincidência.

(Mas isso já é todo um outro debate.)

M

22 de Dezembro, 2023

Aprender malabarismo

Um dia (só) tem 24 horas, e nesse tempo queremos ter tempo para tudo: para estudar, para trabalhar, para descansar, para fazer hobbys, para estar com a família, para estar com os amigos e para estarmos nos nossos afazeres. E rapidamente percebemos que o tempo não estica, e que, por mais que quiséssemos, o tempo não dá mesmo para tudo. 

Então, aprendemos a importância do verbo priorizar. Temos de perceber o que é que é não negociável, e quais são as áreas que vamos privilegiar. E nem todos os dias nem em todas as semanas estas prioridades vão ser as mesmas - e, atrevo-me a dizer, ainda bem. É que é nessa capacidade de hierarquização que vamos conseguindo, pouco a pouco, encontrar algum equilíbrio entre tudo o que queremos e tudo o que temos de fazer.

Ao decidirmos o que vem primeiro e o que vem depois, aprendemos também a dizer que não. E ao nos libertarmos da pressão e da pressa de fazer tudo e tudo ao mesmo tempo, abrimos espaço para nos concentrarmos naquilo que realmente (nos) importa - mesmo que isso mude todas as semanas.

Mas priorizar nem sempre é fácil: queremos estar em todo o lado ao mesmo tempo, fazer tudo em simultâneo, apagar 100 fogos de uma só vez. E no meio disto tudo, esquecemo-nos que somos  1 entre tantos outros seres humanos, que  tem 24h para utilizar num dia.

Nesta busca incessante por completar toda a nossa lista infinita de tarefas e de vontades, percebemos que há escolhas que têm de ser feitas, compromissos que têm mesmo de ser cumpridos e algumas coisas que, inevitavelmente, vão ter de ficar para outro dia.

E lá vamos navegando pelas semanas, a perceber o que é, em cada dia, mais importante para nós. O que é que precisamos e o que é que nos faz mesmo falta. A tentar equilibrar o que queremos com o que temos, a balançar o tempo que parece escasso com as tardes onde não apetece fazer nada.

Lá vamos navegando pelas semanas a fazer malabarismo com o tempo, e aprendendo a lidar com a frustração de que há dias em que parece que estamos a deixar cair as bolas todas, e outros em que nos sentimos bem porque somos os melhores malabaristas que conhecemos.

M

20 de Dezembro, 2023

Agarrar o sentimento

Sabem aqueles momentos tão bons em que o coração está muito feliz e o cérebro só pensa em como não se quer esquecer daquele sentimento?

Felizmente, vou tendo a sorte de ter alguns desses. Só que a par de toda a felicidade vem sempre, a acompanhar, o medo de um dia me esquecer de como me sentia naquele instante. 

Quero acreditar que a nossa memória funciona a nosso favor. Que se agarra ao bom que aconteceu e se faz por esquecer das coisas más que lá passaram. Quero acreditar que passados muitos anos vou conseguir fechar os olhos e voltar aos momentos felizes que vão acontecendo agora, e quero acreditar que os vou conseguir ver com os mesmos olhos com que vejo hoje.

Mas tenho medo de me esquecer dos momentos que agora valem tanto, de me esquecer das caras, das vozes, dos toques e dos sorrisos. Tenho medo que o tempo apague tudo o que a memória não agarrou.

Então faço listas, tiro fotos e escrevo em diários.

Mas o que eu queria mesmo era agarrar o sentimento (e nunca mais o deixar ir).

M

18 de Dezembro, 2023

Só por diversão

Acho que devíamos fazer mais coisas só por diversão.

Fazer mais coisas daquelas que realmente temos gosto em fazer, e fazê-las só porque sim. Não porque somos obrigados a tal, não porque sentimos pressão, não porque queremos e temos de ser produtivos, e definitivamente não com o objetivo de cumprir uma lista interminável de tarefas.

Na agitação do dia-a-dia rapidamente nos podemos esquecer de como pode ser prazeroso simplesmente fazermos o que nos diverte. O que nos relaxa, o que nos tira a mente de tudo o resto, o que faz parar o tempo e o que faz o tempo passar da melhor forma.

Há, também, outra coisa importante a ter em atenção nisto de fazer as coisas só por diversão: não nos podemos levar demasiado a sério. Fazer um desporto (novo ou velho) só por diversão, e não para ganhar campeonatos e medalhas. Fazer pinturas e arte só por diversão e não para tornar aquilo num negócio. Aprender uma língua nova porque o desafio é uma coisa gira e não para ter um novo ponto para acrescentar no currículo. Não há nada melhor que fazer as coisas pelo simples prazer de as fazer - e não por um eventual resultado que há de chegar.

Porque a vida não é (só) sobre cumprir as metas que definimos no primeiro dia do ano. É sobre ter hobbys que nos façam bem, sobre encontrar a alegria no caminho e não no destino, e é sobre fazer tempo para nos podermos dedicar àquilo que realmente queremos.

A vida é, também, sobre fazer as coisas só por diversão

M

15 de Dezembro, 2023

O Sol acordou preguiçoso

Desde que me levantei, hoje de manhã, até chegar à faculdade passou cerca de 1h30, e demorou todo esse tempo para o sol acordar. (Parece que não fui só eu que acordei com preguiça.)

Gostava de ter fotos para guardar este momento, mas na falta delas posso tentar usar as palavras - ou melhor, as cores - para descrever como tudo estava.

Tudo começou com uma luz meia alaranjada a entrar pela cozinha, mas a pressa da manhã não deu tempo para abrir totalmente a persiana e espreitar para ver o que se estava a passar lá fora. Quando saí de casa e olhei para o céu, vi-o cor-de-rosa e imediatamente sorri. Estava o sol a nascer e eu já acordada, penteada e vestida pronta para ir.

Quando cheguei à faculdade voltei a olhar para cima, e reparei que o sol ainda estava a ganhar energia para acordar totalmente: naquele momento, um laranja bonito preenchia o espaço e mal se via o habitual azul da manhã.

Depois deste longo despertar, parece que o sol não quis aparecer muito mais durante o dia. Esteve enublado e ele aproveitou para descansar. Também não o consegui ver a ir dormir: deve-se ter escapado, pelo horizonte, assim de mansinho como quem não quer a coisa.

Gosto muito de pensar sobre como é bom e reconfortante sabermos que, por pior que possa ser o hoje, há um amanhã em que o sol nasce de novo - e nós podemos tentar, de novo. 

Mas de manhã dei por mim a imaginar: hoje o sol acordou preguiçoso.

Acho que até ele merece um descanso.

M

13 de Dezembro, 2023

Coragem para ser mau

No processo de aprender uma coisa nova estamos, inevitavelmente, a aprender a falhar

Reconheço que isto de falhar constrói carácter e, até certo nível, diria até que nos aumenta a resiliência. Só que, ao mesmo tempo, sinto também que destrói autoestimas. Claro que no abstrato sabemos e dizemos que não somos bons a tudo - e que ninguém é bom numa coisa nova logo à primeira tentativa. Sabemos também que a aprendizagem é uma rua inclinada, e que custa chegar lá cima.

Mas na prática - aquilo que se passa na vida real - quando falhamos vez após vez já não queremos mais saber de toda a teoria. Quando falhamos vez após vez temos que ser muito corajosos para continuar - e principalmente para continuar a ser mau.

A tentação de desistir começa a ser apetecível. A sensação de que não estamos (ainda) à altura do desafio que nos propusemos a atingir pode mesmo ser avalassadora, e a vozinha irritante na nossa cabeça que diz que somos péssimos parece não se calar. Cada erro e cada passo mal dado são lembretes gigantes de como estamos a falhar, e deixamo-nos esquecer do que na teoria sabemos: a falha faz parte, e é inevitável.

Curiosamente, outro dia deparei-me com um conselho relacionado precisamente com este tema. Dizia assim: se queres desistir, desiste num dia em que as coisas corram bem

E fiquei a pensar nisto. Desistir num dia mau seria o caminho mais fácil, porque sentimos o peso imediato da frustração e da vergonha. Por outro lado, desistir num dia bom ia implicar vermos as melhorias, sentirmos os progressos e ainda assim querer largar tudo. Parece mais difícil, não é? E estaríamos a negar a nós próprios a oportunidade de provar que somos capazes, e que se calhar vamos mesmo conseguir aprender o que queremos.

Acho que devíamos começar a medir o "sucesso" - seja lá o que isso for - de uma forma diferente.

Em vez de acharmos que só vamos ter sucesso quando formos, finalmente, bons a fazer essa coisa nova, podemos começar a interiorizar que o sucesso começa logo quando temos a coragem para ser mau. (É que é preciso muita.)

M

Ps: mais fácil escrever do que fazer, certo?

11 de Dezembro, 2023

Fui sozinha - e gostei!

Na semana passada, fui a um concerto de música que foi uma verdadeira obra de arte. Nunca tinha dito isto de um concerto, mas a verdade é que este foi mesmo algo de extraordinário. Não foi apenas um alinhamento de músicas (muito bem) cantadas: foi um planeamento cuidado, com imagens e uma produção de luz incrível, uma história a ser contada e uma execução estupenda.

Eu gosto muito de fazer coisas com os meus amigos e de passarmos verdadeiro tempo de qualidade, mas não gosto de parar de fazer o que quero por não ter companhia. Então, como queria muito ir ver este concerto e não conhecia ninguém que quisesse também, decidi comprar o bilhete e ir sozinha. E  fiz muito bem: porque entre a alternativa de não ir ou ir sozinha, tomei mesmo a melhor decisão possível. 

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Eu sei que fazer coisas sozinhas tem alguma conotação se calhar "negativa" associada. Pensamos no que os outros vão pensar ao ver-nos sós, tememos o julgamento e surge o medo da nossa própria companhia. O segredo - já o descobri - é estarmos bem resolvidos dentro da nossa cabecinha. Porque, ao contrário do que podemos pensar, os outros não estão a olhar para nós - estão, também, preocupados com o que os outros outros possam estar a pensar.

Apesar de agora parecer (e estar) toda confiante, tenho de admitir que demorei a tomar a decisão de ir sozinha. Não porque não goste de fazer coisas comigo mesma, mas porque estava a insistir um bocadinho em ter pena de mim própria por não ter alguém com quem fazer o que tanto queria.

Mas ainda bem que fui: percebi que não há nada melhor do que termos a liberdade de querermos e escolhermos a nossa própria companhia e que a solidão (no melhor sentido da palavra) pode-nos trazer experiências extraordinárias, que de outro modo não teríamos.

Fui, cantei, dancei, chorei, ri, berrei e diverti-me imenso. E fiz isto tudo sozinha.

E sabem que mais?

Gostei.

M

06 de Dezembro, 2023

3 pares de olhos

3 pessoas olham para o mesmo copo. 

Uma delas diz que o copo está meio cheio: é o otimista que vê o que lá está e o que lá não está. Vê a água que existe e a possibilidade de água que ainda pode lá existir. A metade que (ainda) não está cheia representa tudo (de bom) que ainda pode acontecer - e que, se quiser mesmo, certamente acontecerá. 

Outra pessoa diz que o copo está meio vazio, e só se foca em tudo o que não está lá e a falta que metade da água faz. É o pessimista, claro está. Foca-se só no deserto e nem abre os olhos para a possibilidade de encontrar um oásis. Acredito que a expectativa é chave para a desilusão, e não se dá à possibilidade de ponderar, sequer, um cenário feliz.

Por fim, a última pessoa diz que o copo está efetivamente cheio - metade de água e metade de ar. Autointitula-se de realista. Olha para as coisas de um modo pragmático, não se deixando levar pelas emoções: foca-se nos números e nas proporções. Acredita que "nem muito ao céu, nem muito à terra" é o seu lema de vida - mas esquece-se que as coisas às vezes são realmente mais do que parecem e entre o preto e o branco há um cinzento à espera de ser descoberto.

Acho que todos temos dentro de nós estes 3 pares de olhos tão distintos - e dependendo do que vemos podemos, conscientemente, escolher usar um deles. Mas não nos podemos esquecer que seja como que olhamos para o copo, o copo vai ser sempre um copo, e a água vai estar sempre lá. (Ou não).

M

04 de Dezembro, 2023

Tudo!

A certa altura, a pergunta "o que queres fazer depois?" começa a aparecer mais vezes do que gostaríamos. Ainda nem acabamos o presente e já estamos a pensar no futuro - e facilmente nos esquecemos de que o agora que vivemos é o depois que um dia tanto esperamos. 

Quero arriscar e ir com medo sem admitir que o tenho. Quero viver em sítios que nunca conheci mas já sei que vou adorar. Quero passar os dias no campo a apanhar fruta e sol. Quero trabalhar e aprender tudo o que acho que já devia saber. Quero pintar as vistas incríveis das paisagens que visito, e quero aprender a pintar.

Quero brincar ao faz de conta, e quero contar todas as coisas boas que tenho na vida. Quero fazer arte e quero explorar melhor o que já conheço e ao mesmo tempo mergulhar no que ainda é desconhecido. Quero caminhar pelo meio dos montes e perder-me nas ruas de grandes cidades. Quero estar aqui e ali e quero fazer isto e aquilo. 

E no meio de tanto querer como é que decidimos? É que chega a uma altura em que já ninguém decide por nós.

O que queres fazer?

Tudo!

M

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