Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Designing My Dream Life

29 de Novembro, 2023

Saber parar

Sem estar à procura, no fim de semana que passou encontrei a resposta à pergunta que me tinha colocado há uns dias (como encontrar o equilíbrio entre viver o presente e planear o futuro?). Parece que a resposta é mais simples do que eu pensava: o equilíbrio que tanto quero e procuro encontra-se, simplesmente, quando paramos.

Quando nada nos tira a atenção do que se está a passar naquele momento, e não há outras distrações a puxarem-nos para fora do presente. Quando estamos realmente a viver no ali e agora, sem termos ativamente de nos preocupar com isso. Quando estamos a viver o presente, não porque nos forçamos a tal, mas porque é mesmo a única opção que temos.

Claro que na correria do dia-a-dia esta ideia de parar parece quase antinatura. Estamos sempre a ser estimulados para fazer mais e melhor, e quando nada fazemos sentimos o peso da culpa que nos obriga a regressar a um registo de alto desempenho e rendibilidade. Só que este ciclo rapidamente se torna contraproducente e podemos até chegar a atingir um nível de produtividade tóxica, onde as pausas são encaradas com pesar.

Precisamos de perceber que a produtividade constante não é, de todo, a única medida para o sucesso e para uma boa vida, e que quando paramos não estamos a perder tempo: estamos a investir no nosso bem-estar e no nosso equilíbrio.

Depois de sabermos esta resposta devia ser tudo mais fácil, certo? Só que entra aqui outra questão complicada: como é que sabemos quando parar? 

E é neste ponto que se torna importante aprendermos a ouvir o nosso corpo, e o que ele nos tenta dizer. O cansaço permanente ao longo do dia, a inabilidade de reparar nas pequenas alegrias que a vida nos dá, a correria diária que não nos deixa tempo para percebermos o que estamos realmente a sentir, ou a sensação que o tempo passa mas nós nem damos por ele passar.

Aprender a ouvir o nosso corpo é um ato de autocuidado e que exige algum conhecimento próprio. Mas não basta perceber o que ele nos está a transmitir: é preciso, depois, agir.

Ou melhor, parar.

M

24 de Novembro, 2023

Vai apanhar batatas

A palavra hobby é daquelas que importamos da língua inglesa e agora usamos como se fosse nossa. No fundo, quer dizer passatempo e é mesmo isso a que se refere: uma atividade que fazemos para passar o tempo.

Numa sociedade que quer e exige produtividade a tempo inteiro, acho que se torna  cada vez mais importante permitirmo-nos ter tempo em que não procuramos completar nenhuma tarefa. Em que nos permitimos parar e dedicar-nos apenas ao que nos apetece fazer naquele momento. E isto de parar pode-se traduzir em mil e uma coisas diferentes. E o mercado já percebeu isto: cada vez mais, há diferentes oportunidades de entretenimento para passar uma manhã de sábado. Pelas ruas da cidade, encontram-se várias lojas que oferecem workshops de tudo e mais alguma coisa - porque tudo e mais alguma coisa é uma boa desculpa para sair da rotina e desconectar da correria habitual.

Muitas vezes, perguntam quem nós somos e falamos do nosso trabalho, do que estudamos, ou do papel que temos. Mas acho que somos tão mais que isso: somos  os hobbys que temos, somos o que nos faz sorrir, somos o que ensinamos e somos a maneira como passamos os dias quando não se passa nada.

A melhor parte disto de ter hobbys é que nem precisamos de ser bons: só precisamos de os fazer. Seja pintar, fazer uma coleção, jardinar, cozinhar, renovar móveis ou costurar, estes hobbys permitem-nos ter um momento só nosso, onde o tempo corre de uma maneira diferente e onde a única medida de sucesso e produtividade é a nossa própria satisfação e alegria.

Qualquer pessoa pode ter um hobby - e pode mesmo ser um hobby qualquer.

Nem que seja ir apanhar batatas.

M

22 de Novembro, 2023

De que importa o resultado

Sabem aquela frase cliché que diz “O que importa é o percurso, e não o destino”?

Acho que o equivalente a isto no processo de criação artística é esta:

“O ato de criar é sempre mais importante do que o resultado”

E realmente acredito que assim o seja. Apesar de ser tentador prendermo-nos e perdermo-nos nas expectativas do resultado final, é no caminho até esse ponto que reside a verdadeira beleza da criação. Quando vemos, pouco a pouco, uma ideia a ganhar vida e, ao mesmo tempo, ganhamos esperança de que vamos mesmo conseguir. Quando nos dedicamos horas sem fim a um projeto e o que importa é aquele momento bem passado, e a satisfação do presente.

1.jpg

É neste processo de criação que temos a oportunidade de experimentar,  de explorar as diferentes possibilidades e arriscar naquela que não é, de todo, a mais segura. É aqui que podemos aprender e falhar - e aprender a falhar. É aqui que nos divertimos, nos desafiamos, e passamos momentos agradáveis. 

Apesar disto, não nego o sentimento incrível de realização que sentimos sempre que concluímos o nosso trabalho. Claro que sabe bem ver a concretização de um processo feliz para um resultado igualmente feliz.

Mas o resultado final é só isso - o final. E de que importa o resultado? Tudo até aí foi espetacular.

M

17 de Novembro, 2023

Onde está o equilíbrio?

Fazem-nos planear o futuro, mas dizem que não podemos esquecer o presente. Insistem na importância da plenitude do momento, mas há decisões que precisam de ser tomadas com um tempo ridiculamente grande de antecedência. E no meio de toda esta confusão entre pensar o amanhã e viver o agora fica difícil encontrar um equilíbrio agradável. 

É que de um lado da balança temos a consciência de que o hoje rapidamente passa, e a vontade de aproveitar cada momento. Pesa imensamente a certeza da inexorabilidade do tempo, e a lição já aprendida que os dias não voltam atrás.

Do outro lado, pesam todos os planos e sonhos de um amanhã imaginado, e os nossos desejos ainda por concretizar. Começamos a perceber que futuro é um espaço vazio mas que ocupa muito espaço. Pensamos no que queremos fazer, onde queremos estar e o que queremos viver.

O problema complica quando vemos que para planear o futuro precisamos de agir no presente, e o peso do hoje e do amanhã fica já todo misturado. 

O futuro é (espero eu) entusiasmante, mas não há motivo para o caminho até lá não o ser também. 

Em que ficamos? (Quero mesmo saber.)

M

08 de Novembro, 2023

O romance das estações

Chegou o Outono e toda a poesia que diz que as folhas a caírem das árvores mostra como é bonito deixar as coisas ir

É bonito, estão certos. Mas a analogia das folhas que caem é, também, uma maneira muito romantizada de olhar para esta nova estação do ano. 

E qual é o mal de querer um pouco de romance? No meio da chuva, da roupa que tem de começar a ser mais quente, das poças de água no chão e das árvores despidas, é bonito conseguirmos encontrar a poesia aqui perdida. 

O Outono chega para nos lembrar que a vida funciona por ciclos - e as árvores outrora cheias de flores e frutos estão agora nuas para nos mostrar que a transformação não só é necessária como também pode ser bela.

Não controlamos a chuva nem o mau tempo, mas podemos controlar como reagimos perante a água que cai em cima de nós. Queremos ser a pessoa que dança na chuva ou que chora na rua perante o que não consegue mudar?

Há quem prefira o verão ou seja fã da primavera, mas se nos esforçarmos um bocadinho, rapidamente encontramos também o romance perdido nas folhas de outono.

(Até chegar a próxima estação, e aí procuramo-lo de novo.)

Esta é a época ideal para (re)encontrar o conforto dentro de casa: ouvir a chuva que bate na janela enquanto vemos um filme na televisão, sentir o cheirinho a canela e maça tão típico dos doces desta época ou estar enrolados numa manta a ler um livro que já estava parado aos meses.

Depois, saímos de casa e apreciamos a nova palete de cores que agora cobre as ruas, calcamos as folhas estaladiças e sentimos o cheiro a castanhas dos vendedores de rua. Toda a natureza se sente mais calma, e convida-nos a parar e olhar à volta. O calor que no verão dávamos por garantido é agora apreciado quando o sol tímido espreita por entre as nuvens. O ar agora é mais frio e ao senti-lo respiramos fundo: está tudo a mudar, e está tudo bonito na mesma.

M

06 de Novembro, 2023

o que faz a Arte

Quase tão antiga como a questão quem veio primeiro: o ovo ou a galinha? é a pergunta será que dá para separar a arte do artista?

Defendo e acredito que sim. (Mas reservo, também, a possibilidade de o artista assim não o querer, e imergir a arte na sua vida, e deixar que a sua vida toda se reflita na arte que faz.)

A arte é uma forma de expressão, e nem sempre nos exprimimos da mesma maneira que vivemos a vida e que sentimos as nossas emoções: podemos falar sobre amor sem o sentir, podemos pintar a raiva quando estamos em paz, podemos compor a mais bela e triste sinfonia quando todo o nosso ser é alegria. 

E é nesta infinitude de possibilidade de criação e recriação que está a verdadeira beleza da Arte. Porque não temos de ficar presos ao que conhecemos, ao que vivemos, ao que sentimos ou até ao que pensamos. Podemos ir para além disso, podemos explorar sítios onde nunca fomos e falar de sensações que nunca tivemos. Podemos inventar e reeinventar as vezes que quisermos, criar os contos como os queremos e dizer que acreditamos mesmo que há um sítio onde as ideias vivem à espera de ser colecionadas.

É que é mesmo isso que faz a arte: deixa-nos ir mais longe. Não nos obriga a ficar presos a um papel que temos de cumprir, a um rótulo que um dia definiu quem éramos e a uma opinião de uma cabeça teimosa que não muda de ideias.

(Deixem o artista em paz, e deixem a arte fazer o que faz!)

M

03 de Novembro, 2023

Os meus sons preferidos

A chuva a bater na janela quando estou aconchegada na cama. As patinhas do meu cão a bater no chão quando está a vir ter comigo. O sorriso que se ouve do outro lado do telefone quando a minha avó atende a chamada. A minha música preferida a tocar num concerto. A cauda do meu cão a abanar de tão feliz que está. O som dos passarinhos que se ouvem quando tudo o resto é silêncio, e a chama da fogueira que salpica e nos aquece. Os turistas a falarem outra língua no meio de uma cidade nova e o riso que fizemos a outra pessoa dar.

A vida podia ser só uma lista destes sons bonitos e seria uma vida bem feliz.

Acho que muitas vezes não damos o devido valor aos sons tão bons que temos na nossa vida, e deixamos que os nossos ouvidos se ocupem apenas com barulhos e distrações que nada nos acrescentam. Não prestamos atenção aos sons que fazem a vida valer a pena, e esquecemo-nos de que os dias são muito mais do que o que podem parecer.

Um lembrete para este mês: ouvir (também) com o coração.

M