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Designing My Dream Life

27 de Setembro, 2023

O ato mais criativo

Recentemente, tenho refletido sobre como conseguimos - se nos predispusermos a tal - encontrar inspiração em todo o lado. Tudo - se nós o deixarmos - pode ser fonte de criatividade: determinada situação pode não nos acrescentar nada em concreto, mas nunca sairemos a perder se, de algum modo, nos inspirar.

Tenho pensado muito sobre toda esta questão da criatividade e o que isso realmente significa para mim. Quando falo em criatividade não me refiro ao ato literal de criar algo novo, como um texto ou uma pintura.

Para mim, a criatividade é a possibilidade de poder pensar e imaginar sem limites. De sonhar para além do que já foi feito e reinventar o que já vimos fazer tantas vezes. É a opção de escolha entre o simples e fácil ou o complexo que desafia e exige (auto)crítica.

É o tempo que não é passado a pensar em maneiras de ser produtivo e que acaba, por algum motivo, a aumentar a produtividade. E é, também, a permissão própria de ter más ideias e de as aceitar como elas são.

E é com tempo livre que nos podemos permitir explorar o lado mais criativo que temos. Podemo-nos dar ao luxo de passar um bom bocado a explorar determinada ideia, em vez de a descartarmos logo porque a correria da rotina nem permite outra coisa. 

Temos de nos permitir olhar para o mundano com olhos que procurem por criatividade, e com uma mente que tenha sede de ser inspirada. 

São tantos os sítios onde esta criatividade nos é pedida, mas cada vez acredito mais que onde esta qualidade faz realmente falta é quando pensamos em quem queremos ser.

Já escrevi aqui no blog sobre o nosso direito de identidade e até sobre os rótulos que temos, mas a boa notícia é que - como diz no livro que ando a ler - a nossa identidade não está gravada em pedra.

E perceber finalmente isso é um alívio enorme.

A qualquer momento, podemos decidir que queremos ser uma nova pessoa e que queremos romper com tudo (ou uma parte, só) do que já fomos. E é aqui que a criatividade entra em ação: usamo-la para descobrir quem realmente queremos ser para, depois, sermos exatamente isso.

É que vamos a ver e percebemos que o ato mais criativo é mesmo o ato de nos criarmos a nós próprios.

M

 

25 de Setembro, 2023

Ir com medo (mas ir!)

Faz hoje precisamente 1 ano desde que apanhei um avião, sozinha, e fui até ao meu destino de Erasmus: a bonita e mágica cidade de Liubliana, que logo no primeiro dia me deixou encantada.

Fui com duas malas cheias (mas dentro do peso), uma mochila com um tamanho maior do que o suposto, um caderno vazio pronto para ser preenchido com todas as aventuras que esperava ter e um medo enorme do que poderiam ser os próximos 5 meses. Fui também com muitas expectativas e um pequeno receio de estas não serem cumpridas. Fui sozinha - e isso tinha tanto de assustador como de entusiasmante. Fui com muita vontade de ir e fui com muitos planos para realizar.

Há 1 ano só fui: com medo, mas fui. E as melhores que coisas que levei comigo foram toda a coragem e vontade para descobrir o que encontraria do outro lado do medo. 

Sempre ouvi dizer que este tipo de experiência nos mudava, mas acho que só acreditei mesmo depois de ver. Aprendi muito, cresci ainda mais e fui imensamente feliz. 

Chorei uma vez com a neve que estava demasiado fria e eu não aguentava estar na rua, para no dia seguinte acordar a sorrir ao ver tudo branquinho da janela. Molhei-me toda com a chuva que caía enquanto andava de canoa no Lago Bohinj e nesse dia decidi que aquelas montanhas eram o meu sítio preferido. Depois conheci outros tantos incríveis e ficou difícil de hierarquizar tanta beleza.

E vi que era verdade o que a Carolina Deslandes uma vez escreveu: quando os olhos brilham não é só de chorar.

nev.jpg

Aprendi que dá para ir com medo e que, afinal, não precisava de ter medo de nada. 

Viajei para sítios lindos e apaixonei-me pelo país, e pela vida que construí lá. Via montanhas todos os dias no caminho para a faculdade, e sabia que sexta era sinónimo de apanhar uma camioneta para conhecer uma magia nova. Consegui ser quem sou na sua plenitude, e explorei tanta coisa nova. Tive a sorte de poder partilhar a minha casa temporária com pessoas de quem gosto muito, e mostrei todos os meus sítios preferidos com um sorriso que não se apagava. Fiz mil memórias felizes e uma ótima nova amizade. 

Pouco tempo depois de chegar, parei de ter medo e apercebi-me de tudo de incrível que conseguimos encontrar com um bocadinho de coragem. (Basta arriscar!)

M

PS: posso voltar?

22 de Setembro, 2023

O passado ao espelho

Uma vez ou outra, vem o passado bater-nos à porta. Insiste em entrar pelo presente adentro, e não sai até muito insistirmos.

E quando o passado vem, o que é que vemos? Fragmentos da pessoa que um dia fomos e já não mais somos, ou então sentimentos que jurávamos que nunca íamos esquecer. Memórias que já nem sabíamos ter, e arrependimentos que se calhar ainda temos. Vemos toda a mudança que (felizmente) aconteceu, e a certeza que os maus momentos também têm um fim. Se calhar, alguma saudade do que foi e já não é, ou nostalgia do que nunca parou de ser, mas que, se virmos bem, já passou também.

Sabemo-lo de cor: o passado não tem nada de novo para nos dizer. Mas o nosso presente tem maneiras diferentes de olhar para o que passou. E ainda bem! 

Nada é tão bom como uma nova perspetiva sobre o que durante tanto tempo nos atormentou. Uma nova forma de ver aquela coisa que insistia em assombrar-nos os pensamentos. Ou a simples realização de que aquilo de que tanto falávamos já não é, sequer, assunto do coração nem da razão.

Claro que pode ser difícil vermos o passado ao espelho: vemos quem éramos e vemos que já não nos identificamos mais com essa pessoa. Somos estranhos de nós próprios - e quão estranho isso é? Ou então vemos quem fomos e só pensamos em como gostávamos de voltar a ser assim.

Vemos os erros que mais tarde foram lições, e se calhar até nos culpamos de não termos visto isso mais cedo. Vemos os rótulos a serem colocados e sabemos, com a distância do presente, que já nada podemos fazer contra isso. Vemos momentos felizes que infelizmente não voltaram, e momentos tristes que felizmente passaram. E percebemos que o tempo às vezes corre e outras vezes passa devagar.

Mas já sabemos: seja como for, o tempo passa, e quando corre, corre sempre para a frente.

Agora, já não dá para voltar atrás.

M

19 de Setembro, 2023

A espiral das coisas más

Sabem aqueles lenços que saem dos bolsos dos palhaços e parece que nunca mais acabam? Acho que com as coisas más também pode acontecer o mesmo: aparece uma, damos-lhe muita importância, (puxamos por ela) e vêm outras tantas atrás.

A maior diferença é que esses lenços, depois de muito puxar, chegam ao fim, enquanto que as coisas más não têm, necessariamente, um remate. (Quer dizer: têm, mas temos de querer que assim o seja.)

Se começamos a procurar por coisas más, rapidamente as vamos descobrir em todo o lado, e até o que não era assim tão mau passa a ser: porque olhamos com olhos que só veem isso. O que podia ser um mero inconveniente assume proporções desastrosas e de repente não só caiu o Carmo, como também caiu a Trindade.  As coisas más começam a ser mais notáveis que tudo o resto, e até o que podia ser um brilhante raio de sol é encarado como demasiada luz. 

E é no meio disto tudo que começa a espiral das coisas más.

Já sabemos de cor: se nos focarmos nas coisas más elas parece que multiplicam. E quando vemos isto a acontecer na vida real nem dá para alegar desconhecimento. Por algum motivo, insistimos em ficar presos nesta espiral que só tem um destino possível: a vitimização do tudo me corre mal.

Mas então as coisas que correm bem? Aquelas coisas que podem assim nem ser tão especiais mas passam a ser porque passamos a olhar com olhos que procuram isso. As pequenas alegrias do dia-a-dia que facilmente passariam despercebidas se não estivéssemos a tentar encontrá-las tão incessantemente. 

Se calhar, podemos fazer um esforço para entrar numa espiral propositada de coisas boas: começamos a focar-nos só nelas, reparamos em tudo de bom que, afinal, também acontece, e invertemos o sentido do ciclone que insiste em puxar-nos para baixo.

É engraçado o que começa a acontecer: o que antes seria comum e mundano, assume um brilho especial que nunca antes tínhamos reparado. Começamos a reparar que é mesmo verdade o que dizem - podemos romantizar as coisas pequenas para descobrir que, afinal, elas não são assim tão pequenas.

E que tal escolher esta espiral?

M

11 de Setembro, 2023

As coleções que fazemos

Há uns anos deram-me uma coleção de pacotes de açúcar para continuar. Estava organizada em duas grandes capas, por países e por marcas. Durante um tempo, foi giro continuar aquilo, mas entretanto acho que parou de ter tanta piada.

Nunca parei de achar engraçado esta mania de fazer coleções. Postais, ímanes, selos e até globos de neve de sítios nunca visitados.

Desde sempre a Humanidade colecionou coisas. No tempo do neolítico, fazer coleções era uma tarefa importante que garantia a subsistência das espécies. Quando, naquele sítio, já nada mais havia para colecionar, partiam para outra terra à procura de novas coleções de sementes, frutas e vegetais. 

Eventualmente, os povos nómadas perceberam que não seria má ideia de todo instalarem-se definitivamente num local e começaram a dedicar-se à agricultura e pecuária. Continuavam a colecionar sementes, furtas e vegetais, é certo - mas davam mais importância e atenção ao ato da plantação, para se certificarem que teriam uma coleta de sucesso. Entretanto começaram a surgir coleções de outros tipos, como a biblioteca de Alexandria, os templos religiosos que guardavam objetos sagrados e prendas oferecidas pelos fiéis, os animais embalsamados, e vários séculos e eras de obras de arte.

Ainda agora, colecionar continua a ser uma das ocupações dos seres humanos. Colecionam-se bens materiais que ocupam o espaço de casa e o tempo livre, como selos, postais ou cromos.

As piores coleções de se ter são aquelas que ocupam demasiado espaço: rancores, dores passadas e angústias acumuladas. Mas há, também, coleções bonitas que se podem fazer: amizades que duram, sorrisos que não se esquecem e listas dos melhores dias que já tivemos.

Nos últimos dias tenho feito uma limpeza profunda ao meu quarto, e apercebi-me de todas as coleções que, sem querer, fiz: pequenas notas, recibos, figurinhas e muita, muita tralha. Todas estas coisas que supostamente guardam memórias e recordam momentos. Muitos deles, sinceramente, que eu já nem me lembrava de ter.

Depois quero espaço, quero menos confusão e mais simplicidade e tenho de escolher o que fica e o que vai. E, de algum modo, parece que deitar estas coleções ao lixo é como mandar embora as recordações que elas têm (e que eu é que devia ter).

Pode parecer que as memórias se materializam em determinados objetos, mas acho que no fundo sabemos bem que as guardamos melhor ainda no coração. E o melhor de tudo é que aí nunca ficamos sem espaço.

M

08 de Setembro, 2023

O Futuro que Assusta

O presente ainda nem acabou e já sou obrigada a pensar no futuro. O que quero fazer, onde quero fazer e como quero fazer. 

Não sei o que vou querer daqui a um ano - como é suposto decidir? (Mas há prazos para cumprir, e decisões para tomar.)

Não sei se gosto do que ainda não experimentei - é suposto adivinhar? (Mas há prazos para cumprir, e ninguém espera por mim.)

É estranho pensar no futuro quando ainda se está a aprender a viver no presente. Como se conjugam verbos num tempo diferente quando tudo o que apetece é ficar no gerúndio do fazendo, aprendendo vivendo?

Pensar no futuro é estranho porque, se formos a ver, vemos que o futuro nunca chega. E quando parece que está a chegar, surge um futuro novo e nunca lá chegamos mesmo.

Se mal sei quem sou agora, como é suposto saber quem vou ser nesse tempo que nunca chega? 

Mas há prazos para cumprir e decisões para tomar. Invento e reeinvento onde quero estar, sem saber se esse dia, como o imagino, vai chegar.

Há futuro que entusiasma, não nego isso. 

O problema é que há, também, um futuro que assusta.

M

06 de Setembro, 2023

A criança no nosso interior

Outro dia estava na rua e passei por um grupo de crianças em filinha indiana. À frente, estava um senhor adulto a dizer a um dos miúdos: é o que eu digo sempre, nós não podemos deixar morrer a criança que temos dentro de nós.

Claro que esta frase não é, de todo, a poesia mais original de sempre, mas nesse momento deixou-me com um sorriso na cara e a pensar no assunto.

Há tanto que os adultos acham que podem e devem e têm de ensinar às crianças, que nem se apercebem do tanto que as crianças nos podem ensinar. A maneira como elas são que nós, se calhar, também podemos e devemos e temos de ser.

O medo que não têm de serem "maus" a fazer alguma coisa. A admiração com que olham para a vida e os fenómenos que nela existem. A curiosidade incessante de querer descobrir como tudo acontece e funciona. O riso fácil e sincero. A facilidade com que pintam fora das linhas sem o mínimo de desconforto. A não perceção de um amanhã ou ontem, que as faz viver sempre com a mesma intensidade o hoje.

Que mal tem se este carro que desenhei nem parece um carro? E será que hoje já parei para ver como a lua está linda? Ainda me sei rir do tropeção que dei ou já só penso no trabalho que vai ser limpar a ferida? Aproveitei este momento com os meus amigos ou estávamos todos preocupados com a nova semana de trabalho que aí vem?

Com sorte, ainda vamos a tempo de ressuscitar a chama da criança que vive dentro de nós. 

Acho que ela continua à nossa espera para brincar.

M

04 de Setembro, 2023

O Som do Silêncio

Por defeito, assumimos que o silêncio é silencioso. E por definição do dicionário, o silêncio é, de facto, a "cessação de som ou ruído". Mas sinto que o silêncio é muito mais do que essa inexistência de palavras. 

O silêncio é - ou pode ser - um lugar de descoberta ou desespero, um estado de paz ou perturbação e uma coisa pela qual desejamos ou que tememos.

É que o silêncio também sabe falar: enquanto os humanos falam com as palavras, o silêncio fala com a falta delas. E é nesta ausência que conseguimos ouvir o som do silêncio. Se estivermos com atenção, conseguimos mesmo escutar o que ele nos tem para mostrar. E são tantas as coisas (bonitas) que encontramos aí.

Encontramos as palavras que não foram ditas mas foram sentidas, e aquelas que não foram ditas mas foram inventadas. Encontramos a solidão e a solitude. Encontramos respostas e mais perguntas.

Só que por vezes, o silêncio faz demasiado barulho e não sabemos lidar com isso. Sentimos a necessidade de o calar, e abafamo-lo com outra coisa qualquer: ligamos o rádio ou a televisão, falamos com um amigo ou cantamos sozinhos. Por vezes, não queremos ouvir o que o silêncio tem para nos dizer, e preenchemos o barulho com palavras que, se calhar, nem nos dizem nada.

Já se sabe: há músicas que sabem melhor que outras ao nosso ouvido. O problema é que nem todos sabem dançar ao som do silêncio.

M

01 de Setembro, 2023

Quase

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, e por vezes acabam também por mudar as amizades. Mas a narrativa pode ser outra: o tempo passa, as vontades alteram-se, mas há ligações mais fortes que ficam do que sentimentos passageiros.

Crescemos a achar que tudo é para sempre. Só que entretanto mudam as escolas e as atividades, existem discussões e novas cidades, e acabamos por perceber que o para sempre dá trabalho a manter.

O problema - dizemos nós - é que os amigos (como todas as pessoas) crescem, mas nem sempre crescem para o mesmo sítio. Os valores passam a ser outros e as diferenças acentuam-se. Surgem novas prioridades e nascem novas relações. Muda-se o ambiente e mudamos nós também internamente.

Mas no meio de tanta mudança ainda se encontram as memórias partilhadas e as descobertas conjuntas. Os sorrisos multiplicados e as lágrimas que secaram. De que importa o início ou o fim se o meio foi tão bom? É que se calhar é verdade: o que é bonito também termina - como o sol que todos os dias se põe.

(Depois enche-se o céu de estrelas - que nem sempre conseguimos ver. E aí vai parecer que estamos sozinhos. O segredo é procurar um sítio mais escuro e olhar com atenção: há todo um novo início, meio e fim à nossa espera.)

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As diferenças que antes uniam são as mesmas diferenças que agora separam. Os caminhos iguais foram para sítios distintos sem sair do lugar, e as duas pessoas que cresceram ao mesmo tempo acabaram por crescer para sítios diferentes.

Amigos para sempre?

Quase.

M