Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Designing My Dream Life

31 de Julho, 2023

Plano B

Podemos distinguir as coisas que acontecem entre as coisas que nos acontecem, as coisas que acontecem para nós e as coisas que fazemos acontecer. As duas primeiras são aquelas coisas que acontecem por motivos e forças exteriores à nossa vontade: a diferença é que as coisas que nos acontecem nos deixam a sentir uma espécie de vítima do Universo, revoltadas porque não se passou nada da maneira que queríamos. Por outro lado, as coisas que acontecem para nós são aquelas que, apesar de serem contra o que pretendíamos, acabam por se revelar coisas que deviam mesmo ter acontecido, e que só nos acrescentam à vida.

No início deste Verão aconteceu-me uma coisa. Admito que, durante muito tempo, não deixei que essa coisa se tornasse numa daquelas que acontece para mim - isto é, não me permiti ver todo o potencial escondido por detrás disso que não queria que tivesse acontecido.

Mas isto foi mudando: um dia de cada vez, e bocadinho a bocadinho. Quando dei por mim, isso que me tinha acontecido, tornou-se numa coisa que aconteceu para mim, e comecei a aproveitar as possibilidades que não pensava que iria ter.

(Esta não é, de todo, uma maneira de romantizar as coisas não acontecerem da maneira que eu queria. Fiquei chateada e até triste, mas também sei que nem tudo vai ser sempre como eu gostaria ou acharia melhor.)

Então, decidi que este ia ser o Verão das aprendizagens (e não daquelas coisas que aprendemos à força!). O Verão em que tinha tempo para fazer o que sempre disse que gostava de fazer, o Verão em que podia sair dos rótulos que me coloquei (e criei o meu jardim), e o Verão em que podia mesmo ser a pessoa que digo querer ser.

E assim foi.

foto.jpg

Aprendi a bordar e a fazer croché, e treinei a paciência como nunca achei que fosse possível. Fui má à primeira tentativa - e à segunda e à terceira também. Mas aprendi que é mesmo verdade o que digo sobre mim: sou uma rapariga persistente. Começava a aprender e ficava frustada por demorar mais que uma hora a "apanhar-lhe o jeito", mas continuei a treinar e pus em prática o ditado que diz que a prática leva à perfeição. (A perfeição acho que não atingi - mas agora posso dizer que a prática leva à execução mediana). Pus a minha paciência à prova com tanta agulha e linha e ponto feito e desfeito - e fiquei surpeendida com o resultado.

(Acho que eventualmente vou ter que parar de dizer que sou impaciente para tudo e para nada.)

Aprendi, gradualmente, a conseguir lidar com o não ter nada para fazer - e a estar bem com isso. A olhar para uma lista de tarefas diárias que, afinal, não existe, e a permitir-me passar o dia sem horários ou compromissos. Parar de olhar para o tempo com nada para fazer, e passar a reparar no tempo com possibilidades de tudo fazer (se assim o entender).

Aprendi que posso mesmo fazer as coisas que quero fazer até quando não tenho companhia para as fazer. (E aprendi que não há mal em não ter essa companhia - apesar de, claro, às vezes fazer falta.)

Também aprendi que ser corajosa não implica necessariamente saltar de um avião - pode ser tão simples como simplesmente ir fazer o que sempre quisemos fazer. Ou até ir ser quem sempre quisemos ser.

12 de Julho, 2023

O peso da expectativa

Outro dia, em tom de brincadeira e já a saber que ia causar alguma discórdia, perguntei aos meus alunos das explicações o que é que pesava mais: um kilo de algodão ou um kilo de ferro. As respostas divergiram logo: "claro que é o ferro que pesa mais, o algodão é muito leve", ou então "pesam os dois a mesma coisa, professora! um kilo é um kilo!".

Está claro que um kilo de algodão pesa o mesmo que um kilo de ferro. Mas agora tenho outra pergunta: quanto é que (nos) pesam as expectativas? (Não aprendemos na escola uma unidade de medida que consiga mensurar o seu peso.)

Já sabemos: um kilo é um kilo - seja de massa, arroz ou cimento. Mas parece que as expectativas que temos das coisas que, depois, não acontecem pesam 1 kilo de ferro, enquanto que as expectativas que acabam por se verificar já  pesam 1 kilo de algodão.

As expectativas tornam-se mais pesadas quando não correspondem à realidade - e aí esse peso todo que carregamos não nos deixa levantar (ou levantámo-nos com dificuldade). Quando as expectativas são irrealistas e inflexíveis,  esse peso aumenta ainda mais - e arrastamo-nos pela vida com elas às costas, cansados de tanto aguentar.

Há uns tempos disseram-me que só há desilusão porque há ilusão e eu acho que a culpa de haver esta ilusão toda é nossa. Somos nós que atribuímos um peso imenso às expectativas: fazemos delas mais pesadas que um kilo de ferro quando, se calhar, devíamos carregá-las com a inocência de uma criança que diz que o algodão é mesmo mais leve.

(Talvez dessa forma as expectativas pesem menos.)

07 de Julho, 2023

O Verbo Paciência

Segundo o dicionáriopaciência significa a capacidade de tolerar contrariedades, dissabores, infelicidades ou incómodos com calma ou resignação. 

Para mim, paciência quer dizer:

1.Perceber que as coisas demoram tempo - não é tudo para ontem (!)

2.Não nascemos ensinados - ninguém é ótimo logo à primeira (!)

3.O dia em que plantamos a semente nunca vai ser o mesmo dia em que colhemos as frutas (literalmente!)

Quero acreditar que se pode treinar isto de ter paciência - pelo menos, é isso que tenho tentado fazer. Recentemente, comecei a (aprender a) bordar. Isto foi o que fiz em mais de 3 horas de trabalho. (Tanto tempo para tão pouco? Haja paciência!)

bordado.jpg

Já sei: a prática leva à perfeição. E lá está: é aqui que entra em jogo este treino da paciência (não é suposto ser boa nisto logo à primeira!). Então, tenho estado a aprender novos pontos e a treiná-los repetidamente.

Vou ser sincera: nunca tinha posto (tão conscientemente, pelo menos) a minha paciência à prova. Socorro!  Engano-me várias vezes, o que faço nunca sai tão direitinho como nos tutoriais que encontrei na internet e tenho de estar sempre a repetir o mesmo movimento para ver se o resultado final se aproveita.

Estou habituada a ser rápida a fazer as coisas, e de repente começo uma coisa nova e esbardalho-me contra as linhas que escorregam da agulha. Às vezes, não há mesmo paciência para falhar. Não sendo, reconheço, o momento mais desejável do processo de aprendizagem, não deixa de ser um dos momentos. E está tudo bem com isso, não há mal em falhar-e-repetir-e-falhar-de-novo-e-repetir-outra-vez. 

Até ficarmos realmente bons numa determinada coisa precisamos desse cíclo contínuo de falhar-e-repetir-e-falhar-de-novo-e-repetir-outra-vez. Só que no meio deste processo, onde é que encontramos a paciência? Ou, fazendo a pergunta de outra forma, como é que mandamos embora a pressa? 

(É isso que ando a tentar praticar!)

A paciência é uma virtude, dizem muitos - mas, para mim, a paciência devia ser um verbo, para ser mais fácil de conjugar e pôr em prática.

M

05 de Julho, 2023

O Primeiro Passo

Tomar uma decisão, mesmo com todas as dificuldades que lhe possam estar inerentes, pode ser fácil. Por si só, tomar a decisão não implica grande coisa. A parte que vem a seguir é que já requer alguma ação: dar o primeiro passo. E é aqui que se torna tudo mais real.

É fácil dar desculpas, e convencemo-nos que é difícil arranjar soluções. É fácil dizermos o que queremos, mas depois achamos que já não é assim tão simples fazer o que realmente decidimos que íamos fazer.

Recentemente, decidi começar um pequeno "jardim" na varanda do meu quarto, como já contei aqui no blog. A decisão não implicou nenhum processo exaustivo nem infinitas listas de prós e contras: já tinha ponderado isto antes, pensei que seria um novo bom hobby, e decidi que ia avançar com a ideia, agora que tenho mais tempo. Tão simples quanto isto.

O primeiro passo foi, igualmente, simples: fui a um horto comprar plantas. Fiquei fã daquele sítio, que perdição! Eram corredores e corredores com imensas plantas diferentes, coloridas e bonitas. A parte realmente difícil foi escolher quais trazer.

hor.jpg

Não posso dar logo um salto maior que a perna, certo? Tive de me controlar no momento da escolha - mas quando (e não se) isto correr bem, volto lá para me deslumbrar - de novo - nos corredores verdes e floridos.

Já dei o primeiro passo. Agora faltam todos os outros ;)

M

03 de Julho, 2023

Viver fora dos rótulos

Vivemos numa sociedade onde (e digo isto sem qualquer julgamento) é usual darmos rótulos às coisas e às pessoas. Acreditamos que ao rotularmos algo conseguimos construir um mundo mais simples e fácil de navegar. Mas muitas vezes são estes mesmos rótulos que trazem organização e até um certo sentimento de pertença (sim, sou a pessoa que gosta de caminhar - e é isso que me define) que limitam a complexidade e diversidade que as pessoas e as coisas têm.

Caímos na armadilha que classificar isto como x e aquilo como y, e esquecemo-nos que não é sempre tudo preto no branco. E depois utilizamos estes rótulos para justificar ações, posições e opiniões - e tudo fica mais facil (à superfície, pelo menos). Só que estas etiquetas podem impedir-nos de vermos o outro como ele é para além desse rótulo que lhe colocámos. 

Várias vezes me rotulo como a pessoa que não tem assim tanta paciência - porque dá jeito, às vezes, admitir desde início que é assim que sou. Também já escrevi  sobre como gostava de ser o tipo de pessoa que tem plantas porque achava q esse era o tipo de pessoa que tem a sua vida organizada e de pé. E, mais recentemente, escrevi aqui uma crónica sobre como não dava para agricultora, precisamente por esta falta de paciência para ver as plantas crescer.

Agora, que estou de férias e com tempo livre, decidi romper com esse rótulo que coloquei a mim mesma: decidi começar um pequeno jardim.

Comecei por recuperar uns vasos do quintal, lavá-los e pintá-los de cor de rosa.

plantas.jpg

Decidi descobrir que podemos viver fora dos rótulos que nos são impostos ou que nos impõem, e decidi vir aqui contar como tem sido esta aventura de criar o meu jardim.

Fiquem atentos às próximas crónicas onde vou partilhar como está a correr este processo e o que (espero) andar a aprender com ele!

M