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Designing My Dream Life

30 de Junho, 2023

Para além das palavras

M

Vivemos num mundo rodeado de palavras. Mas nem sempre assim o foi: no tempo dos homens das cavernas utilizavam-se (que se saiba) pinturas rupestres, gestos e alguns sons. O tempo foi passando, e a forma de comunicação foi evoluindo.

Inicialmente, a escrita utilizava caracteres pictográficos, e depois evoluiu para hieroglífos mais complexos e elaborados. A comunicação oral foi sempre uma das formas principais de comunicação e desenvolveu-se em todo o mundo a diferentes ritmos, dando origem a inúmeras linguagens.

A invenção da imprensa foi crucial para o desenvolvimento da comunicação e da informação: tornou-a mais acessível e, de certo modo, padronizada. Posteriormente, as telecomunicações e a era digital vieram, como todos sabemos e vemos diariamente a acontecer, possibilitar a comunicação global instantânea. (E a evolução não parou por aqui.)

Vivemos num mundo rodeado de palavras, e sabemos o que é que (a maioria) querem dizer. Mas e o que está por trás de cada palavra? A expressão ler nas entrelinhas é, certamente, por muitos conhecida, e refere-se ao significado oculto que pode estar escondidos no meio das letras que formam as palavras.

As palavras, por si só, podem ser secas e cruas - mas se soubermos jogar com elas (como se de uma espécie de puzzle se tratassem) podemos criar novas expressões que querem dizer mais do que as palavras por ela compostas dizem. Esta capacidade de ler nas entrelinhas também pode ajudar a descobrir a ironia subjacente a determinado comentário, ou a metáfora escondida num elogio envergonhado.

Aprendemos a andar, a falar e depois a escrever (normalmente, por esta ordem). Aprendemos o significado de muitas palavras e à medida que vamos crescendo aprendemos o significado de outras que ainda não conhecíamos.

Mas há todo um mundo para além da combinação das letras que formam sílabas e, depois, palavras. Está na altura de aprendermos isso também.

M

29 de Junho, 2023

A mentira que nos contam

M

Pela internet e em muitas revistas vende-se esta ideia de que a motivação é a receita ideal para atingir os nossos objetivos, quase como se sem ela nada fosse possível. E é verdade: muitas vezes, é a motivação que impulsiona a ação, é a motivação que nos dá um pico de produtividade para finalmente completar aquela lista de tarefas chata que nunca mais acaba. Mas há um problema: a motivação não é infinita, nem é constante. E aí apercebo-nos da mentira que durante tanto tempo nos andaram a contar.

O que não nos contam é que nem sempre a motivação vai existir. Mas, mesmo sem ela, vamos conseguir atingir os nossos objetivos, porque entra em ação uma outra componente essencial: a disciplina.

Vamos descobrir que, afinal, a disciplina é que é a chave perfeita. É a disciplina que nos faz aparecer e fazer o que temos de fazer mesmo quando não queremos, é a disciplina que nos faz ir até quando a nossa mente só arranja desculpas para não ir, e é, também, esta disciplina que, da minha perspetiva, demonstra o nosso amor-próprio: somos nós a aparecer por nós, nós a fazer por nós. 

E será esta mesma disciplina que, quando praticada de forma consistente, nos ajuda a criar um hábito. (Neste ponto quase que nos esquecemos da motivação.) 

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(fonte: Pinterest)

Nas últimas 3 semanas fiz cerca de 45 minutos de exercício físico por dia, porque tinha esse objetivo. Vou ser sincera, quase nunca senti a famosa e tão aclamada motivação que tantos falam, mas não deixava que isso fosse sequer um problema. Tinha uma coisa melhor do meu lado: a disciplina. E assim, consegui cumprir com o que me propus, apesar de nem sempre ter vontade, nem sempre dar jeito, e nem sempre me apetecer.

Claro que é bom fazermos as coisas com motivação - não nego isso. Mas, na minha opinião, é melhor ainda fazer as coisas apesar da motivação. E é isso que tento fazer todos os dias.

M

28 de Junho, 2023

As múltiplas personalidades

M

A minha "história" preferida sobre os heterónimos de Fernando Pessoa é aquela que conta que um dia o poeta escreveu uma carta a Ofélia (a sua namorada) a dizer que, no próximo encontro, ia ser o Engenheiro Álvaro de Campos que a ia visitar, porque ele estaria ocupado. A melhor parte é que Ofélia alinhou e recebeu o senhor Engenheiro com toda a pompa e circunstância.

Fernando Pessoa tinha inúmeros heterónimos, uns mais conhecidos que outros. (Pessoalmente, o meu favorito é o Mestre, o guardador de rebanhos Alberto Caeiro que encontra na natureza a simplicidade e a beleza da vida). Por questões artísticas, por algum distúrbio de personalidade, ou por outro motivo que agora nem me ocorre, a verdade é que os heterónimos do poeta ficaram conhecidos como as pessoas de Pessoa e cada um ganhou uma vida própria. (Por exemplo, o médico Ricardo Reis até foi trazido ao plano do mundo real por Saramago em O ano da morte de Ricardo Reis.)

Parece-nos estranho, se calhar. Mas, se pensarmos bem, apercebemo-nos que, também nós, somos dotados de múltiplas personalidades (mais ou menos coerentes umas para outras). 

Na faculdade, sou a aluna M, no trabalho sou a professora M, sou a amiga M, em casa, a neta e filha M. Como um todo, sou uma só: mas assumo diferentes papéis em diferentes áreas da vida (assumimos todos - não guardo para mim a especialidade da situação).

Idealmente somos iguais independentemente do contexto onde estamos, mas ainda assim não vejo maldade em darmos partes diferentes de nós consoante a personalidade que encaramos a cada momento.

Somos o que somos, mas acredito, também, que somos com quem somos.

M

 

26 de Junho, 2023

Não dava para agricultora

M

Adoro o sol, principalmente quando se põe. Adoro o céu azul e cor-de-rosa, e até sei identificar algumas constelações. Reconheço a beleza na simplicidade da apanha da fruta e na observação das amendoeiras em flor. Sei de cor os movimentos de rotação e transalação da Terra e já aprendi na escola que as estações do ano não resultam das marés do momento.

Sinto-me eu mesma na natureza. Posso ser um pleonasmo de todo o tamanho, porque é aí que me encontro e reencontro - as vezes todas que forem precisas.

Álvaro de Campos dizia que não é elegante ser suscetível às mudanças de luz - mas porque é que as plantas podem e nós não? 

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Não dava para agricultora: não consigo ter de depender dos movimentos da Terra ou das chuvas e dos ventos para saber quando é que as Leis da Natureza vão ser postas em prática. Toda a causa gera um efeito, defendem alguns entendidos. Eu, contudo, prefiro viver no plano do libertismo, onde decido que tudo nasce quando eu assim o quero, e onde as estufas permitem a criação de sentimentos em viveiro fora de época. 

Adorava ter um jardim plantado por mim, onde crescessem não só as plantas que semeei, como também toda a paciência que digo que não tenho.

Mas já se sabe: não dava para agricultora.

M

21 de Junho, 2023

O Exemplo

M

Não há ensino que se compare ao exemplo. - Badden Powell

Sabemos de cor o provérbio: olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço. Mas, vamos lá ser sinceros, é muito mais fácil falar do que agir. E é muito mais simples dar o exemplo pelas palavras do que pelas ações. Mas será que é igualmente eficiente?

Lutou-se pela liberdade de expressão porque se acreditava no poder das palavras, e na força que estas podem ter para mudar o mundo. Mas se a dissociação entre o discurso de alguém e a sua ação é motivo suficiente para essa pessoa perder toda a sua credibilidade (ou, pelo menos, para quem ouve e vê estar menos predisposto a seguir o exemplo que lhe dão), quer isto dizer que as palavras não têm o poder que achávamos?

É aqui que surge um valor muito importante: a coerência. E quando começamos a praticar o que dizemos vamos descobrir que, se calhar, ser coerente com o que se faz e o que se diz é que vai, afinal, mudar o mundo.

Outro dia ouvi alguém dizer: as palavras movem, mas as ações arrasam. 

E fiquei sem mais nada a acrescentar.

M

 

19 de Junho, 2023

A bússola moral

M

Há uma coisa que sei: as nossas ações não podem ser a bússola moral para julgar as ações dos outros e dizer se elas são corretas ou erradas. Achar que este é o melhor critério seria como admitir que nós é que somos detentores da verdade absoluta.

Mas se não é esta a bússola certa, então qual é que pode ser? Quando é que podemos dizer que uma ação que o outro fez foi correta ou incorreta? É porque nos magoa? É porque nos põe a sorrir? 

Já sei: não temos legitimidade nenhuma para julgar o que os outros fazem. E a resposta que estou à procura se calhar até devia ser outra: como é que eu me posso focar em agir de modo correto e coerente? E como é que lido quando alguém faz uma coisa que eu não faria e que me magoa?

Outro dia, alguém me disse que tinha mudado o discurso de faço aos outros o que gostaria que me fizessem a mim, para faço aos outros o que eles gostariam que lhes fizessem, porque a primeira opção seria como centrar em si o que está certo e errado. Não vou mentir, isto deixou-me a pensar.

(Ainda assim, continuo à procura de respostas. Afinal, qual é a bússola que posso usar?)

M

14 de Junho, 2023

As palavras que perdi

M

Já perdi conta às palavras que perdi. Aos textos que ficaram incompletos por não saber mais o que dizer, ou porque não sabia mais como o dizer. As crónicas que foram escritas até ao fim, mas que não foram publicadas, e as ideias que não passaram de uma lista.

Mas não faz mal: acredito que quando as palavras se perdem eventualmente encontram o caminho de regresso, e voltam com uma nova ideia do que pode ser dito, e de como pode ser dito. 

Isto de querer publicar 3 textos por semana não é fácil, admito. Nos últimos 5 meses e pouco de blog já publiquei 71 textos, e já devo ter perdido quase metade desse número. Algumas ideias são mesmo só boas no papel. Outras passam do papel para o ecrã e não vejo maneira de as concretizar, e há ainda aquelas que terminei mas num exercício auto-crítico não as mostrei. Não há mal nenhum nisto, é tudo um processo. Acontece que escrever sobre esse processo de uma ideia para um crónica acaba por se revelar mais difícil do que realmente escrever sobre a ideia em si.

Mas não faz mal: acredito que quando as palavras se perdem haverá outras pessoas que as encontram e que conseguem fazer com elas o que eu não consegui.

Já perdi conta às palavras que perdi.

M

12 de Junho, 2023

E quando o silêncio deixa de ser mais fácil?

M

Então lá foi, e perguntou. E - como a parte pessimista de si esperava - ouviu um não. Mas isso não causou  tristeza- desta vez, já não dava mais para ficar calado.

Há uns tempos escrevi aqui sobre as vezes onde o não é garantido, mas a facilidade do silêncio acaba por falar mais alto. Mas e o que acontece quando o silêncio deixa de ser fácil? Quando já sabemos tão bem o que queremos que temos vontade de sair à rua e gritar bem alto? O que fazemos quando chega a um ponto em que o silêncio começa a ser ensurdecedor?

A resposta é simples: ganhamos coragem, enchemos o peito de ar, e dizemos aquilo que tanto queremos dizer.

E depois, podemos ouvir um não, damos com o nariz na porta e ficamos com vergonha.

Mas! Ao menos tentamos: e, se calhar, perceber que tivemos essa coragem toda quase que sabe melhor do que ouvir um sim.

M

09 de Junho, 2023

Tudo acontece por um motivo (?)

M

Será que tudo acontece por um motivo?

Dizem por aí que tudo acontece por um motivo, mesmo que na altura a nossa visão esteja demasiado desfocada para conseguir perceber que motivo. Será isto verdade, ou será esta frase um mito urbano que pretende afastar a tristeza que sentimos quando ouvimos um não, e nos faz agarrar à esperança que esse não só aconteceu para um melhor sim surgir?

Se calhar, procuramos por significados escondidos onde eles não existem, ou então até olhamos para o lado para propositadamente não ver o que está mesmo à nossa frente. Seja de que maneira for - e acreditando, ou não, em coincidências - as coisas acontecem (com ou sem motivo) e nós temos de lidar com elas com olhos que olham em frente, e não olhos que procuram por um significado oculto que justifique o que quer que tenha acontecido.

Depois, é também importante fazer toda aquela distinção entre as coisas que nos acontecem e as coisas que acontecem para nós: e acho que pode mesmo ser este discernimento que vai fazer toda a diferença na maneira como vemos as coisas, e em como lidamos com o que não queríamos ter de lidar. Não aconteceu o que queríamos, ou não aconteceu da maneira que queríamos, e dizemos que tudo acontece por um motivo: é, então, a nossa função perceber o que é que pode ser esse motivo, numa postura proativa de descobrir a maneira que isso aconteceu para nós, em vez de chorar porque isso nos aconteceu.

M

07 de Junho, 2023

Mudar ou não mudar, eis a questão

M

Não há dúvida que a mudança é, na vida, a única constante. E apesar de já ter temido isso, agora quase que  posso dizer que quase que anseio pela mudança - ou, pelo menos, já não tento fugir dela. A verdade é básica, mas se calhar por isso mesmo é que é verdade: nada muda se nada mudar. Apesar de, por vezes, ser assustadora, a mudança traz com ela coisas novas (que, reconheço, podem não ser necessariamente coisas boas, mas ainda assim acho que devem ser abraçadas de braços abertos).

Todos os dias temos a oportunidade de fazer uma série de escolhas: umas mais fáceis, outras que pedem por um momento de pausa e ponderação, outras mais pequenas e insignificantes, outras que trarão alterações mais visíveis. E uma só escolha pode ser o início do caminho da mudança.

Esta mudança, não tenho dúvidas, é possível e, muitas vezes, extremamente necessária. Mas recentemente tenho andado a refletir sobre se as pessoas podem (se assim o quiserem) mudar.

Por um lado, acho que dizer que as pessoas não mudam é não acreditar em segundas oportunidades, não acreditar no arrependimento ou, pelo menos, no reconhecimento do erro, na evolução, e na possibilidade de corrigir-e-fazer-melhor (ou pior, mas diferente).

Por outro lado, sinto que querer acreditar que as pessoas mudam é quase como estar a exigir do outro uma coisa que ele, simplesmente, não é. Bem sei que uma parte (se calhar, até bastante grande) do amor é aceitar o outro como ele é, mas até que ponto é que não podemos pedir que a pessoa mude um bocadinho aquilo que  nos magoa?

Acho que temos tanta legitimidade para exigir a mudança do outro, como essa pessoa tem para não querer mudar e nos dizer precisamente isso: e nós fazemos o que queremos com essa informação.

(Esta parte depois já é com cada um.)

M

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