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Designing My Dream Life

08 de Março, 2023

A avó do meu amigo

Numa aula aleatória de Português no 8º ano, a avó do meu amigo foi à escola falar-nos sobre poesia. Já não me lembro de quase nada que disse, mas um conselho que deu ficou comigo até hoje: peguem num caderninho e  apontem os vossos poemas preferidos. Desde esse ano que assim o fiz.

O primeiro poema que escrevi, em julho de 2015,  foi o Não digas nada, de Fernando Pessoa. Adoro especialmente os versos Há tanta suavidade em nada dizer/E tudo se entender. 

Alguns poemas têm pequenas notas: por exemplo na página do poema Quando eu nasci escrevi no final da página "Poema preferido da vovó R".

Tudo o que eu achasse bonito guardava e depois escrevia aqui. Já passaram 8 anos e ainda uso o mesmo caderno, quase sem espaço.

poem.jpg

Sempre que abro o caderno penso na avó do meu amigo, e no quão boa foi esta ideia que a senhora nos deu há tantos anos.

Folheá-lo é quase como viajar no tempo, e revisitar diferentes alturas da minha vida, com diferentes sentimentos, e diferentes poemas que me marcaram. 

O último poema que apontei foi em fevereiro do ano passado, de Samuel Becket:

Falhar melhor não sei,

mas falhar sempre

exige muita pontaria.

 

Está na altura de atualizar o caderno, entretanto já descobri muita nova poesia bonita :)

M

 

 

07 de Março, 2023

Devagar se vai - Colagens #8

Título: Devagar se vai

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Data: 07-12-2020

Esta colagem foi inspirada no poema de Billy Collins que me tocou especialmente pela sua ambiguidade de interpretação  - "Sinto mesmo a tua falta mas da maneira que a seta falha o alvo".

Esta peça conta a história de um amor que já terminou mas que continua a ser amor. Agora, debate-se se valerá, ou não, a pena salvá-lo.

Não apressemos as coisas boas. Devagar se vai.

E de que maneira é que a seta falha o alvo? Redondamente. Ou então por pouco.

**

 

M

06 de Março, 2023

21 dias e mais alguns

Dizem por aí que se demora 21 dias a criar um hábito. Pelo que procurei, não existe nenhum fundamento científico que traga alguma verosimilidade a esta afirmação, mas a verdade é que a ideia pegou.

Tinha um hábito terrível de me deitar na cama à noite e fazer scroll infinito no telemóvel, quase sem sequer prestar atenção ao que estava a ver. Apesar da minha clara falta de interesse, continuava a deslizar o dedo pelo ecrã simplesmente porque não tinha a disciplina suficiente para me obrigar a parar e pousar o telemóvel. A solução que arranjei foi implementar a regra de me deitar com ele longe da cama.

Não acredito em restrições excessivas ou exageradas e acho que tudo é bom na medida certa, mas a verdade é que tive de ser um bocadinho rígida comigo mesma para parar com esta péssima mania.

Hoje posso dizer que já há uns bons dias que vou dormir com o telemóvel longe da cama. Fiz isto a prezar pela quantidade do meu sono, e também porque sempre quis experimentar se realmente bastam 21 dias para criar um hábito.

Sendo sincera, não tem sido difícil adaptar-me a este novo costume. Nos primeiros dias, antes de me deitar ligava uma meditação qualquer e programava o telemóvel para se desligar passado um bocado, mas depois fui-me apercebendo que não precisava mesmo desse barulhinho de fundo nos primeiros minutos em que me deito.

Quase sem dar conta, e mesmo sem intenção, acabei por criar uma rotina noturna: quando é hora de ir dormir, ponho o telemóvel a carregar em cima da secretária, vou à casa de banho fazer o meu ritual de cuidados de pele e, quando termino, meto-me na cama já meia embalada para dormir. Há dias em que demoro um bocadinho mais do que outros a adormecer, mas mesmo nessas alturas fico feliz por estar a conseguir resistir à tentação de pegar no telemóvel.

Já passaram mais de 21 dias e acho que posso dizer que consegui realmente criar o hábito de me deitar sempre com o telemóvel longe da cama. A qualidade do meu sono não melhorou, mas a quantidade sofreu, sem dúvida, um aumento considerável.

Da próxima vez que quiserem implementar um hábito já sabem: experimentem-no durante 21 dias. Pode não pegar, mas pelo menos durante 21 dias foram a pessoa que queriam ser ;)

M

 

03 de Março, 2023

Quesito

Numa aula de direito na faculdade, a palavra quesito surgiu. Não a conhecia, então fui procurar na internet o seu significado.

De acordo com o Dicionário Priberam, a palavra quesito deriva do latim quaesitum e é uma pergunta a que se há de responder.

O quesito sobre o qual escrevo hoje aqui no blog é citado de um dos recortes que fiz enquanto preparava as minhas colagens:

"Que será que tem lá em baixo que a pedra tomba tão fácil?"

Já não sei o contexto onde esta pergunta aparecia, mas chamou-me logo a atenção e fez-me, de imediato, lembrar do mito de Síssifo, o Deus que irritou Zeus (o pai dos Deuses, segundo a mitologia grega) e que, por isso, foi condenado a carregar uma pedra até ao cimo do monte, que caía de todas as vezes que atingia o topo, tendo este que repetir o processo até à eternidade.

Este mito inspirou Miguel Torga numa das suas poesias: 

 

Recomeça....

Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças...

Pensemos em Síssifo como o símbolo dos recomeços e das penitências - não tendo estes que ser dois lados da mesma moeda.

M

 

 

 

 

01 de Março, 2023

O tipo de pessoa que

Em  Novembro de 2021, como já partilhei aqui no blog numa das minhas colagens, decidi que queria ser o tipo de pessoa que tem plantas. Porque alguém que tem plantas é alguém que tem a sua vida resolvida e organizada. Quem é que tem tempo para manter uma planta viva se a sua vida estiver a desmoronar-se?

O processo para me tornar esta pessoa devia ser começar por me organizar e recompor, para, de seguida, ter capacidade para fazer viver uma planta. Pois bem, fiz tudo ao contrário.

Uma amiga querida deu-me um saquinho com sementes e eu coloquei-as numa caixa de ovos, juntamente com um bocadinho de terra. Uma semana foi suficiente para se ver uns pezinhos verdes a rebentar. Passado outra semana, o crescimento continuava a ser notável. Conforme dá para ver nas fotos, e tendo em consideração que todo o meu objetivo a fazer crescer estas plantas era motivar-me, no outro lado da caixa de ovos escrevi frases inspiradoras em papelinhos, que abria sempre que ia regar as plantas. 

Passadas 3 semanas, já foi necessário mudar a casinha das minhas plantas, então transplantei-as para um vaso. Enquanto que a caixa de ovos ficava no meu quarto, o vaso teve de ir para o jardim. Esta mudança levou ao fim trágico da vida das plantas - nunca mais as fui regar.  

Não consegui tornar-me no tipo de pessoa que tem plantas, mas acabei por ter um mês mais feliz e inspirado.

 

 

Agora, no início 2023, decidi que quero ser o tipo de pessoa que tem flores no quarto. Porque, para mim, flores no quarto implicam um quarto limpo, arrumado e cheiroso, e é esse o tipo de quarto que quero ter. 

O primeiro passo foi, claro, comprar flores. Sem saberem, os meus avós ajudaram-me nesta fase e, quando cheguei a Portugal, tinha 3 girassóis à minha espera. Uns dias mais tarde, numa ida ao Mercado do Bolhão comprei um ramo de flores brancas e arranjei-as num vaso que encontrei num armário cá em casa.

Como ter flores não é o único passo nisto de ser o tipo de pessoas que tem flores, todos os dias tiro uns minutinhos para deixar o quarto arrumado. Tenho tentado deixar tudo minimamente organizado quando saio de casa para saber que, quando regressar, vou encontrar tudo no devido sítio. 

Passado um mês senti logo que falhei o tipo de pessoa que queria ser a ter plantas. Agora, este último mês foi o suficiente para sentir - e partilhar - que estou a ter sucesso neste novo objetivo. As flores brancas aguentaram muitos dias (já tenho um ramo novo, entretanto) e o meu quarto tem estado arrumado e organizado.

Dizem que espaço arrumado equivale a mente arrumada. Não acho que - pelo menos no meu caso - haja uma correlação entre estas duas coisas. Independentemente disso, estou feliz por estar a cumprir um dos meus objetivos para este ano. 

Pode ser ainda cedo demais para dizer, mas parece-me que este hábito veio para ficar.

M

 

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