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Designing My Dream Life

31 de Janeiro, 2023

Sequelas da Pandemia - Colagens #0

Como aconteceu a muita gente, quando dei por mim fechada em casa devido à pandemia do C*vid tive de arranjar maneiras de me entreter. Tinha aulas online, continuava a ter de estudar e até exames à distância fiz. Contudo, apesar de tudo isto, sentia que precisava de mais.

É certo que o confinamento não foi fácil para muita gente, e eu não fui a exceção. A melhor maneira que encontrei de expressar todos os meus sentimentos e pensamentos foi a fazer colagens com recortes de diferentes jornais e revistas. Encontrei um caderno antigo onde na primeira página os meus pais escreveram: 

Feira do Livro 2008

Para a M.

A primeira colagem de todas não fez sentido, eu não tinha nenhum tema em mente nem pretendia contar nenhuma história, colei só recortes aleatórios. Chamei-lhe Temos sempre de começar por algum lado.

À medida que ia fazendo mais colagens comecei a aperceber-me do meu estilo preferido e de todas as possibilidades infinitas que tinha em mãos. Passados 3 anos, continuo a sentir uma necessidade constante de ir reinventado o processo. 

De uma maneira mais ou menos subtil, todas as colagens pretendem transmitir uma história. As peças não são, de todo, autobiográficas, mas reconheço que a minha vida e experiências têm um peso na mensagem (mais notório e significativo numas colagens que noutras, é certo). Neste ponto levanta-se uma questão interessante - será que dá para separar a arte do artista? Fica a nota para reflexão. 

Mesmo agora, já sem c*ovid nem confinamento, continuo a fazer colagens e este continua a ser um dos meus hobby preferidos. Confesso que muitas vezes com a correria e responsabilidades do dia-a-dia não me sobra paciência nem criatividade para me dedicar a isto. Um dos meus objetivos para este ano é precisamente arranjar tempo para estas atividades que me dão prazer e desenvolvem a criatividade, e isso de arranjar tempo poderá passar precisamente por marcar tempo na agenda para isto, da mesma maneira que marco o tempo para estudar ou ir a uma consulta.

Adoro ir a museus, mas não gosto nada quando encontro o retângulo branco no canto inferior direito da obra se lê: Sem título. Por causa disso, dei um nome a todas as minhas colagens. Algumas estão, também, acompanhadas por um pequeno texto que contextualiza a peça. 

Nas próximas semanas, vou partilhando por aqui algumas das minhas colagens preferidas que espero, genuinamente, que gostem!

Estou entusiasmada por fazer esta partilha porque ainda não tinha encontrado a plataforma ideal para partilhar as minhas colagens mas já há muito que o queria fazer, e agora sinto que este meu blog é o espaço ideal.

Se quiserem ter a certeza que não perdem nenhuma publicação , subscrevam o blog :)

 

30 de Janeiro, 2023

Manifestar funciona?

A mais recente arte mística é a Lei da Atração. Basicamente, esta "lei" determina que atraímos aquilo em que pensamos - pensamentos e energia positiva vão atrair resultados positivos, da mesma maneira que pensamentos e energia negativa atraem maus resultados.

A Lei da Atração funciona através da manifestação. Ao manifestar devemos escrever os nossos desejos e objetivos no presente, de modo a acreditar e interiorizar que, na verdade, já os concretizamos. Em vez de dizer “Eu vou arranjar um emprego que adoro”, a Lei da Atração propõe que se diga “Eu trabalho num emprego que adoro”. 

Não há qualquer base científica para isto, é certo. Contudo, se pararmos para pensar apercebemo-nos que pode haver algum fundamento psicológico nisto da manifestação. 

Se pensarmos muito numa coisa que queremos, vamos estar mais dispostos a nos apercebermos quando essa coisa estiver mesmo à nossa frente. Quando decidi que queria pintar o cabelo de ruivo, saía à rua e só via pessoas ruivas - não porque, de repente, toda a gente teve a mesma vontade que eu, o meu cérebro é que começou a estar, de certo modo, "programado" para procurar por pessoas ruivas. 

As redes sociais funcionam de maneira um pouco semelhante - o conteúdo que procuramos e com o qual interagimos é o que nos mais vai aparecer. Se pomos um gosto em fotos de gatos, vamos ser inundados com esse tipo de publicações. 

O nosso cérebro acaba por fazer o mesmo - quando nos focamos num determinado objetivo, acabamos por estar mais predispostos para reconhecer e abraçar oportunidades de o concretizar.

O que sustenta, na minha opinião, o poder da manifestação é precisamente apercebermo-nos desta capacidade que a nossa mente tem. Acabamos por conseguir, de certo modo, programa-la para estar disposta a encontrar o que mais queremos. Ao repetir a mesma frase várias vezes, estamos quase como que a plantar uma "semente" no nosso cérebro e a programa-lo para agir na direção desse objetivo que manifestamos.

Esta ideia não é nova - apenas tem um nome diferente. Há ditados populares que passam esta mesma ideia: o que damos, recolhemos, no que nos focamos, recebemos.

Cada um colhe o que semeia.

Quem planta, colhe.

Se estivermos a ter um mau dia e repetirmos isso interiormente muitas vezes o nosso cérebro acaba por ficar mais atento aos azares do dia e parece que tudo começa a correr mal. O mesmo acontece se nos focarmos nas coisas boas, e vai acabar por parecer que o nosso dia, afinal, está cheio delas.

E que tal começarmos por manifestar todos um ótimo dia?

M

26 de Janeiro, 2023

Mel com Limão

Já escrevi aqui sobre finais, com ênfase em como eles são, na verdade, um novo início disfarçado. Também já escrevi sobre como as mais recentes últimas vezes me deixaram com um nózinho na garganta. A "teoria" é fácil sabê-la. Mas depois como é que lidamos com isto na vida real?

Hoje é o meu último dia de ERASMUS, e sinto uma mixórdia de sentimentos. Um misto de gratidão e felicidade, pela oportunidade incrível que tive. Nostalgia, pelos momentos que já terminaram. Um bocadinho de tristeza também, porque não queria nada que esta experiência chegasse ao fim. 

Custar-me tanto dizer adeus só demonstra o quão feliz fui aqui. Digo sempre que ter saudades é uma coisa boa, porque só prova o quão bom determinado momento foi. Nos últimos 4 meses tive uma soma enorme de momentos bons, e agora é altura de me despedir, e apesar de saber que vou ter saudades também sei que tudo termina.

Acho que há sempre um inevitável sentimento agridoce quando deixamos um sítio, não só porque deixamos para trás boas memórias, mas também porque, de certo modo, deixamos ainda a pessoa que fomos nesse período. E eu fui uma pessoa tão feliz aqui!

A parte doce passa, agora, por me focar no que aí vem e ultrapassar a tentação de viver a vida no passado a recordar tudo o que foi bom sem nada fazer por continuar a ser assim.

Diria que a palavra agridoce é a minha palavra preferida. Tem um som engraçado ao ouvido, e o sentimento que transmite é muito próprio do ser humano. A mesma experiência pode ser ácida e, simultâneamente, doce. Não tem que ser tudo preto-ou-branco. Não tenho que estar feliz-ou-triste por ir embora. Existe o cinzento. Posso estar feliz-e-triste.

O Winnie the Pooh tem uma frase muito bonita - e apropriada - que diz: quão sortudo sou eu por ter algo que torna dizer adeus tão difícil? 

Tive (e tenho) mesmo muita sorte.

25 de Janeiro, 2023

A Fatalidade das Últimas Vezes

Fala-se muito das primeiras vezes. O primeiro amor, a primeira casa, o primeiro emprego, o primeiro beijo. Mas as primeiras vezes são, só, o começo de todas as outras. E sobre as últimas vezes, alguém fala?

No meu diário de ERASMUS dediquei duas páginas a apontar as minhas primeiras vezes: a primeira festa, a primeira visita, a primeira refeição fora, o primeiro teste e a primeira viagem. Agora que isto está tudo a acabar dou por mim a pensar e as últimas vezes? O último passeio pelo centro, a última ida até à faculdade com montanhas no horizonte, o último floco de neve.

A minha série preferida tem uma frase que diz:

Tu nunca sabes que a última vez vai ser a última vez. Achas que vai haver mais. Achas que tens para sempre, mas não tens.

É certo que dói (às vezes, muito) um dia olharmos para trás e nos apercebermos que de aquela foi realmente a última vez, e que na altura nem o sabíamos.  Mas e o peso que tem sabermos quando está a acontecer a última vez? 

Prepararmo-nos para isso não é fácil. Tive tantos dias este texto nos rascunhos e ainda não me consegui mentalizar que está mesmo tudo a terminar. Fui tão feliz aqui, e agora não me quero desprender dessa felicidade.

Contudo, estou a tentar olhar para este fim com olhos que vêem para além dele. Agora, é altura de fazer as malas, regressar a Portugal e levar comigo tudo o que aprendi. Ser a pessoa que quero ser. Viajar mais, criar novos hábitos e rotinas, continuar a ser feliz.

Considerando o medo todo com que vim e a vontade que agora tenho de ficar, facilmente se percebe que esta foi, realmente, a melhor experiência que poderia ter pedido e imaginado. Ficam as memórias, uma amizade nova muito boa, as aprendizagens, as descobertas e um diário que relata todos os dias e momentos destes 4 meses tão bons. 

Fica também, claro, uma vontade grande de voltar a este país que se tornou, temporariamente, a minha casa. E a certeza de que isso vai acontecer.

M

 

 

 

23 de Janeiro, 2023

A Cidade dos Filmes

Liubliana é a cidade dos filmes para onde as personagens principais se mudam e têm um final feliz. Desde o primeiro dia que visitei o centro da cidade senti como se estivesse numa dessas histórias. Não vim aqui para ter um final, mas sem dúvida que tive um "meio" muito feliz. Mesmo agora, depois de já ter passeado pelo centro muitas outras vezes, continuo com a mesma sensação.

Cheguei dia 26 de setembro, já com uma visita guiada pela cidade marcada para o dia seguinte. Decidi ir um bocadinho mais cedo e descobrir, primeiro, as ruas sozinha. Foi um daqueles casos de amor à primeira vista. 

No meu diário de ERASMUS, onde relatei tudo desde o primeiro dia, escrevi:

Antes da walking tour fui passear um bocado sozinha para o centro. Já me apaixonei. Liubliana é uma cidade linda!! E eu senti-me a personagem principal disto tudo. É assim que os filmes começam. 🤍

Admito que isto podia ser só o meu cérebro a tentar romantizar esta nova fase da minha vida, mas a verdade é que já várias pessoas me contaram que partilham desta opinião. A cidade é acolhedora e enquanto se passeia pelas ruas exclusivas a peões facilmente se recebe a mensagem de que vai tudo correr bem.

Nessa visita guiada conheci outros estudantes de ERASMUS que, tal como eu, chegaram sozinhos e à descoberta. Uma menina contou-me que veio de Praga até aqui, e quando saiu do autocarro trovejava e chovia imenso e ela imediatamente pensou "ok, isto parece o início de um filme". Reconfortou-me logo saber que não era a única que sentia isso, e que a magia da cidade chegava a todos.

 

A cidade não é, de todo, uma metrópole cheia de vida e movimento, mas isso faz parte do seu encanto e foi, na verdade, um dos fatores que me fez escolher este destino. Ao caminhar pelas ruas cruzamo-nos com poucas pessoas que estão sempre tranquilas nos seus afazeres.

A minha zona preferida é, sem dúvida, a margem do rio onde me sento a olhar para as casinhas com uma pequena varanda, a imaginar que vivo ali. Gosto, também, de passear pelas esplanadas e observar as pessoas sentadas nas mesas a conversar calmamente. No Outono, toda a cidade ficou coberta em tons vermelhos e laranjas e havia sempre um cheirinho a castanhas no ar que aquecia o coração. 

 

A melhor parte  é a possibilidade de ver o sol a pôr-se nas montanhas, que rodeiam a cidade.

Liubliana é a cidade dos filmes para onde as personagens principais se mudam e têm um final feliz. Ninguém me tira esta ideia da cabeça.

M

 

 

20 de Janeiro, 2023

Escolha Múltipla

Numa aula de Direito da Família aprendi que o direito a contrair casamento, consagrado no artigo 36º CRP, implica o direito a não contrair casamento. Parece óbvio, mas isto tem várias implicações a nível legal: duas pessoas, ao escolherem não contrair casamento, mas vivendo uma vida comum, não podem estar sujeitas ao mesmo regime que duas pessoas casadas estão, porque isso seria inconstitucional. Assim, o legislador teve de criar um regime diferente (e mais simplificado) – a Lei da União de Facto (Lei nº7/2001).

Acho que com o direito à escolha devia acontecer o mesmo. Se temos o direito a escolher, então temos o direito a não escolher, o que implicaria consequências diferentes de escolher. Mas não escolher acaba por ser, também, uma escolha. Em que ficamos, então?

Gosto de ter uma rotina, mas só para ter a possibilidade de fugir dela e escolher se quero, ou não, cumpri-la. Organizo as tarefas que tenho a fazer por semana, e não por dia, para poder, diariamente, decidir o que me apetece fazer no momento. Há tantas coisas no meu quotidiano que me são impostas exteriormente (como o horário das aulas ou do autocarro) que gosto de reservar momentos onde possa exercer o meu direito de escolha, deixando-me com uma pequena e simpática sensação de controlo.

Nos testes de escolha múltipla, por vezes fazer a escolha errada implica um desconto na nota. E na vida real? Será que há isso de escolha errada e escolha certa? E ao fazermos a escolha errada que consequências temos? Um desconto no nível de felicidade (fosse esse um valor mensurável)?

Mais complexo este tema se torna quando lemos a alínea no teste que diz “mais do que uma resposta está certa”. Como é que sabemos que podemos escolher várias opções? Por vezes, pode parecer que é isto ou aquilo, quase como o ultimato que Inglaterra deu a Portugal aquando do mapa cor-de-rosa. Mas e quando dá para ter as duas coisas? Quando não tem de ser isto-ou-aquilo?

Um truque para resolver questões de escolha múltipla é ler a pergunta, tapar as diferentes alíneas e tentar responder sozinho. A situação complica quando a resposta que achávamos ser a certa não é, sequer, uma opção. Na vida real pode parecer que estamos entre a espada e a parede, mas será que não reparamos que nessa parede há uma porta com uma chave na fechadura e que conseguimos sair? Por vezes pode parecer que estamos sem opções, e que a escolha, na verdade, já foi feita para nós e não por nós. Por isso, é importante aprendermos a distanciarmo-nos do problema e abordá-lo com novos olhos.

Diria que, regra geral, lido bem com o dilema da escolha, porque normalmente sei o que quero. Quando vem a indecisão é que está o caldo entornado. Mas estando o leite derramado ou ainda dentro da caneca, o leite continua a ser leite, e seja qual for a escolha que fizermos, vamos sofrer as suas consequências. 

M

19 de Janeiro, 2023

Sem mapa

Veneza é uma das minhas cidades preferidas. Já lá fui várias vezes e saio sempre maravilhada como se estivesse pela primeira vez a ver aqueles canais e ruas magníficas. 

A primeira vez que visitei Veneza levava comigo grandes expectativas - o que pode ser, muitas vezes, a chave para a desilusão. Contudo, essas expectativas corresponderam à realidade. Na verdade, saí de lá mais maravilhada do que achava possível. A cidade é diferente de todas as outras, há uma loja a vender massa fresca em cada esquina, as casas coloridas chamam a atenção para todos os detalhes, e todas as ruas e ruelas dão-nos vontade de partir à descoberta.

Como muitas outras cidades de Itália, também Veneza está cheia de arte. As vistas naturais e arquitetónicas são bonitas é certo, mas vale também muito a pena visitar o interior dos edifícios e apreciar todas as salas, escadarias, esculturas e frescos.

Em Novembro do ano passado fui, pela terceira vez, visitar a cidade que flutua. Uma amiga minha veio de Portugal visitar-me e decidimos encontrar-nos, primeiro, em Veneza. 

Nesse dia, quando saí da estação de comboios de Santa Lucia, decidi que ia, sem mapa, ter com a minha amiga que me esperava, com o telemóvel quase sem bateria, na Piazza San Marcus. Já sabia que a cidade estava cheia de dois tipos de placas, umas a indicar a direção da tão famosa praça, e outras que apontavam o caminho até à Ponte Di Rialto. Ainda tinha uma caminhada de 40 minutos pela frente, e certamente demorei mais tempo, mas não há melhor sítio para nos perdermos do que as ruas tão bonitas de Veneza.

Como o sol já se tinha posto, quando nos encontramos decidimos que íamos só vaguear pela cidade, sem destino. Comemos uma massa fresca deliciosa sentadas nas escadas de uma ponte, a absorver toda a magia daquele sítio e a falar do quão felizes estávamos por estar ali.

No dia seguinte tinhamos pensado em ir visitar a Scola Grande S. Rocco logo pela manhã. Para mergulhar completamente na cidade, vimos a direção do nosso destino no GPS, desligámos o telemóvel e começamos a caminhar. Não conhecíamos aquelas ruas, simplesmente seguiamos pelo percurso que mais agradável nos parecia. Todas as ruas são uma descoberta. Encontra-se um canal diferente e uma nova ponte com uma facilidade enorme, e todas nos maravilham da mesma maneira.

Nesse dia almoçamos, novamente, massa fresca num restaurante que encontramos por mero acaso numa das nossas deambulações pela ruas da cidade. 

À tarde, compramos o passe dos Museus e visitamos o Palazzo Ducale e o Museo Correr. Numa das lojas de recordações, abri um livro sobre a cidade numa página aleatória e li a seguinte frase, de Tiziano Scarpa:

"Um sítio onde nos podemos perder é o único sítio que vale a pena ir"

(A place where you can get lost is the only place worth going to.)

Foi bonito ler o que alguém, já há uns anos, pôs por escrito o que eu tinha estado a sentir nas últimas 24 horas. 

 

 

Durante a minha experiência em ERASMUS documentei tudo num diário. Estas são as páginas que fiz desses dois dias em Veneza, a cidade onde vale a pena não usar um mapa:

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3 vezes em Veneza já me parecem vezes suficientes, porque há tantos outros sítios a visitar e tantos outros sítios onde, certamente, valerá também a pena perdermo-nos. Apesar de não pensar voltar tão cedo, vou sempre guardar comigo a cidade onde o melhor se encontra sem um roteiro, e onde os sentidos são o mapa perfeito para determinar a próxima paragem.

M

17 de Janeiro, 2023

O tempo que se demora

Se há uns meses me perguntassem, eu diria que o poder que gostava de ter era o de teletransporte. Achava inútil e desnecessário o tempo que demoramos a chegar a algum lado. Se estamos no sítio A e temos de ir até ao sítio B, porque não nos teletransportarmos até lá? Eu gosto de caminhar nos tempos livres, mas na correria do dia-a-dia esses períodos de deslocação irritam-me.

Recentemente, tenho de admitir que a minha opinião mudou. Agora, gosto do tempo que demoro a chegar ao local onde quero ir.

Em ERASMUS, consigo ir a pé para a faculdade e, para mim, isso é  sinónimo de qualidade de vida - mesmo que demore meia hora, o percurso seja sempre o mesmo e por vezes até feito com temperaturas negativas. Apesar disso, eu adoro essa caminhada porque atravesso um grande jardim, vejo montanhas no horizonte (muitas vezes, cobertas de neve) e compro pão fresco logo pela manhã. Já não tenho pressa para chegar de um sítio ao outro, consigo apreciar genuinamente o tempo que demoro.

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Até em viagens, onde o entusiasmo para chegar ao destino é grande, o tempo que demoro até lá é bonito. Os comboios da Eslovénia andam devagar, é certo, mas passam por campos e prados que provavelmente, de outra forma, não teria a oportunidade de ver.

Em novembro, fui de autocarro para Veneza e gostei tanto do tempo que demorei a chegar. Tive a sorte de estar o céu limpo nesse dia e ver, devagarinho, o sol a pôr-se sobre o Adriático, para depois observar o céu a mudar de cor durante a meia hora seguinte. Nesse dia, pensei em como realmente pode ser tão bonito o tempo que demoramos a chegar a um lugar, mesmo que a pressa seja grande.

  k.jpg

Até sem contemplar a paisagem, podemos valorizar o tempo que demora. O período de deslocação do ponto A para o B pode ser, por vezes, a única altura do dia em que podemos, sem culpa, pôr em pausa as tarefas que nos preenchem o dia-a-dia. Se calhar, devíamos começar a apreciar isso também.

 

Afinal, o tempo que se demora é um bom tempo para se ter.

M

 

 

15 de Janeiro, 2023

Cuidados de Pele e a Manipulação da Mente

Quem me conhece sabe que adoro a minha rotina de cuidados de pele e que a cumpro religiosamente. De manhã é mais curta: com apenas 4 passos hidrato a face e preparo-a para o dia. À noite, como tenho mais tempo, o cuidado duplica. Com 8 etapas, tenho um momento só para mim.

Tudo começou quando eu fui (assumidamente) influenciada pelo Instagram a comprar um sabonete de cara da Nívea e quis provar a mim própria que conseguia criar - e mais do que isso, manter - o hábito de lavar a cara com ele todos os dias. O interesse foi aumentando, e com ele aumentou também a minha coleção de produtos.

A verdade é que já passaram mais de dois anos desde que comprei esse sabonete, e não só continuo a usa-lo (o sabonete nunca mais acaba) como consegui cumpri o meu objetivo inicial. Aperceber-me disso fez-me refletir sobre o poder da nossa mente e como quando realmente queremos muito uma coisa a conseguimos atingir. O verbo chave, aqui, é querer. Apesar de agora genuinamente gostar desse momento e rotina, confesso que inicialmente só o fazia por desafio próprio.

 

Criar hábitos não tem de ser uma tarefa difícil. Uma técnica que pode ajudar é a acumulação de hábitos. Basicamente, se queremos acrescentar um novo hábito na nossa rotina, será mais fácil mantermo-nos consistentes se o acumularmos a outro hábito que já temos estabelecido. Por exemplo, se agora quiser começar o hábito de cuidar do meu cabelo, devo fazê-lo do seguimento da minha rotina de cuidados de pele, um hábito que já tenho definido e, de certo modo, entranhado em mim.

Outra forma de sermos consistentes com um novo hábito é torna-lo atrativo. Por exemplo, se o meu objetivo for beber mais água, comprar uma garrafa de água bonita pode ajudar nessa tarefa. Reconheço que isto pode não resultar para todas as pessoas, porque nem todas valorizam o mesmo, mas admito que comigo funciona.

A dica que é, se calhar, a mais óbvia ficou para o fim: não tentar ganhar 10 hábitos novos do dia para a noite. Isso vai tornar tudo mais difícil, o que acabará por nos desmotivar. Um novo hábito tem de começar por ser uma coisa fácil. Se não estamos habituados a treinar e temos como objetivo ser consistente na prática de exercício físico, não faz sentido começarmos logo com a proposta "esta semana vou treinar 6 dias". Pode ser esse o objetivo final, claro, mas esse hábito será implementado mais facilmente se começarmos por dizer "esta semana vou treinar 3 dias".

Está escrito em todo o lado que demora 21 dias a criar um hábito. Não parece haver uma base científica nessa afirmação, mas mais dia menos dia a verdade é que a repetição e consistência acaba por gravar determinados padrões no nosso cérebro, criando hábitos que repetimos diariamente sem grande dificuldade. 

Ter consciência destes pequenos truques ajudam na criação de hábitos e permite-nos quase que manipular o nosso cérebro. Nesta fase, é também importante um processo de auto-reflexão, de modo a perceber de que maneira é que conseguimos influenciar a nossa mente a agir da maneira que gostaríamos.

Esta manipulação intencional que a nossa mente é capaz de fazer é realmente interessante - por um lado, o nosso cérebro tem consciência do que estamos a fazer mas, ao mesmo tempo, permite que tal hábito se crie.

 

Cuidem da vossa pele, e também dos vossos hábitos ;)

M

 

 

13 de Janeiro, 2023

A Arte Perdida

Em 2023, com telemóveis e computadores que enviam mensagens para o outro lado do mundo numa fração de segundo, já ninguém pensa em enviar postais. Por algum motivo, eu continuo a fazê-lo.

Por um lado, porque criaram em mim esse hábito. Quando era pequena e viajava com os meus pais, mandávamos sempre postais aos avós e tios. Contávamos o que tinhamos feito naquele dia e como estávamos felizes, com atenção para não cometer nenhum erro ortográfico. Escreviámos a morada cuidadosamente, de modo a não falhar nenhum pormenor e nos certificarmos que o postal chegaria. No verso, uma imagem do local que mais nos tinha maravilhado. 

Agora, para além de continuar a enviar postais à minha família, ganhei esse hábito também com as minhas amigas. Trocamos postais dos sítios que visitamos, e alguns chegam mesmo pelo correio e com um texto bonito. 

Há uns anos os telemóveis ainda não conseguiam tirar uma foto e enviá-la acompanhada de um pequeno texto, então os postais tinham um gostinho diferente. Apesar disso, continuo a ter a mesma vontade e cuidado de enviar postais. 

Há algo que me atrai na vulnerabilidade de uma carta escrita à mão. Escolho a fotografia com cautela, porque tem de mostrar o quão incrível é o sítio que visitei, e sempre que coloco o postal dentro do posto de correio sinto um nervosinho na barriga, questionando-me se chegará mesmo ao seu destino.

Nestes últimos meses, em ERASMUS, enviei uma série de postais (e só um é que não chegou à casa que era suposto). Escolhi-os a dedo, para mostrar os meus sítios preferidos deste incrível país e a beleza da cidade. Gosto especialmente de postais com desenhos, porque fotografias todos conseguem ver no Google. Escrevi-os com uma sinceridade que não existe nas mensagens do dia-a-dia e respondi a perguntas que não foram feitas. Demoram muito tempo a chegar, é certo. Mas essa espera é o que torna, também, o processo especial.

           

 

"Mais cartas de amor, por favor."

M

 

 

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